Dia 737 | “Até que os preços voltem à normalidade” | 06/01/21

Ontem eu fiquei sem energia das 17h às 23h, por isso o post está saindo no dia seguinte e pela metade. Segue em frente, tem outras derrotas.

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Taí o podcast de terça. Texto de Pedro Daltro, edição de Cristiano Botafogo e os episódios você ouve lá na Central3.

Ah, e agora o Medo e Delírio em Brasília tem um esquema de asinaturas mensal, mas tenha sua calma. O Medo e Delírio continuará gratuito, se não quiser ou puder pagar tá de boa, você continuará ouvindo o podcast e lendo o blog como você sempre fez.

Agora, se você gosta da gente e quer botar o dinheiro pra voar é nóis : ) Tem planos de 5, 10, 20, 50 reais e 100, esse último aí caso você seja o Bill Gates. Taí o link com o QR Code: [PicPay] E também criamos um Apoia-se, rola de pagar até com boleto, ATENÇÃO, PAULO GUEDES! [Apoia-se]

E com assinatura ou não eu e o Cristiano queremos agradecer imensamente a todos os ouvintes, que são muito mais do que poderíamos imaginar. Cês são fodas : )

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1. Covid-17

A última proeza cognitiva do presidente:

“O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quarta-feira (6) que o ministério da Saúde suspendeu a compra de seringas “até que os preços voltem à normalidade”. Segundo o mandatário, os estados e municípios têm estoques do material para o início da vacinação contra a Covid-19. Na semana passada, o ministério fracassou na primeira tentativa de comprar seringas e agulhas para a imunização. Das 331 milhões de unidades que a pasta tem a intenção de comprar, só conseguiu oferta para adquirir 7,9 milhões no pregão eletrônico. O número corresponde a cerca de 2,4% do total de unidades que a pasta desejava adquirir.” [Folha]

O presidente escreveu o seguinte no Facebook, e eu não vou lincar pra essa desgraça não:

– O Brasil consome 300 milhões de seringas por ano. Também somos um dos maiores fabricantes desse material.

Se somos um dos maiores fabricantes por que diabos o governo não definiu o planejamento em conjunto com esses fabricantes desde o começo do ano, quando a pandemia já era uma obviedade e todos sabiam que só a vacina resolveria?!

Gloria Pires GIF - Gloria Pires Gloriapires GIFs

– Como houve interesse do Ministério da Saúde em adquirir seringas para seu estoque regulador, os preços dispararam e o MS suspendeu a compra até que os preços voltem à normalidade.

Sim, ele suspendeu a compra até que a demanda caia. Plena pandemia, 7 bilhões de pessoas no mundo. Imagine aí duas doses pra cada, desconte aí aqueles que não podem se vacinar por diferentes motivos e imaginemos 12 bilhões de doses. São 12 bilhões de seringas, aí quando todo mundo vacinar a demanda vai cair, os preços também e Bolsonaro enfim comparará seringas para o povo brasileiro.

– Estados e municípios têm estoques de seringas para o início das vacinações, já que a quantidade de vacinas num primeiro momento não é grande.

The Office Reaction GIF

Que confissão, que confissão! O sujeito fechou contrato com UMA fabricante, o brilhante plano do general especialista em logística envolvia uma única vacina, e o presidente tem que lembrar aos brasileiros que tem… pouca vacina. Mas ele tentou consertar pessimamente:

– Por volta de 44 países estão vacinando, contudo a Pfizer vendeu para muitos desses, apenas 10.000 doses. Daí a falácia da mídia como se estivessem vacinando toda a população. Na tabela abaixo, o percentual de vacinados em alguns países até a data de 04/janeiro/2021:

– China…………. 0,31%
– Rússia……….. 0,55%
– Reino Unido.. 1,39%
– EUA ………….. 1,28%
– Canadá………. 0,30%
– Itália………….. 0,19%
– Chile………….. 0,05%
– México………. 0,02%
– Alemanha….. 0,29%
– Argentina ….. 0,07%
– Brasil ………….0,00%
– Holanda ……. 0,00%
– Japão ………. 0,00%”

Recibo em 3 vias autenticadas no cartório com assinatura de próprio punho. E plastificadas, viado! Os EUA de Trump estão com 1,28%, o Reino Unido do Boris com 1,39%, e ambos de direita Argentina, economicamente falida, tem 0,07% e Bolsonaro tem ZERO VÍRGULA ZERO ZERO ZERO!

“Em entrevista à coluna Painel, da Folha, o governador Wellington Dias (PT-PI) disse que um levantamento feito pelos secretários estaduais e municipais de Saúde mostra que há seringas em estoque para aplicar cerca de 40 milhões de doses da vacina, o que daria para cobrir a primeira fase da imunização. “O ministro Pazuello diz que começar no dia 20 [de janeiro] é uma previsão otimista. Com a importação da Índia e o registro da Coronavac nos próximos dias, digo que essa data é perfeitamente possível”, afirmou.”

E se não fosse o esqtoque dos estados simplesmente não haveria seringa! E lembrando que esses 40 milhões não serão usados exclusivamente para Covid, mas tenho dúvidas que o Ministério da Saúde saiba disso…

E o general não dá UMA dentro, é impressionante:

“Governadores de diferentes estados se reuniram por teleconferência, nesta terça-feira (5), com o secretário de vigilância do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, para cobrar um plano, um cronograma de vacinação contra a Covid-19 para todo o país. Contudo, não obtiveram uma data após a conversa. A informação foi dada ao blog pelo governador do Piauí, Wellington Dias. “Nossa expectativa era de que houvesse alguma definição. A reunião foi até estressante. Cobramos uma data e não nos foi fornecida. Quando chegam os insumos? Quando começa a vacinação? O secretário disse que iria levar nossa demanda ao ministro Pazuello”.” [G1]

O general devia estar ocupado com coisas mais importante, é, e deixou uma reunião com os goivernadores para um subalterno entregador de recados.

“Além de Dias, participaram da reunião Ronaldo Caiado (Goiás), Helder Barbalho (Pará), Waldez Goes (Amapá) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul). Wellington Dias disse ao blog que propôs para a próxima segunda-feira (11) uma agenda conjunta entre os três Poderes — cúpula do Congresso, do STF e o ministério da Saúde — para discutir com as fabricantes e a Anvisa um calendário nacional de vacinação. “O Brasil está ficando no final da fila. Há um atraso inexplicável”. Ele disse que conversou pela manhã com o governador João Doria (São Paulo) e que o plano para o início da vacinação no Estado de São Paulo está mantido para o dia 25 de janeiro.”

E os governadores, malandros, dão seus pulos:

“Por isso, Dias articula reunião na próxima segunda-feira, 11, dos governadores com representantes do Congresso, STF, Anvisa, Fiocruz, Butantã, empresários e cientistas. A ideia é conseguir arrancar do governo, finalmente, um cronograma realista para a vacinação, porém, as expectativas são baixas. Helder Barbalho (MDB-PA) embarca na quinta-feira para Rio e São Paulo. Vai conversar com a Fiocruz e o Butantã. No encontro, o governador Ronaldo Caiado (DEM-GO) voltou a cobrar da equipe da Saúde a compra da Coronavac, como havia sido prometido no ano passado, mas, até agora, nada avançou.” [Estadão]

O gênio do Pazuello fez pronunciamento e conseguiu a proeza de não divulgar uma data para o início de vacinação e ainda saiu se gabando que em breve o Brasil exportará vacinas…

Ah, não teve lockdown em 2020 mas vai ter em 2021:

“Com o aumento do número de casos da covid-19 e uma variante do coronavírus circulando no País, um eventual lockdown voltou a ser discutido entre cientistas, apesar de ainda não haver consenso. “Ou o País entra num lockdown nacional imediatamente ou não daremos conta de enterrar os nossos mortos em 2021”, afirmou o neurocientista Miguel Nicolelis.”

E o estrago desse governo é tamanho que…

“O ex-secretário Wanderson Oliveira diz que “decretar um lockdown nacional generalizado seria um dano à saúde pública”, porque: 1) não seria respeitado; 2) pode gerar efeito rebote nas medidas já implementadas até aqui. “Precisamos observar o perfil da epidemia ao longo de janeiro, com efeito das festas de fim de ano, e aí nos dará o tom do quanto devemos apertar o parafuso nas medidas restritivas”, afirmou.”

Alguém acha que lockdown dará certo no Brasil a essa altura do campeonato?! E eu não me engano, sob qualquer presidente seria algo bem delicado, mas quando é o presidente e seu governo que ligam um foda-se de dimensões astronômicas. E isso não quer dizer que não é pra decretar lockdown se necessário, apenas uma constatação de nossa miséria.

Enquanto isso, em Manaus, a primeira cidade a ser brutalmente impactada pela pandemia, lá em março:

“A escalada de novos casos da Covid-19 em Manaus fez crescer o número de pessoas que morreram em casa, muitas delas sem assistência médica.” [Folha]

Daqui a pouco o presidente do “finalzinho da pandemia” dirá se tratar duma “benção, morrer em casa, ao lado da família…”

“Em dezembro foram pelo menos 213 óbitos em domicílio, o que inclui casos de Covid-19 e de outras doenças. Os dados são da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana e Serviços Públicos, que administra os cemitérios da cidade. As mortes são direta e indiretamente ligadas à pandemia, segundo a FVS-AM (Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas). Inclui tanto as pessoas que morreram por Covid-19 quanto as pessoas que morreram por outras doenças por não terem conseguido atendimento hospitalar. A capital do Amazonas está com a rede privada de saúde saturada, com ocupação de 94% dos leitos para Covid-19, e filas de pacientes aguardando vagas em leitos de UTI nos hospitais da rede pública, que registrou ocupação de 92% nesta segunda-feira (5). Sete dos 11 hospitais particulares da capital anunciaram que chegaram à lotação máxima. Os registros diários de mortes em casa começaram a aumentar depois do Natal. Nos três primeiros dias contabilizados de 2021 (2 a 4 de janeiro) foram 33 mortes em domicílio, média de 11 por dia, quase o dobro da média diária do mês de dezembro, que já tinha registrado aumento em relação a novembro. No pico da pandemia no Amazonas, em maio de 2020, foram registradas 401 mortes em domicílio, média de 13 por dia, segundo a Prefeitura de Manaus.”

