Dia 498 | “Quem alinha discurso é bandido” | 13/05/20

Taí o podcast de ONTEm, com texto de Pedro Daltro e edição de Cristiano Botafgogo:

E você ouve os episódios lá na Central3: [Central3]

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1. O dia seguinte

“Os depoimentos dos ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) à Polícia Federal conflitam com a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que não citou o nome da corporação na reunião ministerial de 22 de abril. Segundo os dois ministros militares, que prestaram depoimento nesta terça, Bolsonaro mencionou o nome da PF ao cobrar relatórios de inteligência. Nesta terça, Bolsonaro declarou em entrevista: “Não existe no vídeo a palavra Polícia Federal, nem superintendência. Não existem essas palavras”.” [Folha]

“De acordo com Ramos, na reunião de 22 de abril, Bolsonaro “se manifestou de forma contundente sobre a qualidade dos relatórios de inteligência produzidos pela Abin, Forças Armadas, Polícia Federal, entre outros”​. Segundo ele, Bolsonaro ainda “acrescentou que, para melhorar a qualidade dos relatórios, na condição de presidente da República, iria interferir em todos os ministérios para obter melhores resultados de cada ministro”. “Vocês precisam estar comigo”, disse Bolsonaro, de acordo com o depoimento do ministro Ramos, a que a Folha teve acesso. A mesma versão de Ramos foi dada por Augusto Heleno. Em seu depoimento, o chefe do GSI disse que Bolsonaro, na reunião, cobrou “de forma generalizada” todos os ministros da área de inteligência, “tendo também reclamado da escassez de informações de inteligência que lhe eram repassadas para subsidiar suas decisões, fazendo decisões específicas sobre sua segurança pessoal, sobre a Abin, sobre a PF e sobre o Ministério da Defesa.”

Com a palavra o vice-presidente:

E esses olhinhos fechados?! Esse biquinho?! Não fode, general! Então quer dizer que o presidente mentiu, vice-presidente?! E de novo esse papo de honra, como se os milcios fossem os últimos brasileiros honrados, veja no post de ontem a dicotomia bizarra entre honra e legalidade que os fardados são capazes de enunciar pra tirar o próprio cu da reta.

“Ramos disse que entendeu que o presidente falava de sua segurança pessoal ao citar a troca de ministro. Ele disse que a referência, neste caso, estaria sendo feita a Heleno, e não a Moro. “Se ele não tivesse satisfeito com a sua segurança pessoal realizada no Rio de Janeiro, ele trocaria inicialmente o chefe de segurança e, não resolvendo, trocaria o ministro, e nesse momento olhou em direção ao ministro Heleno”, disse Ramos, afirmando ainda que Moro estava sentado “em lado oposto” ao chefe do GSI.”

Então quer dizer que Bolsonaro tava puto com o Heleno mas demitiu o Moro e  trocou o diretor da PF e o superintendente do Rio?! Os generais mentiram na cara dura, enfia a honra no cu, Mourão! E o Ramos ainda conseguiu a proeza de retificar seu depoimento justamente na parte mais importante.

“Após o depoimento, Ramos pediu para a PF alterar trechos de suas declarações. Num deles, ele inicialmente havia afirmado que “não” foi falado pelo presidente que se não pudesse trocar o diretor-geral, trocaria o ministro. O ministro, sob protesto da defesa de Moro, pediu para trocar a negativa pela expressão “não se recorda”.”

Que general distraído. As palavras abaixo são presidenciais, na manhã de quarta:

“O Ramos se equivocou. Mas como é reunião, eu tenho o vídeo. O Ramos, se ele falou isso, se equivocou – declarou Bolsonaro.” [O Globo]

E o Ramos, horas depois, disse que Bolsonaro se enganou, viado, me abraça!

“O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse nesta quarta-feira, 13, que o presidente Jair Bolsonaro foi “induzido ao erro” ao apontar “equívoco” em seu depoimento à Polícia Federal. Em entrevista ao Estadão, o ministro reafirmou que o órgão de investigação foi citado na reunião ministerial de 22 de abril, mas em um contexto diferente do que o ex-ministro Sérgio Moro apontou, de que houve cobrança para trocar o comando. O presidente, por sua vez, tem dito que em nenhum momento houve menção à PF durante o encontro. A pergunta induziu ele (Bolsonaro) ao erro. Eu falo de Polícia Federal na hora que ele está reclamando dos relatórios de inteligência da Abin, das Forças Armadas e da Polícia Federal. Está no meu depoimento” [Estadão]

A memória do general voltou a ficar boa, que coisa.

“Nos depoimentos, Ramos e Heleno ressalvam que o presidente queria apenas ter mais informações para aprimorar as ações do governo e não se referia a relatórios de investigações policiais.”

Ora, se Bolsonaro tava puto com o GSI e consequentemente com a ABIN, também responsável pela segurança presidencial, por que diabos ele queria o chegfe da ABIN na PF?

Palavras do Bolsonaro no fim da tarde de segunda, após os depoimentos do generalato:

“Eu não falei o nome dele no vídeo. Não existe a palavra Sergio Moro. Eu cobrei a minha segurança pessoal no Rio de Janeiro. A PF não faz minha segurança pessoal, quem faz é o GSI. Quem trata de segurança? O ministro é o Heleno”

Sim, o capitão tá dizendo que o esporro era para o general e o general confirmou no depoimento! Ora, se o problema era a segurança familiar isso é de responsabilidade do GSI e da ABIN, e ao que me consta Bolsonaro gostou tanto do Ramagen na ABIN que queria lhe dar a PF. Se essa é a defesa… que versão cretina do caralho.

Bolsonaro então é perguntado se pensou em demitir o Heleno:

“Não, não vou entrar em detalhe, tá? Quem faz a minha segurança é ele, quem faz a minha segurança ele. O vídeo está bem claro, a reunião está clara.”

Alô, Mourão, chupa que é de uva!

E lembra que no depoimento Moro disse que em duas ocasiões, na véspera de sua saída, falou com o Ramos, que lhe prometeu retornar nas duas ocasiões e nunca ligou?

“Em depoimento, o titular da Secretaria de Governo confirmou que o ex-ministro da Justiça o procurou após estar com Bolsonaro às vésperas de sua saída do governo. Ele afirmou que chegou a tentar achar uma solução para o impasse sobre a mudança na diretoria-geral da PF e que nunca levou a contraproposta feira por Moro a Bolsonaro.”

Não só ele não retornou a ligação como nem teve culhão de apresentar ao Bolsonaro a proposta do Moro, que sujeito frouxo do caralho! General com medo de capitão expulso do Exército por indisciplina…

“O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu 48 horas para o procurador-geral da República, Augusto Aras, manifestar-se sobre o sigilo do vídeo da reunião em que o presidente Jair Bolsonaro teria ameaçado de demissão o então ministro da Justiça, Sergio Moro.” [Folha]

O mas hilário é que Bolsonaro ontem disse que ele autoriza a divulgação da parte mais sensível do depoimento, como que o Aras vai ligar o maior dos foda-ses e pedir sigilo se o próprio prresidente já autorizou?! Chup,a Aras, chupa que é de uva e dê adeus ao sonho do STF.

O pessoal do STF, é óbvio, não deve comentar vazamento, e a cautela é compreensível, tem que esperar a transcrição completa:

“Diante da gravidade do que foi ventilado, alguns magistrados afirmavam ser melhor ter conhecimento integral da fita antes de tomar posição mais contundente, já que as falas do presidente podem estar sujeitas a várias interpretações. Uma delas, mais generosa, é a de que Bolsonaro estava preocupado com a segurança da família. A outra é de que apenas queria blindar os filhos.” [Folha]

Apenas blindar os filhos“, que frase maravilhosa. O desespero presidencial é daqueles pra ser apreciado em slow motion:

“Jair Bolsonaro enviou nesta segunda-feira (11) um ofício solicitando relatórios de produtividade da Polícia Federal, por estados. O pedido, que saiu do gabinete da Presidência, é inédito. No órgão, a interpretação é que o presidente procura dados para tentar justificar suas investidas contra a PF. Ele é alvo de inquérito do STF, que apura as acusações feitas por Sergio Moro. O depoimento de Alexandre Ramagem, visto como peça de defesa de Bolsonaro, deu sinais de que a linha seria essa. A troca de superintendente na PF do Rio atendeu à vontade de Bolsonaro, fato indiscutível e agora também confirmado por Ramagem. Embora tenha negado que tenha existido pedido expresso, o delegado falou sobre uma suposta preocupação de Bolsonaro com alegada falta de produtividade no Rio.” [Folha]

Calma que melhora, viado!