E dia desses Bolsonaro estava aplaudindo a população de Manaus por desafiar as restrições…

“Para a presidente da FVS-AM, Rosemary Pinto, o aumento do número de mortes em domicílio se atribui também ao fato de muitas pessoas deixarem de procurar os hospitais por conta da superlotação e do medo de contrair o novo coronavírus.”

Como vai ter medo se o hospital tá lotado?!

“A falta de leitos nos hospitais também provocou um aumento de demanda por outro serviço: o de atendimento médico domiciliar para pacientes com Covid-19, que inclui consultas e sessões de fisioterapia, montagem de uma UTI domiciliar, disponibilização de cilindros de oxigênio e acompanhamento diário de profissionais de saúde. Os serviços chegam a custar mais de R$ 50 mil. O serviço particular é voltado a pacientes com sintomas de leves a graves que não encontram vaga nos hospitais e também àqueles que já tiveram a doença e ficaram com sequelas mas não querem continuar o tratamento nas unidades de saúde por receio de uma nova contaminação. A demanda por esse tipo de serviço dobrou nos últimos 15 dias. É o que conta a fisioterapeuta Leigiane Cardoso, 30, que atua no combate à Covid-19 em um hospital particular seis dias por semana e, nas horas livres, atende pacientes em domicílio. “A demanda aumentou em 100% por causa da falta de vagas nas duas redes [pública e privada]. A maioria dos pacientes são idosos que precisam evitar que o quadro se agrave”, relatou a fisioterapeuta. Essa também foi a alternativa encontrada por uma médica para garantir assistência à mãe dela, de 79 anos, diagnosticada com Covid-19 no último dia 30. Com medo da superlotação dos hospitais, ela contratou uma empresa de cuidados médicos domiciliares. “Enquanto puder, vou evitar levar minha mãe para o hospital porque sei do caos que estamos vivendo lá. É arrasador pensar que é uma sorte a nossa, que temos recursos para custear esse tratamento em casa, e que a maioria pode morrer sem assistência adequada”, diz a profissional de saúde.”

E essa coluna do Schwatrsman me fez pensar:

“A vacinação só será capaz de pôr fim à epidemia se estiver no âmbito de um programa universal e público. E, se a circulação do vírus permanecer muito elevada, nem quem tem dinheiro para pagar por um imunizante estará livre de riscos. Vacinações são por excelência uma estratégia coletiva de saúde. Isso dito, não vejo problemas em permitir que clínicas particulares importem e apliquem vacinas contra a Covid-19. A rigor, qualquer agente que consiga trazer para o Brasil biofármacos que de outra forma não chegariam aqui está contribuindo para o esforço comum. É preciso, contudo, alguns cuidados. Seria decerto um despropósito se a iniciativa privada e o setor público entrassem numa disputa suicida pelos mesmos imunizantes. Mas há fórmulas menos drásticas que o veto às clínicas particulares para evitar esse tipo de situação. [Folha]

A argumentação dele nem é ruim:

“Uma objeção que merece consideração é a de que a participação privada, ao criar oportunidades diferenciadas de acesso à vacina com base em renda, corrompe o caráter público da fila e o princípio do acesso igualitário. Não vejo como discordar, mas receio que o argumento seja forte demais. Parece-me complicado usá-lo para vacinas, mas deixá-lo de lado para todo o resto. Nós, afinal, não adotamos a fila única para leitos de UTI em hospitais públicos e privados. E não é só na pandemia. Há décadas aceitamos que pacientes de câncer do SUS morram à espera de vagas para tratamento, enquanto elas sobram na rede particular. A aplicação consistente do princípio da igualdade de acesso implicaria uma espécie de veto à medicina privada, o que não ocorre em nenhum país democrático. O fato de eu não ver com maus olhos a participação de clínicas particulares na vacinação não significa que ela seja solução. Só voltaremos a algum tipo de normalidade depois que a maioria dos brasileiros tiver recebido sua vacina —e apenas o poder público é capaz de fazer isso.”

Mas o bom Gonzalo Vecina desconstruiu a argumentação acima:

“O maior risco é o moral mesmo. É uma imoralidade as pessoas que têm dinheiro terem acesso à vacina antes das pessoas que não têm dinheiro numa sociedade tão desigual como a nossa. As pessoas podem dizer: “ah, mas isso é galinha morta; no Brasil, é assim mesmo”. Só que é uma galinha morta no meio de uma pandemia onde os nervos estão muito mais expostos, onde a gente tem que tomar muito mais cuidado para que essa pandemia não produza mais desigualdade ainda. Nós sabemos que temos filas que andam diferente para tudo na saúde, exceto o transplante, para o qual há uma única fila rigorosamente seguida para ricos e pobres. Agora, a fila do tratamento do câncer, a fila da cirurgia cardíaca, a fila da cirurgia ortopédica, nenhuma é igual para quem tem dinheiro e para quem não tem dinheiro. Quem tem dinheiro é tratado antes, e nós ignoramos isso. Ter uma fila independente, que anda com velocidade diferente, no meio de uma pandemia, é imoralidade. Do ponto de vista comercial, numa economia liberal, tudo bem. Mas, no meio de uma pandemia, é eticamente insustentável. A sociedade vai ter capacidade de fazer a sua crítica a essa fila não ética. A gente tem que buscar formas de diminuir o nível de desigualdade na nossa sociedade. A própria pandemia já mostrou desigualdades de acesso ao tratamento… desigualdade no acesso ao tratamento e desigualdade na mortalidade. Nós sabemos que quem morre mais é preto, analfabeto e pobre. Esse é o perfil da mortalidade. Mas isso não afeta uma sociedade que está anestesiada para invisibilidade dessas diferenças. Porém, é diferente quando você diz: aqui é a fila da vacina para quem tem R$ 2.000 e aqui é a fila da vacina que não sabemos como é nem quando começa. Isso é grave.

Por um lado, há um certo anestesiamento da sociedade. Por outro, tem um clima de salve-se quem puder. Não me interessa quem se salvará desde que eu esteja na primeira fila. É uma sociedade pouco civilizada. Eu não consigo enxergar uma coisa dessas acontecendo na Europa. No entanto, aqui no Brasil, isso é quase uma normalidade. Tenho certeza de que algumas pessoas vão dizer que estou falando bobagem: ‘Como o Gonzalo, uma pessoa de bom senso está contra isso, que parece tão positivo’. Ou seja, dar a vacina para quem eu conseguir dar e não para quem deve receber. Mas essa é a regra de uma sociedade não civilizada, que a gente tem que evitar. É a regra da imoralidade, é não ética. Uma coisa é uma parceria. O que é uma parceria? Eu pego parte do que eu tenho que fazer e passo para você. E você vai fazer a parte do que eu tenho que fazer como eu faria. Mas não é essa a proposta que está aí. A proposta é pegar gente que, do meu ponto de vista, estaria na posição número 30 [no grupo de prioridade para ser vacinado] e colocar na posição número 1. Isso não é parceria. Isso é inominável. Uma parceria ética seria você aplicar as vacinas que vou dar para você aplicar, com as mesmas regras que eu vou usar. Você só vai aumentar a velocidade. Por exemplo, posso pegar todas as farmácias do Brasil e distribuir vacina para que elas apliquem em quem estiver na ordem para tomar aquela vacina, naquele momento. Isso pode ser feito. A cooperação com a iniciativa privada é fantástica. Existem formas de fazer isso por meio da solidariedade, organizadas por uma política pública para que não sejam criadas mais desigualdades. Quem define a vacinação no país é uma política pública. E ela que diz que a ordem de vacinação deve ser essa: profissionais de saúde, os mais idosos, os portadores de comorbidades. Essa proposta pode ser levada para o setor privado, mas é óbvio que o setor privado vai ter uma série de condições de se negar a cumprir isso, por exemplo, que naquele dia não apareceu nenhum velhinho e que, por isso, vacinou o jovem.”[Folha]

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2. “O Brasil tá quebrado, chefe”

Retomemos o desespero presidencial:

“Chefe, o Brasil está quebrado, eu não posso fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia.” [Folha]

Não, Bolsonaro nunca se mexeu pra alterar a tabela do imposto de renda, uma boa forma de medir isso é ver quantas vezes ele falou de IR no twitter e em suas lives.

Guedes, em férias, saiu em defesa do presidente:

“Ele está se referindo, evidentemente, à situação do setor público, que está numa situação financeira difícil. Porque, depois dos excessos de gastos cometidos por governos anteriores, quando chegou o primeiro governo falando que vai cortar forte, foi fulminado pela pandemia. Nós estamos reconhecendo a dificuldade da situação, mas decididos a enfrentar. Nós vamos seguir com as reformas estruturais. Foi só isso.[Folha]

No Way Do Not Want GIF

O presidente da República e o seu poderosos mInistro da Economia estão tratando de afugentar os últimos investidores que restam, porque a maioria já saiu correndo tal qual um Forrest Gump de ecstasy. Ora, quem é maluco de investir em um país que o setor público está, nas palavras do próprio presidente, “quebrado” e seu ministro da Economia concorda com a confissão?! Isso aí me lembra Bolsonaro tentando explodir uma adutora do Guandu…

Em todos os lugares do mundo o investimento privado depende do investimento público, e isso é ainda mais gritante no Brasil, onde os bem sucedidos capitalistas vivem de mamar na teta do Estado. Imagine aí que você é um industrial alemão, com operação no Brasil. 2021 aí, fim do auxílio, teto ameaçado, Guedes mais perdido que o Ernesto no Itamaraty e vem o grotesco presidente dizer que o setor público quebrou. O que você faria?! Investiria no Brasil?! Como investir em um país cujo governo asfixia o investimento público?!