“Quando demitiu o chefe da PF do Rio pela primeira vez, em agosto do ano passado, o presidente também tentou usar a mesma justificativa. Na ocasião, a superintendência local estava em quarto lugar no ranking. Após cinco meses de gestão interina, passou para 22°. A última medição foi em dezembro.​”

“A avaliação de delegados é que Bolsonaro vai usar o dado para atacar Moro e a gestão fluminense, na tentativa de afastar a acusação de que tem motivos particulares para a troca. Além disso, acreditam que os relatórios também poderão ser utilizados para justificar possíveis pedidos de novas trocas. Nessa linha, pode criar novo problema: Carlos Henrique Oliveira, ainda atual chefe do Rio, foi promovido a número dois da hierarquia da polícia. Na interinidade, o comandante era Tácio Muzzi, que agora foi escolhido para assumir a superintendência.”

Bolsonaro jura que não falou em PF no seu esporro mas o Bruno Boghossian fez um ótimo apanhado:

“Há oito dias, o presidente parou na portaria do Palácio da Alvorada para rebater o depoimento de Sergio Moro sobre o caso. Bolsonaro admitiu que tinha interesse em trocar o chefe do órgão no Rio e justificou: “tentaram colocar na conta” dele e de seus filhos Flávio e Carlos o assassinato de Marielle Franco —e a PF não teria investigado o assunto. O presidente não explicou por que aquele seria um motivo para mexer na superintendência, em vez de esperar a conclusão das apurações. Ele também não quis esclarecer por que havia confrontado Moro com a notícia de uma investigação contra deputados aliados com a mensagem: “mais um motivo para a troca”. Depois que o vídeo da reunião de abril foi exibido aos investigadores, Bolsonaro alegou que só se referiu a sua família para demonstrar preocupação com a segurança dos parentes. É uma versão nova, que não havia aparecido em outras explicações. O presidente lembrou que a interpretação dessas declarações “vai da cabeça de cada um”. O governo só se importa com uma, a de Augusto Aras. Nos últimos dias, o presidente sugeriu a auxiliares que pode indicar o procurador-geral para o STF.” [Folha]

A tática do governo:

“Todo o esforço dos ministros palacianos desde ontem à tarde vai numa só direção: dizer que o vídeo da reunião do dia 22 de abril “não prove nada” ou foi” um tiro na água dado pelo (Sergio) Moro”, nas frases de dois assessores muito próximos de Jair Bolsonaro.” [O Globo]

Se isso é um tiro n’água o azarado Bolsonaro devia tá nadando e foi metralhado. Mas sabe como é, vaso ruim não quebra, eu é que não cravo nada.

A investida inclui desdenhar também do depoimento de Maurício Valeixo, ex-diretor-geral da PF, “que só provou o que o presidente tem dito”, de acordo com a expressão usada por um ministro. E passa ainda por garantir que, nos bastidores, o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, falou com o Palácio do Planalto à noite para informar que “o vídeo é fraco”. Bem-vindos ao mundo da guerra das narrativas — e essa narrativa passou a ser a do governo neste momento de crise.”

Bem, senta daí que eu sento daqui e vamos esperar sentados o Aras negar que ele tenha agido como se fosse da AGU e dito algo ao Palácio.

Mourão já foi logo acenando para o Centrão, os Bolsonaros devem estar enlouquecidos

“Eu não posso te dizer os detalhes. Se é fisiológico ou programático. Nós temos que buscar a melhor coalizão, que é a programática. Lógico que, nisso aí, cargos e emendas fazem parte da negociação entre Executivo e Legislativo. Não adianta querer tapar o sol com a peneira. Acho que está mais ou menos sendo conduzido dessa forma” [O Globo]

Malandro é malandro e mané é mané:

“O vice-presidente contou que o presidente chegou à conclusão de que errou ao não tentar fazer um acordo com os partidos que formam o centrão no ano passado. Mas negou que Bolsonaro tenha decidido negociar com os líderes do grupo para se antecipar a um possível processo de impeachment. O que a turma está dizendo? “Agora, ele está fazendo isso para escapar do impeachment, é para escapar do processo”. Não. Não é dessa forma que ele está vendo. Ele já chegou à conclusão de que ele tem que atrair esses partidos. Tem que ir em cada um desses partidos, principalmente aqueles de centro, independente da conotação pejorativa de centrão, e trazer para o campo da direita, de centro-direita. Uma coalização de centro-direita”

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2. O dia seguinte, parte 2

Gaspari escreveu sobre o “tiro na água“:

“Quando Sergio Moro pôs na roda a questão do vídeo da reunião do conselho de governo de 22 de abril, sabia que havia ali uma bala de prata capaz de provar que Jair Bolsonaro queria trocar o diretor da Polícia Federal para blindar os interesses políticos de sua família. Ele sabia também que a bala continha outro material. Ao chegar ao Planalto, com pompa monarquista, o capitão chamou de conselho de governo aquilo que se conhecia como reunião do ministério. Reunindo-o, ele presidiu uma conversa de botequim, e Moro mostraria isso. A divulgação desse áudio será também um espetáculo de falta de compostura e de asneiras. Outro dia a secretária da Cultura, Regina Duarte, disse que parou de ler os livros de Olavo de Carvalho porque ele usa muitos palavrões. No governo que ela louva, o vocabulário do doutor Olavo é o de um sacristão.

Alguns presidentes respeitavam seus interlocutores. Michel Temer, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney falam como frades. Não se pode dizer o mesmo de Dilma Rousseff e Lula, mas nenhum deles disse palavrão em reunião ministerial. Conhecem-se os áudios das reuniões do Conselho de Segurança Nacional que decidiram baixar o Ato Institucional número 5 (Costa e Silva) e o Pacote de Abril (Ernesto Geisel). Neles não há palavrões. O primitivismo de Bolsonaro vai além do uso de expressões chulas, transborda para a própria maneira como preside uma reunião de ministros e como lida com sua equipe de renomados “técnicos”. Em certa ocasião ele manifestou tamanha curiosidade por detalhes de casos de violência que um dos titulares achou melhor mudar de assunto. O clima de feijoada permite que o chanceler Ernesto Araújo exponha (em bom português) suas teorias lunáticas em relação à China ou que alguém resolva qualificar a genealogia de ministros do Supremo Tribunal Federal.

O vídeo da reunião de 22 de abril é um exemplo da capacidade de autocombustão do governo. Já com Moro fora, Bolsonaro disse que divulgaria seu conteúdo: “Mandei legendar e vou divulgar”. Falou o que lhe veio à cabeça, mas dias depois a Advocacia-Geral da União pediu ao ministro Celso de Mello que reconsiderasse a decisão de pedir a gravação porque na reunião foram tratados “assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado”. Parolagem, pois podia ter pedido para embargar esses trechos. Essa é a prática de governos sérios, mas quem embarga trechos assina embaixo e se responsabiliza pelo ato. Diante da blindagem absurda, a AGU recuou e disse que se contentava em entregar uma versão com trechos embargados. Não deu certo. Sergio Moro e seus advogados não aceitaram o atalho, argumentando que não compete ao governo selecionar provas. Caberá ao ministro Celso de Mello decidir se torna público todo o vídeo ou partes dele. Se Moro quisesse apenas provar que Bolsonaro pressionou-o para trocar o diretor da Polícia Federal, o embargo seria neutro e justificável. Ele também queria mostrar como funciona a muvuca em que se meteu.” [Folha]

Ah, e taí uma resposta do governo que aguardarei com ansiedade:

“A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados enviou requerimento ao ministro da Justiça, André Mendonça, em que pede mais informações sobre ofício elaborado pela Polícia Federal em defesa da indicação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da PF. Amigo dos filhos de Jair Bolsonaro, Ramagem foi o escolhido pelo presidente para o posto, mas a indicação foi barrada pelo ministor STF Alexandre de Moraes. Após consulta da Advocacia Geral da União, a PF enviou um ofício atípico, com elogios a Ramagem. Como revelou o Painel, o documento, do dia 30 de abril, foi elaborado por delegados próximos a Ramagem, que trabalham no setor de Recursos Humanos da instituição.” [Folha]

Essa aí é aquela jogada ensaiada demencial da AGU recorrendo dum troço que não tem mais efeito – pois a a nomeação já havia sido revogada – só para o Ramagen atropelar o atual diretor e inventar uma carta inacreditável do RH da PF ao STF louvando o… Ramagen!