“A economista Elena Landau afirma que o uso do termo “quebrado” foi banalizado por Bolsonaro. Para ela, a declaração traz uma mensagem muito negativa para o mercado, dando impulso para uma perda de confiança no país em um momento que o governo passa por uma crise fiscal e depende do investimento privado. “O que os credores internacionais, o que os credores do Tesouro vão imaginar quando o próprio presidente da República diz que o país quebrou? Isso significa que o país não tem capacidade de pagar aquilo que ele deve”, afirmou. Para Elena, Bolsonaro ainda tenta tirar de sua alçada a competência sobre medidas que deveriam ser tomadas para mitigar a crise. Ela ressalta que o presidente tem priorizado pautas favoráveis aos militares e que reforçam o Orçamento das Forças Armadas em vez de focar em assistências como o auxílio emergencial.”

E países não quebram, nem fodendo países quebram, vide nossos vizinhos hermanos.

“Na avaliação do economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas, o conceito usado pelo presidente está errado. “Alguém precisa dizer para ele que nenhum país em emergência quebra. Mesmo fora da emergência, especialmente um país como o Brasil, que não depende de dólar para financiar sua dívida”, disse.”

Sim, a dívida é INTERNA, pelo amor de deus, ouçam o André Lara Resende num papo com o Ciro, Adnré dá aula sobre isso, o Brasil tá fodido mas tem jeito sim.

De acordo com Velloso, a crise sanitária que o país vive é inédita e depende de ações do governo. Para ele, o pagamento do auxílio emergencial é necessário e essa discussão não deveria ser bloqueada pelo presidente. “Em uma crise, você só precisa ter uma justificativa. E a justificativa é que as pessoas vão morrer na rua se a gente não ajudar [com o auxílio emergencial]. As pessoas estão sendo confinadas, e agora com a segunda onda”, disse.”

E o mercado gosta:

“De André Perfeito, economista-chefe da Necton, sobre a afirmação de Jair Bolsonaro de que o País quebrou: “É um instrumento retórico para cortar gastos, o que, na ótica do mercado, não é ruim”. Alerta. “Mas vamos chegar em um ponto em que não adiantará só cortar, teremos de criar receita. Sem privatização, temos de ficar atentos para a possibilidade de surgirem novos impostos”, afirma Perfeito.” [Estadão]

Ora, deveria ser óbvio que precisa aumentar impostos, simplesmente porque estamos em guerra contra o vírus, no meio dum choque global. Não dá pra governar como se pandemia não houvesse, porra! E não se privatiza num par de meses…

E Bolsonaro resolveu ironizar:

“— Confusão ontem, viu? Que eu falei que o Brasil estava quebrado? Não, o Brasil está bem, está uma maravilha — disse o presidente, rindo, a apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada.” [Folha]

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Vai explicar pra um gringo a sequência de declarações presidenciais…

E tem mais absurdo presidencial:

“Então, [o Brasil] é um país difícil trabalhar. Quando fala em desemprego, né, [são] vários motivos. Um é a formação do brasileiro. Uma parte considerável não está preparada para fazer quase nada. Nós importamos muito serviço” [Folha]

Até porque Bolsonaro tá preparado pra fazer o que vier, né? O sujeito não lê um livro e vem criticar a preparação alheia…

Passo ao Bruno Boghossian:

“Desde o início do mandato, Bolsonaro esculpe a figura de um governante impotente. Além de expor sua incapacidade absoluta, esse esforço cumpre uma função política. Ao criar a ilusão de que não consegue entregar benefícios para sua base por culpa de outras pessoas, o presidente trabalha para que a fidelidade de seus eleitores dependa cada vez menos de vantagens concretas. O presidente não quis dizer que foi ele mesmo quem escolheu concorrer à Presidência sobre uma plataforma de aperto nas contas, enquanto prometia bondades para o povo. Seu governo, aliás, esteve mais próximo de apresentar a proposta de criação de uma nova CPMF do que de reduzir o Imposto de Renda. A declaração mostra que Bolsonaro tem ao menos uma vaga ideia das limitações econômicas que enfrentará até o fim do mandato. Com isso, o presidente deve se sentir tentado a bancar suas aventuras políticas com velhos embates ideológicos. Para preservar o apoio de seus seguidores, Bolsonaro recorre ao conhecido truque da fabricação de inimigos. O governo tenta mostrar serviço com um punhado de rodovias asfaltadas e meia dúzia de aeroportos leiloados, mas confia que os vínculos com o eleitorado permanecerão firmes nos choques com a imprensa, os políticos tradicionais, o STF e, principalmente, a esquerda.​” [Folha]

E repare na coincidência:

“As cenas de Jair Bolsonaro repentinamente cercado por fãs em viagens parecem ter um modus operandi: os apoiadores são previamente avisados de cada passo. Na última sexta-feira, Bolsonaro voltou a causar uma aglomeração na Praia Grande, em meio à pandemia. O inusitado foi que, enquanto Bolsonaro pulava de um barco e nadava para se aproximar da areia, uma claque com celulares em punho — com o mar à altura do peito — já gritava “Mito”. Leia também: Governo diz não ter estudos sobre impactos da segunda onda de Covid Em junho do ano passado, o roteiro também foi curioso. Jair Bolsonaro viajou em um sábado a Araguari (MG), fora da agenda oficial e sem avisar a imprensa. O plano seria ir até o Batalhão Ferroviário da cidade, mas houve uma parada surpresa. O helicóptero presidencial pousou em uma rodovia, para que o presidente visitasse um posto da Polícia Rodoviária Federal. Quando desceu da aeronave, apoiadores já o esperavam, com bandeiras do Brasil e tudo. Haja coincidência.” [Época]

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3. STF

A Folha entrevistou, Rubens Glezer, Coordenador do grupo de estudos da FGV Supremo em Pauta, que monitora as atividades do STF:

“A ideia da catimba constitucional é a de uma ferramenta justamente para poder diagnosticar essas situações em que a referência às regras, às normas, à prática jurídica, não explicam bem o que está acontecendo. Presidente e vice do tribunal a partir de 2018, Dias Toffoli e Luiz Fux concederam para a presidência do tribunal um poder inédito de cassar as decisões monocráticas dos colegas. Eles fizeram isso como uma forma de a presidência ter um controle sobre as ações individuais dos ministros, cada vez mais radicais, de 2015 em diante. São as decisões monocráticas com as quais o Brasil se habituou, o que é uma anomalia. Então a presidência começou a forçar essa barra também. A primeira decisão escandalosa foi aquela de censura da entrevista do Lula para a Folha, para a Mônica Bergamo. [Folha]

Esse dia foi louco!

A marca dessa ação é que ela só pode ser compreendida quando vemos esse plano da presidência. Eles optaram não por realizar o controle pelo plenário, que é o que diz o regimento interno. Quiseram dar essa trucada, isso é burlar a complexidade do jogo. E o modo de agir no caso do [André do] Rap, a chancela pelo plenário, demonstra que os ministros do Supremo não aprenderam que essa conduta, com muitas aspas “heroica”, está colocando os ministros e a instituição em um buraco.”

O Marcola deu entrevista mas o Lula não podia. Quer dizer, podia, Lewandoski autorizou, Fux reverteu na canetada, e muito tempo depois Toffoli autorizou a entrevista.

“Fizemos um levantamento empírico e nunca houve, até a entrevista do Lula, uma decisão de presidente do Supremo derrubando uma decisão monocrática de outro ministro, isso sempre foi tratado como uma hipótese esdrúxula. Por que me parece que isso foi deliberado? Porque a presidência do ministro Dias Toffoli enxerga no início do governo Bolsonaro um risco à sobrevivência da instituição no curto prazo. Ele tenta pacificar a relação com o Bolsonaro e, de outro lado, tenta fazer um tipo de pacificação interna para reduzir as decisões monocráticas radicais. Digo que foi ele e o Fux porque a decisão em que houve a censura da entrevista do Lula é muito estranha. Era para o processo ir para o Toffoli, mas é distribuído para o Fux. O motivo era que Toffoli não estava em Brasília, mas o Fux também não estava em Brasília. E, de acordo com o regimento interno, não iria para o vice-presidente. Foi claramente orquestrado e com várias fragilidades jurídicas e processuais na tese, para derrubar a decisão do Lewandowski. Foi uma jogada ensaiada. E quando Fux chega à presidência, ele usa essa arma que ele mesmo criou, e revoga a liberação do André do Rap… Isso tem total relação com a catimba, porque os ministros estão tentando proteger a instituição ou projetar uma determinada imagem da instituição que não tem a ver com o levar o jogo a sério, ou promover o desenvolvimento do jogo, ou fazer o que é esperado deles de acordo com as regras e valores do jogo. A reputação da corte constitucional não vem de justiçamento, não vem de atender o que a opinião pública quer. Muitas vezes, o trabalho dela exige ir contra a opinião pública, mas desde que esteja claro que ela faz isso não por política, não por uma avaliação de consequências, não por qualquer interesse conjuntural, mas porque está respeitando o direito.”

Sobre o STF na pandemia:

“A pandemia e o negacionismo do governo federal de alguma maneira fizeram uma inflexão positiva em como o STF vinha se comportando em relação ao governo Bolsonaro. Até então, o STF não tinha realizado nenhum controle relevante sobre as políticas do governo. Não eram sequer colocadas em pauta as ações que questionavam as políticas públicas do governo. Mas, com a pandemia, a atitude do STF muda completamente. Ele passa a ser protetivo do equilíbrio federativo, da relação entre governo federal e governos estaduais, e protetivo das políticas de saúde, e tem uma longa trajetória nesse sentido… Na verdade, o Ministério Público foi fomentador da catimba, porque boa parte da Operação Lava Jato foi estruturada em torno de apostas, do ponto de vista estritamente jurídico, muito arriscadas, para não dizer frágeis. Eles pesam um pouco a mão, e a popularidade da operação faz com que o restante do Judiciário catimbe e ignore a ilegalidade.”

Sempre lembrando que o Toffoli, o presidente da suprema corte que não ousou peitar Bolsonaro, foi uma escolha do… Lula!

“O CNJ controla todos os magistrados do Brasil, exceto os ministros do STF, e essa exclusão foi estabelecida pelo próprio STF. E no caso dos ministros do STF, a quem cabe esse controle? A eles próprios. Para mim, o aspecto mais relevante da narrativa da catimba constitucional é a constatação terrível de que os ministros não têm, aparentemente, nenhuma noção do limite que eles devem se impor no exercício de seu poder. Porque se eles continuarem não exercendo, alguém vai exercer esse limite, e quando um terceiro exerce, ele o faz na medida e no grau de sua conveniência e possibilidade. Então, a exortação de “Catimba Constitucional” é: parem de ficar usando a mídia desse jeito, parem de comentar casos que ainda vão julgar, parem de fazer conflitos entre ministros via mídia, parem de vazar documentos. Para sair disso, deveria haver um certo pacto, ter uma política, ter uma assessoria de imprensa.”

Sobre o impeachment da Dilma:

“Sim, ele é errado do início ao fim, houve um déficit de legitimidade. Começa com o fatiamento da petição e termina com o fatiamento da decisão. Foi tudo dentro das regras, as instituições participaram, mas a qualidade do nosso sistema democrático decaiu, porque o pacto político foi ignorado em prol de uma necessidade do momento. Foi uma baita de uma catimba.”

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4. “Tá passando mal, não vai dar pra continuar”

Do Conrado Hubner Mendes:

“Desenhar o xadrez da imunização criminal de Flávio Bolsonaro é para profissionais.” [Folha]

flavio

A teia de corrupção institucional costurada por Jair Bolsonaro deveria ser reconstruída por instituições de controle, a começar pelo Ministério Público. Mas estão em processo de fechamento. Apesar das ameaças, ainda resta jornalismo com coragem moral e recursos. E alguns promotores. Só não se sabe até quando. Eu pediria a ajuda de Constança Rezende e Patrícia Campos Mello, ou de Malu Gaspar e Juliana Dal Piva. Também de Chico Otavio, Rubens Valente e Guilherme Amado. E de tantos repórteres que estão no varejo da microcoleta de informações sobre essa “nova era” que extirpou corrupção do país. O prêmio internacional Corrupto do Ano já foi dado a N. Maduro, R. Duterte e V. Putin. Jair recebê-lo em 2020 foi conspiração globalista. Reportagens históricas vão se diluindo na torrente de notícias e na incredulidade gerada por governo incapaz de comprar seringas enquanto zomba da pandemia. Esses cacos factuais comporão no futuro um dos aposentos desse castelo de terror político, um dos capítulos do livro “Brasil Nunca Mais” do inverno bolsonarista. É fundamental não perder a visão do conjunto. Há 17 atores envolvidos na blindagem criminal de Flávio Bolsonaro, sob regência da Presidência da República: STF, Senado, Abin, GSI, PF, Receita Federal, PGR, MJ e AGU; TJ-RJ, MP-RJ, Polícia Civil, Alerj, governador interino, governador afastado, ex-prefeito do Rio. O 17 é ideia fixa do time. Flávio é acusado do crime de peculato (modo “rachadinha”) por anos a fio. Provas são caudalosas. Os gabinetes do pai e dos três filhos teriam movimentado R$ 29 milhões confiscando salários. O quarto filho não entrou para a política, mas já é investigado por iniciativas empresariais sob o carinho presidencial.

A “Operação Kopenhagen” de proteção a Flávio se faz assim: TJ-RJ confere foro privilegiado a Flávio e contraria posição do STF; procuradora bolsonarista faz MP-RJ perder prazo de recurso; STF ainda recebe reclamação do MP-RJ, mas, distribuída a Gilmar Mendes, ação fica na gaveta; TJ-RJ adia julgamento ao infinito. Enquanto isso: ex-assessora de Flávio é empregada por Crivella; irmãos Flávio e Carlos ajudam a derrotar pedido de impeachment contra o prefeito; na Alerj, servidores fraudam ponto e regularizam retroativamente presença de funcionárias-fantasma de Flávio; Cláudio Castro está prestes a ignorar lista tríplice e escolher comissário de Flávio para chefiar MP-RJ. Segue: concerto entre PF, GSI, Abin e Receita Federal presta serviços a Flávio na busca de invalidar relatórios de auditores; PGR e AGU se manifestam em favor do foro privilegiado de Flávio e se reúnem com Gilmar; André Mendonça pede investigação “independente” do ilícito da Abin; eleição do Senado se negocia à luz do caso de Flávio na Comissão de Ética. Jair faz ameaça de máfia siciliana contra MP-RJ, insinuando “caso hipotético” de filho de promotor (com base em informações “hipotéticas” da polícia civil). Wilson Witzel, afastado, concluiu: “A República gira hoje em torno da proteção a Flávio Bolsonaro”. “As instituições estão funcionando” é a frase mais estéril da análise política brasileira. Esse espasmo descritivo não indica como ou para quem “estão funcionando” nem pondera erros e acertos, omissões, obstruções e usurpações. Não leva a sério a legalidade. Se há juristas dos “dois lados”, basta para a “controvérsia”. Não importam conflitos de interesse e a qualidade do que falam. Pouco importa o padrão de legalidade autoritária que emerge no agregado. A frase não é vazia só pela indolência intelectual que a automatiza, mas pela falsa divisão que induz. Reduz o debate ao sim ou não. Virou jargão jornalístico binário e entrou no último estágio de seu ciclo de vida analítico. Morre quando deixa de dizer qualquer coisa sobre o mundo real, mesmo que siga dizendo muito sobre quem a boceja. Antes de incorrer nesse hábito, estude a “Operação Kopenhagen”. E faça perguntas mais elaboradas do que “instituições estão funcionando?”. Por um segundo, imagine se o esforço fosse replicado, de forma não corrupta, na coordenação federativa da vacinação de brasileiros. Inspire. Expire. Inspire de novo e sinta o cheiro do beco em que nos metemos.”

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5. A brutalidade nossa de cada dia

“Após o forte tombo no início da pandemia, o mercado de trabalho formal reagiu no segundo semestre de 2020, mas em ritmo diferente para homens e para mulheres. As recentes contratações de profissionais do sexo masculino para vagas com carteira assinada sobem mais do que para trabalhadoras. As mulheres, que já eram minoria entre os empregados formais, perderam ainda mais espaço desde março, quando a crise do coronavírus começou a afetar a economia nacional. Março, abril e maio foram marcados por um amplo movimento de demissões, em diversos setores de atividade econômica. Apesar da crise, o mercado de trabalho para homens, considerando todos os setores, já se recuperou. Foram geradas 107,5 mil vagas com carteira assinada para trabalhadores do sexo masculino —resultado entre contratações e demissões de março (início da pandemia) a novembro. Isso quer dizer que há mais homens trabalhando com carteira assinada do que antes da crise da Covid-19. Para as mulheres, o saldo é negativo. De março a novembro, foram fechados 220,4 mil postos de trabalho formais. Ou seja, há menos profissionais do sexo feminino com carteira assinada. Com isso, o Brasil registra um saldo negativo de 112,9 mil empregos na pandemia —resultado puxado pelas demissões de mulheres. “Tem muita vaga [de emprego aberta] na verdade. Já mandei meu currículo para muitos lugares, mas não estão me chamando [para trabalhar] mesmo“, disse Hellen Danielle Freitas, 20, que trabalhava em uma padaria na área nobre de Brasília (DF). Demitida em julho, ela passou a ajudar a família a vender roupas como ambulante na estação rodoviária da cidade, mas não parou de procurar trabalho formal. “Carteira assinada é melhor. Ter um dinheiro [fixo] todo mês [sic]”. Hellen faz parte da lista de mulheres que ainda não conseguiram se recolocar no mercado formal. O Brasil fechou 1,6 milhão de postos de trabalho nos primeiros meses da pandemia. O efeito foi mais danoso para as trabalhadoras. Em fevereiro, as mulheres representavam 40,75% dos contratos com carteira assinada e os homens, 59,25%. Mas, na conta das demissões, essa proporção não foi seguida: as mulheres foram 47% dos desligamentos na pandemia, enquanto que os homens somaram 53%.[Folha]

E a lógica por trás é deveras perversa:

Segundo o governo, a diferença no efeito da crise dependendo do gênero está relacionada a características da crise. “Os setores com maior participação de mulheres [como comércio e serviços] foram mais afetados pelo fechamento de postos de trabalho, em decorrência das medidas de distanciamento social para a prevenção de contágio”, ressalta nota técnica do Ministério da Economia. Por outro lado, homens são maioria no mercado formal da construção e agropecuária, que se mantiveram quase estáveis diante crise do coronavírus. Na indústria, outro setor que eles lideram, houve um tombo, mas a recuperação foi rápida. Com as mudanças provocadas pela pandemia, as mulheres perderam representação no mercado formal de trabalho, caindo de 40,75% em fevereiro para 40,31% em novembro. Esse dado costumava sofrer pouca variação por ser retrato estrutural das vagas. A professora Carmen Migueles, da FGV/Ebape, avalia que o fechamento de creches e escolas, por causa da pandemia, deixou as mulheres ainda mais sobrecarregadas, dificultando a conquista de uma vaga de emprego ou mesmo a chance de procurar um trabalho.

E o governo finge que faz alguma coisa:

“O governo avalia medidas para aumentar a empregabilidade, mas algumas esbarram na falta de recursos no Orçamento para serem viabilizadas. O foco é aprimorar o processo de procura de mão de obra e também a capacitação de profissionais para atender a demandas das empresas. O Ministério da Economia não respondeu se tem medidas em estudo voltadas exclusivamente para mulheres. O Ministério da Mulher e da Família lançou recentemente o Qualifica Mulher, voltado para ampliar a inserção de mulheres em situação de vulnerabilidade social no mercado de trabalho. Mas ainda é um projeto piloto e com baixo orçamento. Na pasta do ministro Paulo Guedes (Economia), está em estudo a reformulação do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), cuja verba vem sendo cortada nos últimos anos. O argumento que os cursos oferecidos não atendem à demanda do mercado de trabalho. Por isso, prepara, desde o início do governo, mudanças no programa. Outra medida que já foi levantada é a reformulação do Sine (Sistema Nacional de Emprego) criado em 1975, ou até mesmo a privatização do órgão. Reduzir as agências físicas e ampliar a digitalização do Sine é um dos planos da equipe econômica.”