“A resposta, chamada de institucional, foi muito além do que foi perguntado, contestou a decisão do Supremo, e reconheceu a relação entre o policial e a família Bolsonaro, tratando como normal. Delegados em cargos de chefia da PF interpretaram que o movimento foi feito de forma combinada, com a participação de Ramagem nos bastidores, desde o pedido da Advocacia Geral da União, até o documento de dentro do órgão. A PF tinha se recusado durante o período de crise a se manifestar. Em seu requerimento, o PSOL lembra que “pelos princípios que regem a administração pública, inscritos na Constituição de 1988, cabe ao agente público fazer a análise imparcial dos documentos públicos”, e pergunta como foi feita a escolha dos agentes que elaboraram o ofício. Pergunta também se é comum nesses ofício a crítica a decisões do STF e se houve pressão de Bolsonaro, seus filhos ou do próprio Ramagem na elaboração do material.”

Alguém aí viu a Janaína falando em impeachment?! Que coisa, se o presidente não vestir saia e não for do PT ela vai fingir que não é com ela.

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3. Exames

Na reunião Bolsonaro diz que não aceitaria um impeachment por causa da “porcaria dum exame” e ameaçou usar o exército contra o golpe.

“A AGU (Advocacia-Geral da União) entregou os exames do presidente Jair Bolsonaro para coronavírus em mãos no gabinete do ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele tinha sido sorteado como relator de ação em que o jornal O Estado de S. Paulo pedia a suspensão de decisão do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) João Otávio Noronha, que desobrigava o presidente de apresentar exames feitos para detectar se ele já foi infectado pelo novo coronavírus. O jornal alegava que ela tinha interrompido “a livre circulação de ideias e versões dos fatos, bloqueou a fiscalização dos agentes públicos pela imprensa e asfixiou a liberdade informativa” do jornal. A Justiça já deu ganho de causa duas vezes ao jornal, determinando que Bolsonaro mostre o exame: uma na primeira instância, e a segunda no Tribunal Regional Federal da 3ª Região.​ A AGU (Advocacia-Geral da União) recorreu, alegando que o presidente tem direito à privacidade.”” [Folha]

Por que diabos entregaram os exames se tem decisão do STJ a favor do governo?!

“Em nota, a AGU informou que “os laudos confirmam que o presidente testou negativo para a doença” [O Globo]

Minha dúvida é se fraudaram o exame ou se ele fez mais que os dois exames anunciados, e eu juro que escrevi isso antes dessa notícia sair:

“Menos de 24 horas depois de entregar exames de covid-19 ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Advocacia-Geral da União (AGU) retornou nesta quarta-feira (13) ao gabinete do ministro Ricardo Lewandowski para encaminhar um terceiro teste realizado pelo presidente Jair Bolsonaro. O governo resolveu se antecipar a uma decisão do STF e entregou na noite da última terça-feira (12) os exames do novo coronavírus de Bolsonaro. Segundo o Estadão apurou, dois exames do novo coronavírus foram entregues ontem. Hoje, um terceiro teste foi enviado ao gabinete de Lewandowski por volta das 11h da manhã. Os documentos ainda não foram tornados públicos. “ [Estadão]

Ah, Lewandoswki autorizou a publicação dos exames e já vazou que os 3 deram negativo. Seriam eles malucos de fraudar exame ou omitir um quarto exame?! Por que se a idéia era se recusar a divulgar pra depois dar o troco na imprensa o timing já passou faz muito tempo. Essa história não acaba por aqui.

Volta e meia eu cito o Hélio Schwartzman por aqui mas eu discordo dele de forma diametralmente oposta:

“Não penso que Jair Bolsonaro deva ser obrigado pela Justiça a mostrar os resultados de seus testes para a Covid-19. Não tenho aqui a intenção de defender o presidente. Já cheguei à fase em que aplaudo tudo de ruim que acontece a ele. O que merece defesa, creio, é o instituto do sigilo médico, que só pode ser suspenso excepcionalmente e por motivos muito precisos, que não incluem a curiosidade do público. O sigilo médico visa a proteger a vida e a saúde. Ele existe, entre outras razões, para assegurar que ninguém tenha receio de procurar socorro, mesmo que o ferimento ou a doença que o acometem tenha resultado de um crime. Um bom exemplo é o do usuário de drogas ilícitas. Se a polícia tivesse acesso direto aos prontuários médicos, um pedaço não desprezível da população pensaria duas vezes antes de procurar um hospital —o que seria desastroso em termos sanitários.

Quando, então, é certo suspender o sigilo? De um modo geral, penso que o profissional deve estar autorizado a levantar o segredo apenas para prevenir (não para investigar) certos crimes ou danos à saúde de terceiros. Se um psiquiatra tem razões para acreditar que um paciente seu que disse que planeja matar o vizinho está falando sério, aí sim ele deve comunicar o fato às autoridades. De modo análogo, o médico pode alertar a mulher de um paciente de sífilis que se recuse a seguir o tratamento. É disso que estamos falando, de prevenir infecções, dirá o leitor farto de Bolsonaro.” [Folha]

SIIIIIIMMMMMMMM!

“Receio que não. Esse teria sido o caso se a discussão judicial tivesse ocorrido contemporaneamente ao exame. Agora, com bem mais de 14 dias da data do último teste, se ele já teve a doença, não é mais transmissor ativo do vírus. A divulgação do resultado não previne mais nada. Sua justificativa é descobrir se Bolsonaro mentiu ou não. O fato de a sociedade já não acreditar na palavra do presidente da República dá bem a dimensão do buraco em que caímos.”

Ora, se deu positivo ele colocou em risco uma centena de pessoas, se isso não é motivo suficiente pra abrir sigilo médico eu não sei mais de nada.

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4. De Marco Aurélio Mello para Abraham

“Em 41 anos como juiz, já fui muito xingado. Devo ter desagradado a muita gente, nem levo em conta. Ele [Weintraub] é ministro de que mesmo, hein? Da Educação? Então está faltando urbanidade mínima. Para ocupar tal posto, deve-se ter ao menos o nível médio de urbanidade. Não parece ser o caso.” [Folha]

É só isso mesmo.

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5. R$ 600

Palavras do Boslonaro nessa quarta para justificar a confusão para sacar o benefício:

“Tem erro também? Erro do próprio interessado. Não existe falha nossa. Entrou [no sistema], é um programa de inteligência artificial. Daí vai para o canto, é manualmente. O pessoal da Caixa está trabalhando de segunda a sábado porque é caso a caso. Tem sete milhões [de pedidos] em análise. Muita gente que deu golpe, tem gente que usou protocolo do filho duas vezes, dois irmãos, tem um monte de coisa. É caso a caso. Mas ninguém fala dos 40 milhões que receberam.” [Estadão]

Locutor em off: sim, a imprensa dz quantas pessoas já receberam os R$ 600. A culpa é do Bolsonaro e Bolsonaro coloca a culpa em quem quiser e bem entender.

“Não posso mandar pagar porque daí vou ser incurso em algum tipo crime, daí acabou minha vida, não vou nem perder o mandato, vou para a cadeia”

Ué, pagar pedidos de benfício dá impeachment e cadeia, é?!

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6. Ciro e Toffoli

Caralho, o que vai abaixo é absurdo demais:

“Eu não acho que francamente o Bolsonaro tenha dito ao Moro mais do que é razoável um presidente dizer ‘olha eu estou incomodado, esse negócio desse cara da Polícia Federal não está examinando isso, não tá examinando aquilo’. Isso dai, na minha opinião, depõe contra o Moro, porque o cara ser ministro de 1 presidente da República e devassar conversas que o presidente teve em uma relação de confiança com ele não é demonstração de caráter. Ele disse que há lealdades maiores e quem julga essas lealdades? Isso é antigo, isso é funcional. Qualquer país do mundo que valorize decência, ética… veja, as coisas que eu sei do Lula em confiança vão morrer comigo” [Poder360]

Caralho, que papo mafioso do caralho esse de lealdade, vai se foder. Vamos por partes

“Eu não acho que francamente o Bolsonaro tenha dito ao Moro mais do que é razoável um presidente dizer ‘olha eu estou incomodado, esse negócio desse cara da Polícia Federal não está examinando isso, não tá examinando aquilo’.”

Ora, a Polícia Federal tem um troço chamado AUTONOMIA, porra! E se Bolsonaro acha que há algo que não está sendo investigado que ele peça uma investigação à justiça, ligue para o advogado e resolva.

Isso dai, na minha opinião, depõe contra o Moro, porque o cara ser ministro de 1 presidente da República e devassar conversas que o presidente teve em uma relação de confiança com ele não é demonstração de caráter.

Não tô aqui pra defender caráter do Moro, até porque é impossível, mas  o presidente relatar algo criminoso e o ministro não denunciar é PREVARICAÇÂO!

“Ele disse que há lealdades maiores e quem julga essas lealdades?”

Taçvez lealdade à porrada constituição, a única lealdade possível de um homem público?!