E vai dar merda, hein!

“Apesar da forte queda da venda de veículos, em 2020 – mais de 25% –, já tem ágio e fila de espera na venda de caminhões, veículos zero e importados, segundo apurou a coluna. O ágio nos caminhões chega a 35% e o preço do caminhão usado já subiu 20% em média. Quem quer uma pick-up comum, nacional, tem que enfrentar fila de espera até março. Resultado do choque abrupto na produção de indústrias durante a pandemia.” [Estadão]

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6. O czar das privatizações

Quer dizer, o ex-czar que saiu sem ter privatizado uma mísera estatal:

Church Saturday GIF

“Quando eu fui convidado pelo ministro Paulo Guedes para ser secretário, o objetivo era vender estatais. O ministro havia dito que existiam 134 estatais. Ao fazer meu próprio levantamento descobri que tínhamos 698, entre estatais de controle direto, subsidiárias, coligadas e investidas” [Estadão]

caetano

Sim, eles só contaram as estatais, e não suas subsidiárias! Esse mesmo pessoal aí jurou que as privatizações dariam 1 trilhão, assim como a venda de imóveis da União. É um mais imbecil que o outo, é uma eterna competição pra quem quem é mais descolado da realidade.

“O establishment não tem interesse na redução do tamanho do Estado e, consequentemente, nas privatizações das estatais. Houve uma mudança de posicionamento sobre as privatizações. Na medida em que fui vendo essas mudanças, resolvi sair do governo”

Esse sujeito aí é o dono da Localiza, esse arrombado do caralho, ganha dinheiro comprando carros som SUBSÍDIOS DO GOVERNO e vendendo pelo preço cheio, sem o governo para lhe atrapalhar. Quero ver reduzir o tamanho do Estado no lucro da Localiza!

“Poucas pessoas do executivo defendem as privatizações. Por esse clima não favorável eu resolvi abandonar o governo”

É estelionato eleitoral que chama e um belo ataque aos milicos, o recado é para os fardados.

“Se dependesse dele (Guedes), todas as empresas estatais seriam privatizadas”

Sim, Guedes é daqueles imbecis que sai dizendo por aí tem que privatizar/estatizar tudo, sejá lá qual for a escolha da palavra é uma completa estupidez, pois acha que uma só solução serve pra porra toda.

“Sobre a possibilidade de voltar à vida pública ou para a iniciativa privada, Mattar diz que vai dedicar seu tempo e esforço para propagar as ideias liberais. “

Boulos GIF

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7. Malditos Milicos

“Diagnosticado com Covid-19, o vice-presidente Hamilton Mourão “passa bem”, de acordo com comunicado divulgado por sua assessoria de imprensa nesta terça-feira. O texto afirma que Mourão está realizando exercícios respiratórios e que apresentou “resultados normais” de exames, mas sem especificar quais exames foram feitos.” [O Globo]

Conhecereis a verdade e…

“De acordo com a recomendação médica, realizou exames previstos no protocolo de tratamento da Covid-19, apresentando resultados normais. Segue com programa de exercícios respiratórios, orientados por uma fisioterapeuta, conforme está previsto nesta fase de recuperação”, diz o comunicado. Ao GLOBO, o vice-presidente disse estar bem: — Quase zerado.”

Zero bala” que nem o Pazuello?! Se fodeu então…

“Mourão foi diagnosticado com Covid-19 no dia 27 de dezembro e desde então permanece no Palácio do Jaburu. A assessoria de imprensa da Vice-Presidência afirmou que ele “em breve, retornará às avidades normais”, mas não deu uma data.”

Quase zero, viado! Imagine se tivesse tido alguma complicação…

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8. Covid-17, parte 2

Um giro pelo mundo, que aperta as restrições enquanto esse mórbido barata-voa impera por aqui:

“Após decretar uma quarentena parcial em novembro e fechar escolas, bares e restaurantes em meados de dezembro, a Alemanha voltou a intensificar as medidas restritivas no país nesta terça-feira, em uma tentativa de impedir um novo avanço da pandemia. Itália e Dinamarca também tomaram decisões semelhantes um dia após Inglaterra e Escócia anunciarem o retorno a uma quarentena total, mesmo com o início da vacinação no continente. Na Alemanha, além de estender o prazo da quarentena até o fim de janeiro, os moradores das regiões onde há maior propagação do vírus terão as viagens não essenciais restritas a um raio de 15 km. Segundo a imprensa local, a nova regra se aplicaria a cidades e condados que registraram mais de 200 novos casos de Covid-19 a cada 100 mil habitantes nos últimos sete dias. A determinação, discutida pela chanceler Angela Merkel e os 16 líderes estaduais, é a primeira a banir viagens não essenciais nas regiões alemães mais afetadas. Lojas e restaurantes vão permanecer fechados até o fim de janeiro, assim como as escolas, com o ensino sendo feito à distância. Além disso, membros de uma família que morem na mesma casa terão permissão para encontrar apenas uma outra pessoa em público. Já há uma determinação de que, em espaços públicos, as reuniões são limitadas a cinco pessoas de duas famílias. — Precisamos restringir o contato mais estritamente. Pedimos a todos os cidadãos que restrinjam o contato ao mínimo — disse Merkel, acrescentando que as medidas serão revistas em 25 de janeiro. A Alemanha registrou o recorde diário de 1.122 mortes em 30 de dezembro. Nesta terça-feira, foram mais 944 óbitos, com o total passando de 35 mil. Também foram registrados mais 11.897 casos, segundo o Instituto Robert Koch, elevando o número de infecções para 1.787.410.

A taxa de contágio no país segue o dobro do que o governo considera administrável. No entanto, o número mais recente de novas infecções é menor do que as taxas de dezembro, com dias que registrarem mais de 20 mil contaminações. Merkel está passando por um crescente escrutínio sobre sua decisão no verão de delegar à União Europeia (UE) a negociação com empresas produtoras de vacinas, uma medida que seus críticos dizem que desacelerou o processo e reduziu a quantidade de imunizantes disponíveis. Mesmo assim, até segunda-feira cerca de 266 mil pessoas foram vacinadas na Alemanha, número bem maior do que em alguns de seus vizinhos, como Itália e França. Funcionários do governo de Merkel disseram que estão fazendo tudo o que podem para acelerar a produção e distribuição de vacinas. Além do imunizante desenvolvido em conjunto pela Pfizer e a BioNTech SE, que é alemã, a aprovação de outros pelas autoridades de saúde europeias deve ajudar a acelerar o lançamento. Na Itália, o governo italiano decidiu estender as restrições adotadas no fim de 2020 até 15 de janeiro, adiando também o retorno das aulas presenciais para 11 de janeiro, e não em 7 de janeiro como estava previsto. Em 7 de janeiro, apenas os alunos mais novos — e 50% deles — poderão retornar às escolas. Os outros estudantes voltarão às aulas presenciais quatro dias depois. Em 2020, os italianos tiveram apenas alguns meses de aula presencial por causa das quarentenas impostas para controlar a primeira e segunda ondas da Covid-19. O número de casos diários de novas infecções caiu de cerca de 40 mil em meados de novembro para abaixo de 20 mil atualmente. No entanto, a taxa de contágio tem oscilado, voltando a crescer um pouco nos últimos dias. Nesta terça-feira, foram registradas 15.378 contaminações e 649 mortos. No total, já são mais de 2,1 milhões de infectados e mais de 75 mil mortos.

A Dinamarca também intensificou as medidas restritivas nesta terça-feira com o objetivo de conter a rápida disseminação da variante do novo coronavírus, 70% mais contagiosa do que o vírus que circulava inicialmente, detectada inicialmente na Inglaterra. As autoridades de saúde dinamarquesas disseram esperar que a nova cepa seja a dominante na Dinamarca em meados de fevereiro. — A mutação já está tão disseminada que não pode ser interrompida — afirmou a premier Mette Frederiksen em entrevista. — Mas podemos atrasar e prolongar o tempo para que possamos vacinar mais pessoas. A disseminação pela Europa da nova cepa da Covid-19 tem sido motivo de preocupação para diversos países. O Reino Unido, onde a variante foi indentificada primeiramente, registrou mais de 60 mil casos pela primeira vez nesta terça-feira, no mesmo dia em que retornou a uma quarentena total. Foram 830 mortes após o resgistro de 407 na segunda-feira. A Dinamarca, que até o momento vacinou cerca de 51 mil pessoas — 0,9% da população —, viu um aumento drástico em novos casos de Covid-19 e hospitalizações no mês passado, levando os hospitais ao limite de sua capacidade. Na semana passada, no entanto, os números se estabilizaram. As novas restrições incluem a redução do limite de reuniões públicas de dez para para cinco pessoas. Além disso, será introduzida uma regra de distanciamento de dois metros em áreas públicas, incluindo lojas. Em dezembro, o país já tinha implementado uma quarentena, fechando bares, restaurantes e outros estabelecimentos considerados não essenciais.” [O Globo]

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9. Ernesto

A Piauí saiu com um baita texto sobre o Ernesto e como deve ser irritante o chanceler…

“O ar meio adolescente é reforçado pelos modos inseguros, pela voz discretamente desafinada e pela forma por vezes hesitante de se expressar, com o emprego sistemático de um espichado “éééé”, ou de um “então”, ao desfiar uma ideia. Também costuma usar interjeições como “perfeito”, “ótimo” ou “exato”, após ser questionado sobre qualquer assunto, como se agradecido pela pergunta. Enquanto fala, tem por hábito tocar as pontas dos dedos de uma mão na outra e também de tamborilar no tampo da mesa, de forma irrequieta. Há um descompasso entre o tom de voz ameno e o teor de suas ideias, raivosamente anti-iluministas.” [Piauí]

E devo fazer uma confissão: eu editei esse tópico INTEIRO e só depois me dei conta que o texto é de… 2019! Mas dado que o ano começou com uma perigosa viagem à mente do Ernesto vou deixar aqui, não vou apagar nem fodendo, olha o tamanho do tópico : )

“A visão de Araújo sobre diplomacia, contudo, segue na direção oposta do que prega Ricupero. Na conversa em seu gabinete, no final de fevereiro, o novo chanceler manifestou sua contrariedade com a postura passiva que o Itamaraty mantinha diante de situações extremas como a da Venezuela. “O que a gente pode fazer é falar. É usar a linguagem forte”, defendeu. Ao se referir a esse país, a diplomacia brasileira preferia usar o termo “quebra da ordem democrática”, em vez de ditadura, o que, para ele, era inadmissível. “Alguns diplomatas insistem na tese de que a tradição brasileira é buscar o equilíbrio. Não é”, disse, batendo com força os dedos na mesa. “Ou talvez seja, mas está errada. Não tem sempre que buscar o equilíbrio. Em muitos casos, um país tem que se posicionar e fazer julgamentos morais”, arrematou.”