“Veja, as coisas que eu sei do Lula em confiança vão morrer comigo”

Ciro tá confessando que prevaricou, admiro essa ingenuidade.

Caralho, essa resposta do Ciro é digna do Toffoli no Roda Viva, viado.

E falando nele, ontem eu escrevi aqui o quão injuriado eu estava por Toffoli ter perdido o protagonismo do dia de ontem, tava quase acabando de editar o dia com Toffoli brilhando no primeiro tópico e saíram os detalhes da reunião,  o que ofuscou sua espantosa entrevista no Roda Viva. E assim que eu me deparei com a chamada da Folha dum artigo do Conrado Hubner Mendes eu abri um sorriso de orelha a orelha:

“Entre a falta de ideia e a má ideia, Toffoli costuma preferir a má ideia. Essa é a marca que ficará de sua gestão histórica na presidência do STF. Histórica porque desprovida de direção e de apego à independência institucional. Ou porque a ausência de vigor moral e intelectual restará como exemplo a nunca ser seguido. São muitas as más ideias de Toffoli. Funcionam tão bem quanto a cloroquina contra o coronavírus ou a camisa de força militar contra os instintos primitivos de Bolsonaro. Gozam de respeito equivalente na comunidade dos pares. No plano das ideias, Toffoli recita desde sua posse um coquetel de palavrinhas mágicas: o STF como “poder moderador”, numa “nova separação de Poderes”, onde prevalece o “diálogo”, dentro de um “pacto republicano”, contra a “excessiva judicialização”. Na prática, Toffoli inventa delegacia de polícia contra fake news num gabinete do tribunal e se atribui poder de cassação de liminar monocrática de colega; hospeda generais em seu gabinete; frequenta bastidores dos poderes político e econômico e lá faz consultoria de constitucionalidade e promessas em nome do tribunal, coisa que foge de sua competência. Tenta cumprir essas promessas oficiosas obstruindo a pauta da corte.

Bom jurista sabe fazer as distinções que importam, separa alho de bugalho e junta lé com cré. Mau jurista se esbalda na eloquência dos conceitos abstratos e fica lá embriagado. Não suja as mãos para conectar aquelas abstrações às nuances dos casos reais. Para o mau jurista, “tudo está achado, formulado, rotulado, encaixotado”. Assim Machado de Assis retratou o medalhão. Toffoli é deste tipo e compensa o vácuo pelo gogó. Para ele, não há diferença entre o Porta dos Fundos fazer sátira e o governo celebrar golpe militar, tortura e torturador. Tudo cabe na caixinha indistinta da liberdade de expressão. Tirou da cartola a liberdade de expressão do Estado, que seria igual a do indivíduo. Na sua sensibilidade libertária, dá na mesma, Estado e indivíduo são livres para falar. “Vambora pra frente, sempre houve tortura, por que olhar pra trás”, disse-lhe Regina no ouvido. Toffoli também aprendeu que liberdade de expressão “tem limites”. Por isso abriu inquérito extravagante, indicou sem sorteio colega de tribunal para delegado e disse que fake news é abuso. Concordamos, um abuso. Mas se quiser saber como se define fake news e o papel judicial a respeito, melhor não perguntar para ele.

Segundo Toffoli, juiz deve negociar. Negocia constitucionalidade e até mesmo a história. Se for para acalmar generais, vale dizer que em 1964 houve um “movimento”, não golpe ou revolução. Entre dois extremos, acha um meio-termo. Eureka! E se bobear, vai citar Aristóteles para justificar a busca do meio como virtude. Salpicar lugares comuns sobre Aristóteles no meio das frases (ou Hannah Arendt, ou Lévi-Strauss, ou qualquer nome do abecedário do pensamento, tanto faz) é a marca do bacharel. O STF não é poder moderador, instituição que existia na Constituição do Império. Nem na aparência. É uma casa de deliberação constitucional onde se deve tecer jurisprudência para solucionar casos de hoje e de amanhã em coerência com casos de ontem. Mas o ônus da coerência jurídica é para os fracos, Toffoli deve pensar. “Poder moderador” é uma analogia anacrônica e conceitualmente imprópria da imaginação jurídica brasileira. É condescendente com a subjugação do direito constitucional. Toffoli se apropriou dela para se livrar do peso de respeitar a Constituição. Para se respeitar a Constituição, não basta mencionar a Constituição. A analogia é também irônica, dada a irreparável vocação tensionadora do STF.” [Folha]

O final é maravilhoso:

“Do STF deve brotar juízo jurídico ponderado e corajoso, não acordos de pacificação entre as partes. Para isso, melhor chamar o Celso Russomanno. Ou o centrão, com quem a magistocracia tem tanta afinidade de princípio e de espírito.”

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7. Covid-17

Osmar Terra vem aí, viado!

“A palavra “isolamento” não é apenas um termo técnico usado em tempos de novo coronavírus no Ministério da Saúde. Nos últimos dias, a palavra tem sido utilizada para descrever a situação do recém-chegado ministro Nelson Teich. Escolhido há menos de um mês para substituir Luiz Henrique Mandetta, após um ruidoso processo de fritura, agora é ele quem experimenta essa sensação em três frentes: dentro do ministério, no universo político e junto à opinião pública. Apesar disso, uma troca no comando da pasta, dizem integrantes do governo, ainda não é cogitada.” [O Globo]

Lição número 1 para conquistar a equipe:

“Dentro do ministério, o isolamento de Teich começou logo após sua chegada. Desde que assumiu, exonerou mais de uma dezenas de pessoas da antiga equipe, inclusive funcionários de carreira, e nomeou pelo menos sete militares, entre eles o seu “número dois”, o general Eduardo Pazzuelo. Ao contrário do antecessor, que em sua saída mostrou ter certo apoio do corpo técnico da pasta, Teich ainda desperta desconfiança. Fontes ouvidas pelo GLOBO dizem que a chegada dos militares alterou o fluxo do processo decisório, tirando autonomia que as secretarias do órgão tinham. Ex-funcionários dizem ter havido uma debandada de técnicos e que os novos indicados não têm experiência na área.

O atrito com representantes estaduais e municipais de Saúde ficou ainda mais evidente no fim de semana. A visão que circula entre os secretários estaduais é que Teich é uma “decepção geral”. Segundo relatos feitos ao GLOBO, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) disseram a Teich que não aprovaram a diretriz sobre relaxamento do distanciamento social lançada na segunda-feira. A avaliação é a de que, no momento em que a curva da Covid-19 está ascendente, não dá para discutir o relaxamento das regras de restrição de circulação — mesmo que a situação não seja a mesma em todo o território nacional. A mensagem, defendem, tem de ser única até que a situação esteja mais controlável. — Não é uma divergência técnica, é de oportunidade. Ajuda a sociedade brasileira lançarmos essa matriz neste momento? Passa uma mensagem absolutamente contraditória — disse o presidente do Conass, Alberto Beltrame.”

Ajuda o Boslonaro, né?

“Apesar do quadro, uma queda de Teich ainda está fora do horizonte, segundo integrantes do governo. Eles dizem que Bolsonaro confia no ministro e afirmam que o presidente não esperava que, em um mês, ele operasse “milagres”.”

Sim, plena pandemia e não é possível cobrar o ministro da Saúde…

“A avaliação continua sendo a de que a saída de Mandetta era necessária para distensionar a crise entre o Palácio do Planalto e o ministério e que, até agora, a empreitada tem sido desempenhada com sucesso. O estilo low profile de Teich, dizem, contribuiu para baixar a temperatura. A surpresa demonstrada pelo ministro ao saber que um decreto do presidente incluiu academias e salões de beleza entre serviços essenciais foi avaliada pelo governo apenas como uma falha de comunicação. Bolsonaro chegou a dizer ontem que não precisava falar com o ministro sobre o tema. Mais tarde, ao chegar ao Palácio da Alvorada, o presidente afirmou que faltou apenas ter avisado Teich e que o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, admitiu esta falha.”

Essa porra de decreto é inacreditável: 12 mil mortos, sistemas de saúde colapsando e fazer unha virou atividade essencial!