Disse o sujeito que se abstém de fazer julgamentos morais sobre o Bin Salman…

“As críticas de muitos embaixadores à sua nota o aborreceram. Não por se sentir atacado pessoalmente, mas, segundo ele, “pela miopia das pessoas que acham que a diplomacia é um fim em si mesmo”. Valeu-se de uma metáfora futebolística para explicar a guinada do governo na política externa brasileira. “Durante muito tempo o Brasil ficou sem chutar para o gol, só pensando no meio”, disse. “Tem que chutar para o gol. Chega de zero a zero na política externa. Vamos tomar gol? Vamos. Mas vamos tentar fazer gol. O brasileiro não quer política do zero a zero.” Cada vez mais empolgado, frisou que essa é a posição do presidente Bolsonaro. “Desculpe se me exalto. Mas é isso. O presidente quer fazer a diferença. E eu posso sugerir os meios para isso.” Araújo defendia uma ação mais dura contra o regime de Maduro desde 2017, quando ocupava a chefia do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do ministério. Por isso, se entusiasmou quando, numa conversa com Bolsonaro, antes de tomar posse na chancelaria, os dois acertaram que o Brasil agiria de forma implacável com o vizinho. O veto à presença de Maduro na posse foi o primeiro passo. “O Arnesto desconvidou, pronto”, disse, numa referência ao famoso samba de Adoniran Barbosa. “Não pode? Agora pode”, desafiou, sorrindo.”

Se prepare, hein:

“A sugestão do nome de Ernesto Araújo para o Ministério das Relações Exteriores partiu de três personagens com grande influência sobre o presidente Bolsonaro: Olavo de Carvalho, o famigerado guru da extrema direita brasileira, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho caçula do primeiro casamento do presidente, e Filipe Martins, um analista político de 31 anos que, no ano passado, ocupava o cargo de secretário de Assuntos Internacionais do PSL e hoje é assessor internacional do presidente – função semelhante à que Marco Aurélio Garcia desempenhava junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os três, Araújo parece não ter dúvida de quem foi determinante na sugestão: “Quando soube que o professor Olavo tinha indicado o meu nome, fiquei felicíssimo. Sei que foi decisivo.” Antes de ser nomeado, ele esteve duas vezes com Bolsonaro na casa do presidente, que fica em um condomínio de frente para o mar, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Em ambas as ocasiões, foi levado por Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins. A primeira visita ocorreu antes do segundo turno. A segunda, após a vitória. Araújo chamou a atenção de Carvalho e de Martins – um “olavete” como Eduardo – após publicar, no início de 2018, o artigo “Trump e o Ocidente”, nos Cadernos de Política Exterior, revista semestral do Ipri, o Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais, do Itamaraty. O texto foi recebido com rumor por setores da extrema direita e extravasou do ambiente diplomático. Araújo contou que, na ocasião, Nestor Forster, ministro-conselheiro da embaixada do Brasil em Washington, seu amigo desde o tempo em que serviram juntos nos Estados Unidos, telefonou para parabenizá-lo pelo artigo. Dias depois, Foster entraria novamente em contato para alertá-lo sobre Olavo de Carvalho ter feito uma postagem muito elogiosa ao ensaio no Facebook. O futuro chanceler não se conteve de tanta felicidade.”

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“Ao saber que fora o próprio Foster, amigo de longa data do polemista, quem o enviara a Carvalho, pediu para que fossem apresentados. Em maio de 2018, acompanhado por Foster, esteve na casa de Carvalho, em Richmond, na Virgínia. Araújo se entusiasma ao relembrar a visita. “Eu só o conhecia através dos seus livros e de lê-lo na internet”, contou. “Achei sensacional estar ali na presença dele. Eu pensava: ‘O professor Olavo realmente existe.’ Sempre achei tão extraordinária a figura dele, pelo brilho intelectual, pela coragem, clareza e inspiração”, derramou-se. Passaram uma tarde juntos. “Mais recebendo ideias do que dando”, disse Araújo, rindo risos curtos, seguidos do pequeno espasmo – “ic”.”

“O ministro levantou-se da mesa para encaixar o cabo do celular na tomada da parede, às suas costas, adornada com uma enorme tapeçaria do mapa-múndi. Após a pausa, dirigiu sua louvação para Filipe Martins, lembrando que ele sempre dera como certa a vitória de Bolsonaro. “O professor, com toda a razão, considera o Filipe o maior analista do Brasil. Eu concordo que ele é um dos maiores, pela profundidade e precisão das suas análises.” O fato de Martins ter acesso direto ao presidente de forma alguma o incomoda. “Além de sua competência e talento, temos relação de amizade e compreensão mútua, o que é fantástico para nós, no Itamaraty, e para eles, no Planalto”, enfatizou. “A rapidez de consulta e coordenação tem sido útil nesse mês e meio de governo.” No Palácio do Planalto, Martins não causa a mesma impressão. Tanto o vicepresidente Hamilton Mourão quanto os ministros militares questionam o fato de Bolsonaro ter como assessor internacional alguém tão moço e inexperiente. E, mais grave, alguém sob a influência direta de Olavo de Carvalho. Discreto, Martins evita se manifestar sobre as críticas a respeito de sua pouca vivência na área. Recentemente, porém, postou no Twitter: “VVV” – uma alusão à célebre frase atribuída a Júlio César: “Vim, vi e venci”, proferida em carta ao Senado romano após uma vitória militar. O deputado Eduardo Bolsonaro, indicado para presidir a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, é outro que, desde antes da posse do pai, vem se imiscuindo, sistematicamente, nas questões externas brasileiras. Entre os diplomatas existe a percepção clara de que o filho do presidente e Martins são eminências pardas da política externa. Uma situação que causa mal-estar entre a turma mais experiente da diplomacia. O ministro não vê nenhuma intromissão no seu quintal. Prefere falar em “parceria”. Diz que todos eles comungam da mesma visão de mundo, a começar pelo patriotismo, “no sentido de Pátria e nação”. “Pessoas do Itamaraty e de fora que analisam a política externa têm uma concepção tacanha, canhestra e tímida do que é o Brasil”, afirmou, batendo novamente com os dedos na mesa. “Acham que o Brasil não tem condições de ser alguém no mundo e que temos que nos contentar em vender alguns produtos e ficar quietos, copiando as agendas que vêm de fora, como a do clima ou dos direitos humanos.” Ajeitou-se na cadeira e, entusiasmado, prosseguiu. “Acredito que o Brasil tem que tentar ser grande. É preciso abandonar o pensamento antiamericanista que dominava o Itamaraty.””

Imagine, sentimento antiamericanista!

“ssas convicções de Araújo foram desenvolvidas em “Trump e o Ocidente”, o artigo que chamou a atenção de Olavo de Carvalho. Com mais de trinta páginas, o texto é uma longa ode a Donald Trump. Logo na parte inicial, o autor adverte: “Não nos satisfaçamos com uma caricatura, com as matérias de trinta segundos que aparecem no Jornal Nacional e tentam sempre mostrar um Trump desconexo, arbitrário, caótico.” Contra essa imagem, ele vê o presidente americano como o salvador da civilização ocidental, nada menos. “Os Estados Unidos iam entrando no barco da decadência ocidental, entregando-se ao niilismo, pela desidentificação de si mesmo, pela desaculturação, pela substituição da história viva pelos valores abstratos, absolutos, inquestionáveis. Iam entrando, até Trump”, escreve Araújo. O ensaio se organiza a partir de um discurso proferido pelo presidente dos Estados Unidos em Varsóvia, na Polônia, em 6 de julho de 2017. “Um discurso que nenhum outro estadista no mundo hoje teria a coragem ou a capacidade de pronunciar”, nas palavras do chanceler. O Trump que surge das páginas do ensaio não é uma figura vulgar e venal, ligada a toda sorte de preconceitos, mas um líder mundial espiritualizado, uma alma repleta de sabedoria, que Araújo ora relaciona à psicologia junguiana, ora vê como herdeiro de Ésquilo. E vai além, associando uma frase de Trump aos poloneses (We want God) à célebre afirmação de Martin Heidegger em entrevista à revista Der Spiegel, no final da vida: Nur noch ein Gott kann uns retten (“Só um Deus pode nos salvar”). Araújo, nesse momento, se esforça para salvar o filósofo alemão de si mesmo e, com ele, o nacionalismo como virtude: “Heidegger sempre foi um nacionalista, e nos anos 30 achou que com o nazismo a nação estava renascendo, mas logo se desencantou. Entretanto, ao repudiar o nazismo, nunca abjurou do nacionalismo, e por isso tornou-se um pária social, pois o poder dominante instalado no pósguerra não admitia essa dissociação.” Isso, claro, antes de Trump.”

“O que mais o incomoda no projeto dos democratas americanos é o fato de ser globalizante e não ter conteúdo nem identidade nacional. “A globalização foi um horror para os Estados Unidos porque destruiu a classe média, destruiu os empregos e transferiu o poder econômico para outros lugares, sobretudo para a Ásia”, disse. “

Sim, a culpa é da crise no país mais rico do mundo é da globalização, e não desse trick down economics aluciandos que os EUA exportaram para o resto do mundo.

“Araújo se sensibilizou durante a campanha presidencial americana, ao ver Trump se colocar como defensor dos valores nativos e da identidade nacional. “Eu pensei, esse é o cara”, contou. “

Quem teve a mesma impressão foi o fundador da KKK, viado!