“Ao ser pego de surpresa pelo decreto de Jair Bolsonaro que inclui academias esportivas, barbearias e salões de beleza na lista de serviços essenciais durante a pandemia do novo coronavírus, o ministro Nelson Teich (Saúde) disse que o tema não é atribuição de sua pasta. “Isso aí é uma decisão do presidente”, afirmou. No entanto, apenas a primeira lista de serviços essenciais anunciada por Bolsonaro em 20 de março passou pelo crivo do Ministério da Saúde, à época comandado por Luiz Henrique Mandetta. Essa lista continha serviços bancários e postais, transporte por táxi e por veículos de aplicativos, entre outros. Depois da primeira lista vieram outras quatro, cada uma acrescentando mais serviços entre os essenciais. Elas também não passaram pelo Ministério da Saúde. A decisão tomada sem o aval de Teich acontece em um momento em que o ministro é alvo de críticas por ser supostamente tutelado em suas ações. Ele é constantemente acompanhado por membros da Secretaria de Comunicação de Bolsonaro e tem como número 2 o militar Eduardo Pazuello. Além disso, diversos funcionários do Ministério da Saúde foram recentemente trocados por militares.” [Folha]

Bolsonaro soltou um decreto sem ter normas para que esses estabelecimentos funcionem e mandou um singelo “Está escrito lá: seguindo norma do Ministério da Saúde. Se não tem norma, faz“. Ora, como teria normas se o ministro da Saúde nem sabia desse decreto? Bolsonaro justificou com um “[Se] A cada momento que aparecesse uma profissão fosse ligar para o ministro, não ia trabalhar”. Um jornalista insistiu para saber quais critérios norteaream o decreto e recebeu de volta um “Chega de pergunta”.

A demência é ampla, geral e irrestrita.

Palavras do Luiz Urquiza, o arrombado que é sócio da BodyTech:

“Reabrimos duas unidades em SC com rigorosos protocolos. A pessoa está mais exposta na rua do que na academia” [Folha]

É por isso que as pessoas têm que ficar em casa, seu filho da puta!

Tá com raiva? Tenha sua calma, afobado:

“A falta de coordenação de estados e municípios em buscar UTIs privadas para pacientes com coronavírus está levando hospitais particulares a procurar alternativas para se proteger contra a requisição desordenada de seus leitos e de judicialização na área, considerada inevitável.” [Folha]

Olha a quem eles recorreram:

“Na terça (12) em videoconferência no Rio, representantes de hospitais privados questionaram o juiz Vitor Moreira Lima, do Tribunal de Justiça do Rio e especializado em direto médico, sobre se deveriam tentar obter um mandado de segurança contra requisições que não atendessem determinados critérios. A reposta do juiz foi positiva.”

Que porra é essa? Essa consulta não deveria ser feita aos advogados dos empresários? Espero que o magistrado tenha cobrado gordos honorários.

“Segundo Moreira Lima, os hospitais devem se amparar em resolução divulgada na sexta (8) pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que lista parâmetros a serem seguidos para a requisição dos leitos. Entre eles, que se esgotem todas as possibilidade de uso de leitos na rede pública, mesmo dos que estejam desativados e possam ser recuperados.”

Como tem milhares de leitos públicos fechados país afora, ligue a porra dos pontos. A Alemanha, da comunista Merkel, UNIFICOU a porra dos sistemas privado e público, apenas isso.

“O juiz previu ainda que poderá haver judicialização provocada por clientes dos planos de saúde que se sentirem lesados pelo fato de o SUS usar leitos que poderiam atendê-los. Segundo ele, a “incompetência do estado” acabaria prejudicando quem paga um plano de saúde.”

Os mesmos planos de saúde que devem 1,6 bilhão ao SUS – esse cifra é a mais recente que encontrei, de dezembro de 2019.

Nem os aliados compram a loucura presidencial:

“Jair Bolsonaro está decepcionado com Ibaneis Rocha. Uma das razões foi o adiamento da reabertura das escolas. Inicialmente, a ideia proposta por Bolsonaro era reabrir os colégios militares da capital do país. Com o avanço do novo coronavírus em Brasília, o governador decidiu adiar a medida para agosto. A decepção aumentou depois que Ibaneis Rocha decidiu que não liberaria o funcionamento de academias, barbearias e salões de beleza, a despeito do decreto de Bolsonaro que considerou essenciais as atividades exercidas nesses locais. Hoje, a Secretaria de Saúde do DF foi informada pela área de logística do Ministério da Saúde que não serão mais liberados os 300 mil testes prometidos pelo governo federal, sem apresentar justificativa. A cúpula da Saúde de Brasília recebeu a notícia como uma “resposta” de Bolsonaro.” [Não lincamos Antagonista]

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8. Make Brazil Great Again

Do Nelson de Sá:

“Ao destacar o avanço da pandemia na América Latina (abaixo), o New York Times enfatizou que o Brasil tem “uma das maiores quantidades de mortos do mundo, mas o presidente continua a dar de ombros para a responsabilidade”, citando a frase célebre: “So what?”. Outro enunciado de terça, em despacho da Reuters reproduzido também no NYT, foi “Bolsonaro diz que não está preocupado com investigações”. Isso quando a notícia já se tornava, também via NYT, “Em vídeo, Bolsonaro menciona razões de família para trocar chefe da polícia no Rio”.

A Bloomberg disparou o alarme para o mercado financeiro na reportagem “Uma casa em chamas: Alertas sobre o Brasil pioram com crise”, listando dos confrontos com governadores à nova queda em pesquisa —e os relatos sobre o vídeo da reunião. Ressaltou “um dos veredictos mais severos”, divulgado pela Gavekal Research, de Hong Kong, que vê o país “em chamas” e aconselha: “No momento, é melhor deixar o Brasil para os especialistas, os loucos, os oportunistas de longo prazo e aqueles que não têm opção.”

“Multiplicam-se os desafios no Brasil e fãs de Bolsonaro conclamam à tomada militar”, destacou chamada na home page do Washington Post, com foto de cartaz com os dizeres “Queremos as Forças Armadas no poder” (acima). Segundo a reportagem, “o espectro das Forças Armadas é maior na vida pública do que em qualquer outro momento desde a queda da ditadura militar em 1985”.

A Jewish Telegraphic Agency, por Times of Israel e outros, noticiou a nova controvérsia no Brasil, agora envolvendo slogan que remete a Auschwitz. Reproduziu declarações à BBC do “líder espiritual da maior congregação da América Latina”, Michel Schlesinger, sobre as diversas “referências do atual governo ao regime nazista”.” [Folha]

E esses dementes dizendo que o Brasil votou a ser respeitado lá fora, então tá. Dia desses saíram umas charges gringas do Bolsonaro e eu gostei dessa aqui, nem me pergunte onde saiu porque não faço a menor idéia:

chargeee

Passo ao Rubes Ricúpero:

“Infelizmente, creio que, a esta altura, parece cada vez mais claro que o Brasil se encaminha celeremente para se tornar o epicentro mundial da pandemia. Epicentro no sentido de país onde o crescimento da curva de aumento de casos, de mortes e colapso do sistema hospitalar será de longe o mais grave, em comparação aos demais países. Veja bem, digo isso não por ‘achismo’: é a conclusão dos vários cálculos de universidades, da Fiocruz, das projeções estatísticas. À medida que a situação aqui se agrave, parece forte a possibilidade de que outros países adotem medidas de quarentena contra o Brasil. [Veja]

Sobre o afastamento presidencial:

“Refiro-me, é claro, ao afastamento dentro da Constituição e das leis. Motivos já há de sobra. Se isso não acontecer, o país vai sofrer cada vez mais até que a dimensão esmagadora do sofrimento torne inevitável o que hoje parece difícil”

É inacreditável que alguém ache que o Brasil estará melhor com Boslonaro…

“Nos EUA, a curva começa a mostrar tendência declinante, assim como já sucedeu na Itália, Espanha, Europa em geral e, antes, na China e na Ásia. A África surpreendeu positivamente, diz Ricupero, tendo desempenho bem melhor do que se esperava. A Argentina adotou de saída o lockdown (bloqueio total) e até agora tem um número de casos e de mortes que não chega a dez por cento do número de São Paulo, estado mais ou menos com a mesma população. Coisas mais dramáticas como a proibição de voos ou de ingresso de brasileiros em países estrangeiros poderão ou não ocorrer dependendo do comportamento da pandemia no país. Pode ser até que a tragédia da Covid-19 desperte a comiseração mesclada ao desprezo, do mundo exterior”

Sobre o Ernesto nos 75 anos da ONU:

“Ainda [na semana passada], no aniversário da ONU, de 75 anos sem nova guerra mundial, sem uso de bomba atômica, o ‘antiministro’ das Relações Exteriores fez um discurso contra tudo o que a ONU representa, a começar pela ideia de multilateralismo, que associou de forma absurda ao comunismo e ao nazismo. Um governo que se comporta dessa maneira se autoexclui da participação na vida internacional.Os exemplos recentes são muitos. Duas semanas atrás, quando o México propôs uma moção para reforçar a OMS, por exemplo, o Brasil preferiu obedecer as instruções dos EUA e ficou contra. O Brasil não participou de nenhuma das iniciativas recentes tomadas no âmbito da OMS: a reunião de Chefes de Estado pela internet patrocinada pelo presidente da França, Emanuel Macron, ou a proposta da União Europeia de reunir mais de sete bilhões de Euros para desenvolver uma vacina. Isso se aplica à OCDE, cuja sede é em Paris e na qual o governo francês exerce enorme influência. O comportamento do governo Bolsonaro já despertou reações públicas de ceticismo sobre a possibilidade de aceitação do país em razão da recente demissão de Moro e do diretor da PF, e do que isso indica em relação ao combate à corrupção. Veja o caso da China. Você leu que a famosa reunião do governo citada por Moro começou com palavrões de Bolsonaro e do Ministro da ‘Deseducação’ nacional contra os chineses. Acha que a embaixada chinesa aqui não sabe disso, não relata a seu país? E que, diante disso, o governo chinês ergueria um dedo para convencer suas empresas a venderem respiradores ao Brasil?”

Que desgraça!

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9. Vai, Alcolumbre!

Nunca te critiquei!

“Os petardos mais temidos pelo sistema bancário nacional estão prontos para sair das gavetas de Davi Alcolumbre. O Senado deve votar entre hoje e a semana que vem projetos que, direta e indiretamente, miram nos lucros dos bancos. Um deles proíbe temporariamente a inscrição de inadimplentes no Serasa e no SPC, outro tabela juros de cartões de crédito e cheque especial, e o terceiro suspende pagamentos de empréstimos consignados. Há três semanas o presidente da Febraban, Isaac Sidney, tentar falar com Alcolumbre, que ignora solenemente todas as tentativas de contato.” [O Globo]

Se eu fosse o Alcolumbre eu atendia só pra ter o prazer de desligar na cara.

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10. O tamanho do buraco

“Trabalho coordenado pelo economista Marcos Lisboa, presidente do Insper e colunista da Folha, estima que a despesa extraordinária com a pandemia de coronavírus pode superar R$ 900 bilhões. Com isso, o déficit nas contas públicas irá a R$ 1,2 trilhão em 2020, cerca de dez vezes o projetado no início do ano. Atingido esse valor, a dívida bruta do governo vai superar 100% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano e deverá levar pelo menos uma década para ficar novamente abaixo desse patamar, com grandes chances de não retornar ao nível anterior à crise, de 76%.

De acordo com o estudo “Impacto Fiscal da Pandemia: Andando sobre Gelo Fino”, feito em conjunto com os economistas Marcelo Gazzano, Vinícius Botelho e Marcos Mendes, este último também colunista da Folha, antes da pandemia estava previsto um rombo de R$ 115 bilhões nas contas públicas. Considerando as medidas já anunciadas pelo governo, o valor ficará em R$ 712 bilhões. O déficit pode chegar à marca de R$ 1,2 trilhão diante da hipótese, cada vez mais provável, de que seja necessário estender algumas medidas.” [Folha]

E lembre-se que essa política suicida em relação à pandemia elevará o custo que já seria gigantesco.

“Os quatro pesquisadores traçaram diversos cenários para a dívida bruta. O mais otimista prevê que o PIB brasileiro recue 5% neste ano e cresça, na média, 3% ao ano a partir de 2021, com os juros reais da dívida caindo para 2% ao ano. Atualmente, estão em 4,5%. Nessa hipótese, a dívida só cairia para menos de 100% do PIB por volta de 2030. O cenário mais realista parte da mesma queda de PIB, de um crescimento de 3% nos próximos dois anos e de 2% a partir de 2023, com juros da dívida de 4%. Nesse caso, a dívida vai a mais de 120% e apenas se estabiliza nesse patamar ao fim da próxima década, sem perspectiva de queda. Lisboa afirma que o estudo incorporou outras hipóteses otimistas, como a devolução total até 2024 dos empréstimos do BNDES para o Tesouro Nacional, o crescimento da despesa limitado à inflação até 2026, quando expira a regra de teto de gastos aprovada no governo Michel Temer, e também um aumento significativo do PIB diante do fim do bônus demográfico. “Sem preservar o teto de gastos, a relação dívida/PIB sai de controle, a não ser que mais nenhuma medida seja implementada neste ano. Se o teto não for renovado em 2026, também deve sair de controle, a não ser no cenário mais otimista, com queda expressiva da taxa real de juros implícita da dívida e aumento significativo do PIB potencial”, afirma Lisboa.

Se a economia apenas retomar o crescimento observado antes da crise, cerca de 1% ao ano, a relação entre a dívida e o PIB inicia uma trajetória de aumento ininterrupto em todos os cenários traçados pelo grupo. Se os juros da dívida ficarem no patamar atual, a dívida também não volta a cair. “Mesmo com hipóteses muito otimistas sobre a recuperação da economia brasileira, a chance de descontrole da dívida é muito alta. Na medida em que vai caindo o crescimento esperado, esses cenários vão se agravando. E, com uma trajetória de dívida dessas, é muito difícil o juro real ficar nesse nível.” Lisboa afirma que um cenário de crescimento de 3% por mais de uma década é extremamente otimista, pois, nos próximos dez anos, com o fim do bônus demográfico, o total da população em idade de trabalhar vai se estabilizar.”

E o governo se deu conta que 3 meses de benefício era uma piada de mau gosto, embora eu até entenda não deixar isso claro logo de cara sabendo que seria por mais tempo, o que claramente não era o caso desses dementes, vide o Guedes jurando que aniquilaria o Corona com “3, 4, 5 bilhões”:

“Integrantes da equipe econômica já admitem, nos bastidores, que o governo pode ser obrigado a prorrogar o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais para além dos três meses inicialmente previstos. Depois de o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, admitir esta semana que medidas como essa poderiam ter “vindo para ficar”, o Ministério da Economia divulgou nota na terça-feira negando essa possibilidade. Fontes do governo, contudo, reconhecem que a pasta está sendo pressionada a estender o benefício e até a torná-lo permanente. Para a prorrogação por um ou dois meses do auxílio, prevista inicialmente, a justificativa é que há um elevado grau de incerteza sobre o momento em que a atividade econômica voltará à normalidade. Cada mês a mais de pagamento de auxílio custaria cerca de R$ 40 bilhões para os cofres públicos. Os técnicos ressaltam, porém, que ainda não é o melhor momento de falar publicamente sobre a hipótese de estender o benefício, e muito menos de abrir as discussões sobre mantê-lo após a pandemia. Mas já há debates internos sobre a possibilidade de tornar o auxílio permanente, de acordo com duas fontes que acompanham o assunto.” [O Globo]

E repare na ironia:

“Projetado em R$ 98 bilhões, o gasto com a concessão do auxílio emergencial já chegou a R$ 123 bilhões e deve crescer mais. Até o momento, 50 milhões de pessoas já foram atendidas, e esse universo deve aumentar, porque os cadastros para requerer o benefício continuam subindo. — O grande problema é que não temos nenhum horizonte sobre o retorno da economia à normalidade, e pode até ser que a transferência de renda à população tenha que ser prorrogada — disse um auxiliar do ministro da Economia, Paulo Guedes.”

Talvez não tenhamos horizonte por conta da demência dum certo governo, né?

“Também faz parte dos estudos internos do governo a possibilidade de criação de uma renda básica para depois do auge da pandemia, mas isso não é consenso no Ministério da Economia. O valor do benefício poderia ser inferior aos R$ 600 pagos hoje como auxílio emergencial. Segundo fontes da equipe do ministro Paulo Guedes, uma das ideias sobre a mesa é ampliar o Bolsa Família e ao menos dobrar a quantidade de beneficiários. Hoje, o programa custa pouco mais de R$ 30 bilhões por ano ao governo. O mesmo valor seria necessário para colocar a ideia em prática. Como se trata de uma despesa permanente, é preciso encontrar fonte de receita para fazer a medida caber no Orçamento. Técnicos avaliam que a crise deixada pelo novo coronavírus deve se estender por mais um ou dois anos, provocando um aumento do desemprego e reduzindo a renda dos trabalhadores informais.”

A moral da história é a vingança do Suplicy

Esse texto do Paul Krugman sobre a economia americana é assustadora:

“Na semana passada, o Escritório de Estatísticas do Trabalho confirmou oficialmente o que já sabíamos: com alguns meses da crise da Covid-19, os Estados Unidos já têm um nível de desemprego de Grande Depressão. Mas isso não equivale a dizer que estamos numa depressão. Só saberemos se é verdade quando virmos se o desemprego extremamente alto dura muito tempo, digamos, um ano ou mais. Infelizmente, o governo Trump e seus aliados estão fazendo o possível para tornar mais provável uma depressão em grande escala. Antes que eu chegue lá, uma palavra sobre esse relatório de desemprego. Veja que eu não disse “o pior desemprego desde a Grande Depressão”; eu disse “um nível de Grande Depressão”, frase muito mais forte.