“Recentemente, uma reportagem da Folha de S.Paulo afirmou que o pai de Araújo, quando era procurador-geral, teria dificultado, em 1978, a extradição para a Alemanha de um nazista refugiado no Brasil. A matéria levou o chanceler a se manifestar em seu blog a favor do pai. Seu texto intitulava-se “Pro patre”. Seis dias depois, o site Jota, especializado em notícias do Judiciário, mostrou que a informação da Folha estava incorreta. Na verdade, fora o Supremo Tribunal Federal que, em 1979, barrara a extradição autorizada pelo procurador-geral. Quando perguntei como reagira à reportagem, disse que a achou injusta, mas evitou atacar a Folha, alvo preferencial de Jair Bolsonaro.”

“Araújo escreveu algumas obras de ficção entre o final dos anos 90 e o início do milênio – A Porta de Mogar (1998), Xarab Fica (1999) e Quatro 3 (2000), todos publicados pela editora Alfa Ômega. São livros praticamente desconhecidos e difíceis de entender. A contracapa do último dos três rebentos avisa: “Não é um romance, nem uma coleção de contos, nem um conjunto de poemas, mas um espaço ficcional. Um sistema anárquico de textos, que quer se libertar da autoridade superior da trama e da lógica dos personagens.” Quatro 3 começa assim:

“O Estado entorpece o homem. (Muitas coisas o entorpecem. A própria razão não é a luz que desperta, mas sim o enorme sono de milhares de anos, cada vez mais profundo, em que se vão apagando as letras a lápis do texto, plastificando os sabores das frutas. O que por um lado é bom. O homem precisa dormir e não aguentaria o solzão do impacto por muito tempo seguido.) O Estado é uma parede de concreto que nos esconde a verdadeira realidade e o abismo do mundo. O mundo são os tapetes roubados da embaixada que Iscaramã enviou a Veneza em 1602 e que nunca mais apareceram. O Estado deveria existir para buscar tesouros, e não para organizar a coleta de lixo”.”

De maneira quase sempre incompreensível, o autor dá vazão a sua fome de transcendência, configurada na luta do indivíduo contra a sociedade desumanizada, descrente e materialista. Num trecho mais acessível de Quatro 3, a insatisfação com a existência prática, carente de espiritualidade, é assim sintetizada por um dos personagens:

O ser humano está hoje fechado num quadrilátero formado pelo Financial Times e pelos direitos humanos, crescimento econômico e justiça social. Hoje é impossível mandar que alguém se exploda. Não se pode querer que os pobres vão para Ukará-lhô nem que os empresários com sua bolsa de valores vão para Ukará-lhô. Qualquer impulso sincero do ser humano é contra alguma lei, seja do mercado, seja do capítulo social da constituição. O ser humano é contrário aos direitos humanos.

tenor (1)

Sobre a esposa do chanceler:

“As críticas a Araújo, às vezes, a incomodam, mas ela tem a consciência de que ele também se transformou em vidraça. Aborreceu-a, especialmente, uma reportagem que dizia que ela andava constrangida com as ideias do marido. “Não sei de onde tiraram isso”, reclamou. Nem mesmo o tão enxovalhado discurso de posse, de cujo conteúdo só tomou conhecimento na hora, a deixou embaraçada. “Eu achei o discurso surpreendente e corajoso”, me disse. “Aliás, é disso que gosto no Ernesto.””

The Office Reaction GIF

“O embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa é um homem calvo, parrudo e de expressão bonachona. Quando conversei com ele, em março, em seu apartamento em Copacabana, decorado com obras de arte e muitos porta-retratos com fotos da família, negou que tivesse punido Almeida com a lei da mordaça. “De forma alguma”, disse. Depois, dando a entender que não perderia tempo com o antigo subordinado, foi mansamente ferino. “O Paulo Roberto é um rapaz muito inteligente, mas, sinceramente, ele não existe.” Seixas Corrêa recebeu com orgulho a indicação do genro para o ministério, mais ainda por causa da filha, com quem tem grande afinidade. Ele avalia que Araújo, apesar de jovem, teve uma carreira muito consistente. Trata-se, na sua descrição, de um sujeito reservado, inteligente, culto e dono de uma excelente biblioteca. Quando perguntei se era verdade, como foi ventilado na imprensa, que se sentia constrangido com a forma de o chanceler agir, ele foi sincero. “Constrangido, não. Mas não faria o que ele está fazendo.” Em seguida, como se atendesse a um alerta interior, avisou: “Mas não quero falar com você sobre isso porque não quero dar a ideia de que o estou combatendo. Por causa da polêmica que cerca Araújo, Seixas Corrêa tem evitado aparecer nas rodas dos amigos diplomatas. “Quando eu chego, as pessoas, para me proteger, interrompem a conversa e avisam: ‘Olha, o Felipe está chegando.’” E riu, como se a situação o divertisse.”

Um grande show de constrangimento!

“Em 2011, no governo Dilma, Araújo estava na embaixada em Washington, como ministro-conselheiro. Num evento diplomático, chegou a justificar a atuação da presidente como guerrilheira durante a ditadura militar, dizendo: “Especialmente entre os jovens não havia esperança de ver a democracia restabelecida por meios pacíficos. A impressão era de que o governo militar iria ficar para sempre. Então, muitas pessoas, a despeito das instituições, decidiram pegar em armas. Ela [Dilma] foi parte disso.” Em Brasília, Araújo voltou a se ajeitar na cadeira, massageou a testa e deu sua versão para o episódio. “Nesse caso específico, eu pretendi explicar o governo do PT, e não defendê-lo.” Ele admitiu, contudo, ter acreditado em certo momento no nacionalismo econômico, nas políticas sociais e no crescimento feito à custa do endividamento público, tal como defendido pelos governos petistas. “Tudo se mostraria, depois, insustentável”, disse. “Fui iludido, como outras pessoas foram.””

Petista!

“As manifestações a favor do impeachment de Dilma moldaram o novo pensamento político de Ernesto Araújo. Em 2015, quando ocupava em Brasília a subchefia de gabinete do chanceler Mauro Vieira, acompanhou, fascinado, a ebulição nas ruas e redes sociais. Viu ali uma novidade, uma vez que os protestos não eram apenas contra o governo, mas, conforme avaliou, “contra todo um sistema de condomínio de poder que vinha desde a redemocratização”. A grandeza das manifestações, afirmou, estava no fato de proporem uma mudança política profunda. “Era o lado nacional, nacionalista, patriótico”, exultou. Marcou-o, em especial, o dia em que o então juiz Sergio Moro, numa decisão muito controversa, tornou pública a conversa telefônica de Dilma com Lula na qual ela avisava o ex-presidente que o nomearia ministro da Casa Civil e deixava implícito que aquilo visava evitar a prisão dele. Pelos grandes painéis de vidro de seu gabinete, Araújo viu a multidão ocupar a Esplanada dos Ministérios, em protestos contra o gesto da presidente. Decidiu, então, se juntar aos manifestantes. “Foi libertador poder gritar pelo impeachment de Dilma, por Lula na cadeia”, contou.”

Que conceito de libertação, hein…

“Aquele momento foi uma epifania, uma espécie de “caminho de Damasco” em sua vida, em que reviu todos os seus conceitos políticos. “Me senti parte do povo. Senti o movimento entrando na vida nacional e mudando tudo. Não era PT e PSDB que eu queria. Entendi que os dois faziam parte de um mesmo sistema de poder, desvitalizado, descomprometido com a nação.” Começou a prestar atenção nas discussões nas redes sociais, nas ideias de Olavo de Carvalho e no discurso de Jair Bolsonaro. “O grande projeto político de Bolsonaro é a união da dimensão econômica com a identidade nacional, sem a qual não se muda nada. Foi a primeira vez que vi isso no Brasil; antes, só tinha visto no Trump.” No Itamaraty, há quem veja em Ernesto Araújo nada mais que um oportunista – isso explicaria o desembarque do modelo intervencionista do PT e a adesão ao projeto ultraliberal e nacionalista de Bolsonaro. Mas Sergio Florencio defende o ex-aluno. “Não creio que seja um oportunista. Nunca o vi como um entusiasta do PT, mas reconheço que também não conhecia esse seu lado conservador nacionalista.” O mais ruidoso adversário declarado do ministro dentro do Itamaraty é o embaixador Paulo Roberto Almeida, que foi demitido da presidência do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais, o Ipri, após fazer reiteradas críticas em seu blog Diplomatizzando a Olavo de Carvalho, Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins. Almeida se referiu a Carvalho como “sofista da Virgínia”, chamou Martins de “olavista fanático”, e Eduardo, de “fundamentalista trumpista”. Na esteira dos ataques, replicou o apelido que o colunista José Fucs, do Estado de S. Paulo, pespegara em Martins: “Robespirralho”, um trocadilho com Robespierre, o radical líder do período do Terror da Revolução Francesa. Almeida se referiu ao chanceler como “uma figura menor na cadeia alimentar da política externa brasileira”, que teria no topo – conforme a classificação que expôs para mim – Eduardo Bolsonaro, seguido de Carvalho e, depois, Martins. “O Ernesto é um peão nas mãos desses malucos trogloditas”, afirmou. Na sua avaliação, Araújo é um diplomata conservador, muito profissional, mas apagado. “O Olavo deve ter metido na cabeça dele, naquele encontro na Virgínia, que ele poderia vir a ser o chanceler”, especulou. “Ele viu aí uma oportunidade e passou a apoiar Bolsonaro no blog dele.” Apesar disso, não considera Araújo um oportunista. “Ele é um adesista”, disse. Fez uma pausa, e arrematou: “Ele faz o que todo diplomata obediente faz. O diplomata é antes de tudo um submisso.” Nesse sentido, explicou, ele não age muito diferente de Celso Amorim, que serviu a Lula, Dilma, Fernando Henrique Cardoso e foi até mesmo representante cultural da ditadura militar, ao presidir a Embrafilme no governo Figueiredo.