Para entender por que eu disse isso, você precisa ler o relatório, não apenas ver os números do título. Um índice de desemprego de 14,7% é bastante horrível, mas o escritório incluiu uma nota indicando que problemas técnicos provavelmente fizeram esse número subestimar o desemprego real em quase 5 pontos percentuais. Se isso for verdade, atualmente temos um índice de desemprego de aproximadamente 20%, o que seria pior que em todos menos os dois piores anos da Grande Depressão. A questão agora é com que rapidez conseguiremos nos recuperar. Se pudéssemos controlar o coronavírus, a recuperação poderia ser realmente muito rápida. É verdade, a recuperação da crise financeira de 2008 levou muito tempo, mas isso teve muito a ver com problemas que se acumularam durante a bolha habitacional, notadamente um nível sem precedentes de dívida familiar. Não parece haver problemas comparáveis hoje.

Mas controlar o vírus não significa “achatar a curva”, o que, aliás, já fizemos –conseguimos desacelerar a disseminação da Covid-19 o suficiente para nossos hospitais não estarem superlotados. Significa esmagar a curva: reduzir muito o número de americanos infectados, depois manter um alto nível de testagem para localizar novos casos, juntamente com o rastreamento de contatos para podermos pôr em quarentena os que podem ter sido expostos. Para chegar a esse ponto, porém, precisaríamos primeiro manter um regime rigoroso de distanciamento social durante o tempo necessário para reduzir as novas infecções a um nível baixo. Então teríamos de agir para proteger todos os americanos com o tipo de teste e o rastreamento já disponíveis para as pessoas que trabalham diretamente para Donald Trump, e quase ninguém mais. Esmagar a curva não é fácil, mas é muito possível. Na verdade, muitos outros países, da Coreia do Sul à Nova Zelândia e, acredite ou não, a Grécia já o fizeram.” [Folha]

A Grécia, porra!

Entram em cena os dois republicanos mais vis:

“Ao mesmo tempo, o governo e seus aliados parecem estar decididos a não dar a ajuda financeira que nos permitiria manter o distanciamento social sem dificuldades financeiras extremas. Prorrogar os benefícios aos desempregados, que vão expirar em 31 de julho? “Só sobre nossos cadáveres”, disse o senador Lindsey Graham. Ajudar os governos estaduais e locais, que já demitiram um milhão de trabalhadores? Isso seria uma “fiança de estado democrata”, segundo Mitch McConnell. E, como diz Andy Slavitt, que dirigiu o Medicare e o Medicaid no governo Barack Obama, Trump é um desistente. Diante da necessidade de realmente fazer seu trabalho e o que é necessário para esmagar a pandemia, ele simplesmente desistiu. E essa fuga da responsabilidade não apenas matará milhares de pessoas. Também poderá transformar a crise da Covid em uma depressão. Veja como funciona: nas próximas semanas, muitos estados republicanos abandonam as políticas de distanciamento social, enquanto muitos indivíduos, ouvindo as dicas de Trump e da Fox News, começam a se comportar de modo irresponsável. Isso causa, em curto prazo, um certo aumento do emprego. Mas em breve fica claro que a Covid-19 está numa espiral descontrolada. As pessoas voltam para suas casas, não se importando com o que dizem Trump e os governadores republicanos.”

Aqui vai ser a mesma merda.

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11. A Fascistinha do Brasil

Do Marcelo Coelho:

“A questão, que me causa tanto pena quanto repulsa, vai além do conteúdo lamentável de suas declarações. A entrevista sugere a presença de um distúrbio de personalidade —ou, se quisermos, um distúrbio de falta de personalidade. Acho que isso acontece com algumas pessoas famosas. Penso em Marilyn Monroe, talvez Madonna, não sei se Pelé. São casos em que uma imagem pública é tão forte, e tão invariável, que o indivíduo já não sabe mais quem é realmente. Sou do tempo em que Regina Duarte era a “namoradinha do Brasil”. Esse tempo passou, é claro. Mas ela não se desvencilhou da própria imagem.

O momento do “chilique” talvez seja o mais suportável. O que vem antes me incomoda mais. São os momentos de doçura; a cabecinha que se inclina para o lado; os suspirozinhos de sinceridade; os sorrisos de puro amor. É um negócio enjoativo e aterrorizante ao mesmo tempo. Uma das primeiras perguntas foi sobre as desavenças de Regina com um olavista do governo. Ela faz uma cara de incompreensão, de dúvida, um pouco como se acordasse de um pesadelo e perguntasse “onde estou?”. Que farsa. Ela olha para algum lugar vazio nas primeiras filas da plateia, fingindo incredulidade. As coisas são tão distorcidas, diz, que ela já “nem sabe” se o fulano é seu inimigo. Tudo se perde numa fumaça de incompreensão. É o papel da menininha, pega no meio de alguma fofoca. Nossa, gente… juuuro que eu não sei do que vocês estão falando…

E sobre Olavo de Carvalho, o que Regina tem a dizer? Leu dois livros dele. Respeita-o. Mas, quando foi ler o terceiro, ai, geeente… Tinha muito palavrão. Muito “nome feio”. “Não gosto”. Ah, não gosto mesmo. Fico de mal. “Nome feio”: a terminologia, mais uma vez, é a da aluninha de escola. Regina Duarte se infantiliza quase que por automatismo. Na dúvida, diante de qualquer ameaça, sua saída é piscar os olhinhos e mostrar que criança adorável ela é. Ela insiste na regressividade, na má-fé, na clássica aposta noveleira —o público é burro e gosta da gente. A cartada do Amor e da Verdade Pessoal aparece nas perguntas mais difíceis. Por que a Secretaria da Cultura não manifestou pesar diante da morte de Aldir Blanc, Moraes Moreira, Flávio Migliaccio? Regina diz que preferiu escrever para as famílias. “Diretamente”, orgulha-se. Tudo fica “pessoal”. Antes de ser alguém com um cargo no governo, ela é “a Regina”, essa moça simples e adorável que todos conhecem.

Na hora do “chilique”, quando Maitê Proença aparece numa gravação cobrando medidas do governo, Regina diz que a colega deveria ter ligado, falado com ela pessoalmente. É como se a política, o Estado, o cargo público não existissem. Da carta de pêsames ao problema dos artistas na miséria, tudo se resolveria pela intimidade melosa do contato pessoal. Estamos na esfera da telenovela, evidentemente: o mundo privado das birras, dos beijos, dos beicinhos e reconciliações se transfere obscenamente ao público. A Regina secretária é a mesma Regina que nós amamos, que é a Regina das novelas; e a própria Regina já não sabe mais quem é.

Vem então a pergunta sobre os mortos e os torturados da ditadura. Ela não vai se preocupar, por várias razões. Uma é “filosófica”: morte e vida sempre andam lado a lado. Outra é “histórica”: Hitler e Stálin mataram e torturaram. Seria bom perguntar se ela participaria de um governo de admiradores de Hitler. A terceira razão é clássica: “Não vamos olhar para trás”. Eis a Regina que afirma a vida, a alegria e o amor. Para insistir no ponto, e numa espécie de sedução desesperada com o repórter, ela começa a cantar a marchinha do “Pra frente, Brasil, salve a seleção”. Sorri: “Não era bom quando a gente cantava isso?”. Puxa, pensei, mas ela justamente dizia que não queria olhar para o retrovisor… Deu uma vasta trombada, é claro. Ela quer recuperar, doidamente, a época em que “Regina Duarte” era uma unanimidade nacional. Vive num delírio de ternura falsa e indiferença bruta, de sedução e batatada, de beijinho e choque elétrico, sem nem saber de fato quem é. Não quer saber; não aguentaria se soubesse.” [Folha]

Que texto!

E enquanto a Fascistinha do Brasil finge estar numa novela…

“Com um atraso de mais de três anos na liberação de verbas do Fundo Setorial do Audiovisual, um dos principais fomentadores do cinema nacional, o governo Bolsonaro pode quebrar a estrutura de uma indústria que ganhava força desde os anos 1990. Desmonte na Ancine. Representantes do audiovisual brasileiro preveem um colapso do setor no médio prazo, uma vez que a Ancine não faz a totalidade da liberação de verbas do Fundo Setorial do Audiovisual desde 2018. O órgão foi criticado por Bolsonaro no ano passado. Ele chegou a dizer que se não pudesse haver filtros em conteúdos patrocinados pela instituição, o governo extinguiria a Agência Nacional do Cinema. Existem três travas paralisando o escoamento de recursos destinados ao audiovisual que podem somar mais de R$ 2,1 bilhões, relativos não só ao exercícios dos anos do governo Bolsonaro.