Na gelada tarde de 13 de fevereiro, o chanceler Ernesto Araújo relaxava no agradável bar do hotel Regent Warsaw, numa área arborizada de Varsóvia. Ele desembarcara por volta de 13 horas na capital polonesa, onde iria participar no dia seguinte de um evento de nome pomposo: Conferência Ministerial para Promoção de um Futuro de Paz e Segurança no Oriente Médio, organizada pelo governo americano, com apoio do governo polonês. Apesar das longas horas de voo, parecia bem-disposto e satisfeito. A Polônia tem um significado especial para Araújo. Um ano depois da publicação de seu texto “Trump e o Ocidente”, inspirado no discurso feito pelo presidente americano em Varsóvia, Araújo desembarcava na capital do país, atendendo a um chamado dos Estados Unidos. Mais de cinquenta nações participariam da conferência. Além dos países diretamente interessados, como Israel, Jordânia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Bahrein e Catar, estavam lá Itália, Hungria e Áustria. O Brasil era o único representante da América Latina. Comentei com Araújo, enquanto a garçonete depositava café e água sobre a pequena mesa redonda, que não deixava de ser inusitado um chanceler brasileiro participar de uma conferência sobre a paz no Oriente Médio – onde o Brasil não tem a menor influência. Ele mexeu o café, tomou um gole e iniciou sua explanação. “Num encontro desses ganhamos projeção internacional”, disse. “Existe uma tendência de se distinguir o econômico do político. Isso é errado. Quando você está presente, as pessoas querem se aproximar, se interessam em fazer parcerias. E parcerias políticas se traduzem em parcerias econômicas.” A viagem do chanceler à Polônia talvez seja a chave para entender a estratégia da política externa de Bolsonaro. Quando conversamos no bar do Regent Warsaw, Araújo defendeu com entusiasmo que o Brasil só será forte se mostrar ao mundo que tem aliados fortes. “A China tenta traduzir poder econômico em político”, explicou. “O Brasil, ao contrário, tenta ter presença política maior e quer tentar traduzir isso em mais poder econômico, mais pujança.” Já os Estados Unidos, ele avaliou, têm uma visão integral. Tudo está na mesa: geopolítica, economia, defesa. Chegou então ao ponto central. “Quando os americanos veem que temos posições mais próximas às deles nessas discussões sobre o Oriente Médio, fica mais fácil chegar para eles e discutir a questão do trigo ou do etanol. Isso tem valor.””

“Disse também que, se algum país tentar tomar alguma atitude contra o Brasil, “vai pensar duas vezes, porque verá que o Brasil tem articulação”

Porque se depender do nosso Exército fodeu, né…

Ernersto esculhamba a China – “Eu não quero viver em um mundo em que os Estados Unidos sejam economicamente secundários, e a principal potência mundial seja um país que não é uma democracia.” – e…

“Perguntei a Araújo se as restrições à democracia na Polônia não o incomodavam tanto quanto o incomoda o regime político chinês. Embora tenha sido eleito pelo voto popular, o governo polonês tem adotado medidas que ameaçam as liberdades civis e a independência entre os poderes. “A Polônia é uma nova cara da democracia”, rebateu Araújo. E foi além, atacando os críticos dos governos nacionalistas que têm despontado na Europa: “O que essas pessoas querem é uma democracia controlada por certa visão de mundo compartilhada por uma pseudoelite intelectual e pela mídia, que desconsidera o sentimento de nação e acusa qualquer tipo de nacionalismo de xenofobia e autoritarismo.”

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10. Medo e Delírio em Washington

Tenha suas respectivas calmas pois esse tópico versa sobre os eventos antes da INSURREIÇÂO que tomou o capitólio:

“Donald Trump começou o espetáculo da sua partida deixando “House of Cards” no chinelo. Seu telefonema de uma hora para o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger (um republicano), seria rejeitado por qualquer roteirista de séries de TV. Foi desconjuntado, alternou momentos de prepotência e delírio. Ao seu estilo, puxou a carta do Apocalipse: “O povo da Geórgia está zangado, o país está zangado”. Falou três vezes em “tumultos”. Ameaçou e fez-se de vítima, queixando-se do que “vocês fizeram com o presidente”. Na essência, Trump acha que ganhou a eleição da Geórgia por mais de 100 mil votos e telefonou para que Raffensperger contasse o resultado, arrumando-lhe 11.779 votos. Repetiu 11 vezes esse número ou o milhar arredondado. Numa das últimas menções foi patético: “E agora? Eu só preciso de 11 mil votos. Pessoal, eu só preciso de mil votos. Tenham paciência”. O telefonema termina de uma forma bizarra.

Raffensperger: Obrigado pelo seu tempo, presidente.
Trump: OK. Obrigado, Brad.

(Não cabe a um interlocutor encerrar uma conversa com o presidente dos Estados Unidos.)” [Folha]

vladimir putin lol GIF

“Raffensperger sabia com quem estava lidando. Não deu outra. No domingo (3), Trump soltou um tuíte dizendo que ele não sabia de nada porque não queria ou porque não podia. O secretário de Estado respondeu: “Respeitosamente, presidente Trump, o que o senhor está dizendo é falso. A verdade aparecerá”. Horas depois o áudio apareceu no Washington Post.”

“Faltavam 18 dias para a posse de Joe Biden e terminara o primeiro capítulo da série “Os Últimos Dias de Trump”. Começou o segundo, menos pitoresco e muito mais grave. Dez ex-secretários da Defesa mandaram uma carta ao Post dizendo que a eleição já acabou e que os militares devem ficar fora dessa encrenca. Entre os signatários, Richard Cheney e Donald Rumsfeld. A dupla tem mais de 40 anos de experiência em Washington e patrocinou as guerras de George W. Bush. Dois republicanos que não comiam mel, comiam abelha. Suas assinaturas mostram que o núcleo tradicional do partido afastou-se de Trump. Atitude inédita, o manifesto colocou os Estados Unidos no triste patamar de repúblicas latino-americanas. Como nenhum dos signatários têm biografia de vivandeira, é razoável supor que havia algo no ar além dos aviões de carreira. Sabe-se, por exemplo, que um general da reserva, integrante do pelotão palaciano, circulou a ideia de colocar os Estados Unidos sob lei marcial e um assessor de Trump falou num possível adiamento da posse de Biden. O que está acontecendo em Washington é o maior espetáculo da Terra. Coisa nunca vista, com promessa de novas emoções. Felizmente, o comportamento do secretário de Estado da Geórgia e dos ex-secretários de Defesa mostram que as instituições dos Estados Unidos funcionam. Vai daí que no dia 20 irá ao ar o último. Não se sabe o que Trump fará. Ele pode imitar John Adams, que foi-se embora da cidade na noite da véspera da posse de Thomas Jefferson. Poderia também sair da Casa Branca para um prédio que fica a uns poucos minutos de carro. Lá funciona a Associação Americana de Psiquiatria.”

Hoje é o dia da chapa vencedora ser oficializada em Washington, e jusytamente nesse dia Trump incentivou protestos na capital americana e falou em frente à Casa branca:

“— Nunca vamos desistir, nunca vamos reconhecer [a derrota] — declarou Trump, a duas semanas da posse de Joe Biden, quando acaba seu mandato. Ele voltou a declarar que venceu a eleição por “uma grande margem”, apesar dos resultados finais mostrarem uma diferença de mais de oito milhoes de votos a favor do democrata. Trump voltou a defender que o vice-presidente, Mike Pence, rejeite os resultados do Colégio Eleitoral, o que ele não pode legalmente fazer.

— Se Pence fizer a coisa certa, venceremos a eleição — declarou, trazendo alegações não comprovadas de fraudes na eleição de novembro.

Ele também colocou pressão sobre os congressistas de seu partido para que votem com ele na sessão desta quarta-feira.

— Hoje vamos ver se os republicanos agem em defesa de nossa Constituição, se eles agem em defesa de nosso país — Vamos ver se temos líderes corajosos ou se temos líderes que deveriam se envergonhar. Nunca vamos nos esquecer do que eles farão hoje.

Para ele, confirmar os resultados do Colégio Eleitoral “será o fim do Partido Republicano”, e lembrou que, daqui a um ano, começa a campanha para as eleiçoes legislativas, sugerindo que não estará ao lado de quem não o apoiar agora.

— Precisamos nos livrar dos nomes ruins.

O presidente atacou o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, por bloquear seu plano para pagar um auxílio de US$ 2 mil aos americanos por conta da Covid, sugerindo que isso pode ter afetado os resultados da corrida para o Senado na Geórgia. Ele ainda ironizou os ataques sofridos pelo senador Mitt Romney, um de seus maiores desafetos no partido, durante um voo na terça-feira, quando foi vaiado por passageiros.” [O Globo]

E que foto, senhoras e senhores:

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>>>> Maldito Ernesto! “Mais de 500 dias após ser cobrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as falas de Jair Bolsonaro sobre o desaparecimento de Fernando Santa Cruz na ditadura militar, o governo federal ignora o assunto e não enviou uma explicação à entidade. Há duas semanas, em resposta a um requerimento de informações do deputado Marcelo Calero, do Cidadania do Rio de Janeiro, Ernesto Araújo escreveu que “não há prazo para envio de eventual resposta do Estado brasileiro”. O chanceler limitou-se a afirmar que fez uma consulta ao Ministério dos Direitos Humanos para obter “subsídios” sobre o caso, ainda em agosto de 2019, sem fornecer mais detalhes. Naquele mês, relatores da ONU alertaram formalmente o governo brasileiro que Bolsonaro tinha a obrigação de explicar seus comentários sobre o desaparecimento de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, atual presidente da OAB. Em julho de 2019, Bolsonaro afirmara que Felipe Santa Cruz não sabia a “verdade” sobre a morte do pai, em mais um episódio da tática bolsonarista de fazer acusações graves sem mostrar provas. Dias antes da fala de Bolsonaro, a Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério dos Direitos Humanos havia emitido um atestado de óbito para Fernando Santa Cruz, apontando que Santa Cruz foi morto pelo Estado. Segundo o documento, o então estudante de Direito “faleceu provavelmente no dia 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro/RJ, em razão de morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985″.” [Época]

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