A inação do governo provoca-se inclusive uma crise generalizada nas empresas que gerem as salas de cinema do país e que ainda não viram a cor dos recursos que a Ancine prometeu, há um mês, para socorrê-las do esvaziamento provocado pela crise causada pelo novo coronavírus. Entidades de defesa do audiovisual dizem que, não bastasse o atraso na liberação de cerca de R$ 725 milhões do FSA relativos ao ano passado e de cerca R$ 325 milhões já aprovados para este ano, ainda há um passivo de mais de R$ 1 bilhão herdado pelo governo com recursos represados desde 2016 e que já deveriam ter sido liberados, uma vez que os projetos que receberiam esses recursos já foram selecionados em editais.

A inação do governo provoca-se inclusive uma crise generalizada nas empresas que gerem as salas de cinema do país e que ainda não viram a cor dos recursos que a Ancine prometeu, há um mês, para socorrê-las do esvaziamento provocado pela crise causada pelo novo coronavírus. Entidades de defesa do audiovisual dizem que, não bastasse o atraso na liberação de cerca de R$ 725 milhões do FSA relativos ao ano passado e de cerca R$ 325 milhões já aprovados para este ano, ainda há um passivo de mais de R$ 1 bilhão herdado pelo governo com recursos represados desde 2016 e que já deveriam ter sido liberados, uma vez que os projetos que receberiam esses recursos já foram selecionados em editais.” [Folha]

Repare na lucura:

“Outra trava que se impunha diante dessa situação é que a transposição da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania para a do Turismo foi incompleta. Parte do corpo da equipe administrada por Regina permanece na Cidadania.”

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12. Um Trump Muito Louco

Trump  e os republicanos entraram numa de condenar o Obama por traição, que lisergia maravilhosa:

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>>>> O mais verme dos vermes: “Sérgio Camargo, escolhido por Jair Bolsonaro para o cargo de presidente da Fundação Palmares, escolheu o 13 de maio para prestar homenagem à princesa Isabel e para “revelar a verdade” sobre Zumbi no site da instituição. Ele promete conteúdo sobre os dois nesta quarta-feira (13). A data escolhida, dia em que a Lei Áurea completa 132 anos, tem objetivo de polemizar com os movimentos negros, que exaltam em contraste o 20 de novembro, data da morte de Zumbi e Dia da Consciência Negra. Camargo já chamou Zumbi de “falso herói” em outras ocasiões e já exaltou a figura da princesa, cuja importância é relativizada por boa parte das lideranças negras. A comemoração do 13 de maio é criticada por não ter implicado em libertação de fato da população negra, que não teve oportunidades de inserção social na sequência da abolição. “O 13 de maio como dia da libertação é uma mentira cívica, como dizia Abdias do Nascimento, e conta com o cinismo escravocrata que é a marca da elite brasileira”, afirma Douglas Belchior, historiador e membro da Uneafro Brasil. “O movimento negro desconstrói essas ideias do dia da libertação e da princesa Isabel como libertadora e redentora. Não ignoramos o 13 de maio. Nós o reivindicamos como um dia para refletirmos sobre a mentira construída, sobre a abolição inacabada. A população negra continua estruturalmente no mesmo lugar em que estava no dia seguinte à abolição”, completa. Descendente da princesa, o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP) apoia a iniciativa de Camargo e diz que é bem vinda, independentemente de qualquer viés ideológico.” [Folha]

>>>> O governo continua querendo expulsar diplomatas em plena pandema! “O procurador-geral da República, Augusto Aras, defendeu que a competência para decidir sobre a permanência de diplomatas chavistas no Brasil é do STJ (Superior Tribunal de Justiça), e não do STF (Supremo Tribunal Federal). Aras se alinhou à intenção do governo de tirar o caso das mãos do ministro Luís Roberto Barroso, atual relator do habeas corpus sobre o tema no Supremo. No fim de abril, o Ministério das Relações Exteriores enviou documento à embaixada e aos consulados venezuelanos e listou 34 funcionários que deveriam deixar o Brasil. No dia 2, porém, Barroso atendeu a um pedido do deputado Paulo Pimenta (PT-RS) e barrou a expulsão dos integrantes do regime de Nicolás Maduro do Brasil. O ministro afirmou que a decisão pode ter violado normas constitucionais brasileiras, tratados internacionais de direitos humanos e as convenções de Viena sobre relações diplomáticas e consulares. Aras, no entanto, afirma que o STF não seria o órgão competente para julgar o caso. O procurador-geral cita, em manifestação à corte, o artigo 105 da Constituição, que prevê a competência do STJ para apreciar habeas corpus contra ato de ministro de Estado. A decisão do governo, sustenta, veio do Ministério das Relações Exteriores, e não envolve ato do presidente da República para atrair o caso para o Supremo. No dia 6 que, antes de Barroso, Aras já havia recomendado ao Itamaraty a suspensão de expulsão de embaixadores venezuelanos. No documento, assinado do dia 1º de maio, o procurador-geral chamou a atenção para a situação dos serviços de saúde na Venezuela durante a pandemia do coronavírus e falou em “questões humanitárias”. Ao recorrer da decisão de Barroso, a AGU (Advocacia-Geral da União) foi na mesma linha e afirmou que o episódio não envolve ato do chefe do Executivo. Caberá a Barroso decidir sobre os pedidos feitos por Aras e pela AGU.” [Folha]

>>>> Com vocês a gloriosa polícia do estado do Rio de Janeiro: “Em 2015, o cabo da Polícia Militar do Rio Tarcísio de Assis Nunes permaneceu um mês preso por agredir a mulher. Segundo a decisão judicial que decretou a prisão do policial à época, ele “já agrediu/ameaçou a vítima por diversas vezes”. Na avaliação da PM, no entanto, mesmo após a denúncia de violência contra a mulher, o cabo ainda tinha condições de seguir patrulhando as ruas do estado. No processo administrativo aberto pela corporação para avaliar a conduta do agente após o episódio, a PM concluiu que ele cometeu uma “transgressão leve”: na época, o cabo sofreu uma repreensão — segunda punição mais branda possível na corporação. Como o GLOBO revelou ontem, Nunes foi preso no dia último 17 de abril após ser flagrado por uma câmera de segurança espancando novamente a mulher, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. O GLOBO teve acesso à ficha disciplinar atualizada do agente na Polícia Militar. A punição de Nunes pelo primeiro caso de violência doméstica foi menor do que a que sofreu um ano depois, quando se atrasou para render um colega no serviço de custódia de presos no Hospital do Joca, em Belford Roxo: nessa ocasião, a transgressão foi considerada média e ele ficou dois dias detido no batalhão. As punições administrativas para praças da PM vão de uma simples repreensão até a expulsão do agente da corporação por decisão do comandante-geral. Na ficha disciplinar, comportamento do agente, mesmo após o primeiro caso de agressão, é considerado bom. As imagens do novo caso de agressão — que fazem parte de um Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pela Corregedoria da PM — mostram o policial se aproximando da mulher, que estava sentada no jardim da casa. Eles começam a discutir e, subitamente, Nunes dá um soco no rosto da companheira. Em seguida, ele chuta a mulher, a puxa e a joga no chão com uma banda. De acordo com um relatório de análise das imagens, feito pela Corregedoria, Nunes “tem conhecimentos de técnicas de artes marciais, uma vez que a banda que aplicou se asselha com o golpe de judô ‘de-ashi-barai'”.” [O Globo] E várias vezes ele ameaçou matar até a filha, e depois não sabem porque diabos a polícia é mau vista.

>>>> A água da CEDAE: “Enquanto enfrenta a pandemia do coronavírus, boa parte da população do estado pode ganhar um outro motivo de preocupação: a Cedae desistiu de tocar um projeto para desviar os rios Ipiranga, Queimados, Cabuçu e Poços da Estação de Tratamento do Guandu. A obra, orçada em R$ 92 milhões, foi anunciada no fim de janeiro, durante a contaminação da água distribuída na Região Metropolitana por geosmina — substância produzida por algas que se proliferam no esgoto. Na época, o governador Wilson Witzel descreveu a intervenção como medida “fundamental” para que o problema não volte a se repetir. Em fevereiro, um edital de licitação para a obra foi publicado no Diário Oficial, mas, no último dia 24, a Cedae comunicou ao Ministério Público do Rio sua revogação. Procurado nesta terça-feira pelo GLOBO, o Palácio Guanabara informou que, agora, é o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) que fará a intervenção, com custo e prazo menores. No entanto, não deu detalhes.” [O Globo]

 

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