Dia 492 | É você, Nixon?! | 07/05/20

Logo mais atualizo o podcast de ONTEM por aqui. E você ouve os episódios lá na Central3: [Central3]

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1. Comigo não tá

Espero do Celso de Melo nada menos que um remake brasiliense de ‘Dia de Fúria’.

“A determinação do ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), para o Planalto entregar a gravação em vídeo de uma reunião de ministros do dia 22 de abril, citada por Sergio Moro em depoimento à Polícia Federal, provocou uma guerra de versões de auxiliares de Jair Bolsonaro sobre quem teria manuseado o material e a extensão dele. Aliados do presidente divergem sobre quem esteve com o cartão de memórias da gravação, mas já afirmam que o vídeo não captou o encontro por inteiro e que deverá ser entregue uma versão curta da reunião ao Supremo.” [Folha]

Inacreditável, viado, inacreditável essa porra! Não à toa em sua decisão Celso de Mello tinha delicadamente sugerido ao governo que resguardasse a integridade dos registros, em áudio e vídeo.

“O chefe da assessoria especial da Presidência da República, Célio Faria Júnior, nega que esteja com o vídeo e afirmou, em nota enviada à Folha, que não compete à sua área “o registro de imagens de reuniões, tampouco o arquivo de eventuais registros”. “As reuniões realizadas na Presidência da República são eventualmente gravadas pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), com a única finalidade de divulgar as imagens da agenda presidencial, na sua maioria registros curtos e pontuais”, afirmou. Nesta terça (5), o site O Antagonista citou Faria como o auxiliar de Bolsonaro que teria ficado com o cartão de memória da gravação e o formatado. Segundo a publicação, o assessor devolveu o material a outros integrantes do Planalto apenas nesta terça e sem conteúdo.”

“Nesta quarta (6), Faria negou que esteja com o material: “Não tenho qualquer vídeo”. Outros auxiliares de Bolsonaro, porém, dizem que na semana passada o assessor pediu, sim, acesso ao vídeo. E, apesar de Faria ter dito que as reuniões são eventualmente gravadas pela Secom, aliados do presidente dizem que Fábio Wajngarten, que chefia o órgão, não está com a gravação. O registro da reunião teria sido feito pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que, segundo integrantes do Planalto, grava imagens para serem utilizadas institucionalmente. No caso específico da reunião do dia 22, pessoas ligadas a Bolsonaro dizem que o encontro não foi gravado do início ao fim. Procurada oficialmente para comentar o assunto, a Secretaria de Comunicação respondeu que “o Planalto não comentará” o tema.”

Vai falar o quê? Somos dementes incapazes de guardar uma gravação?

“Na semana passada, Bolsonaro chegou a dizer que divulgaria o vídeo da última reunião ministerial da qual participou Moro. Segundo o presidente, ele teria cobrado o ministro sobre as prisões de pessoas que desrespeitam a quarentena. Na mesma semana, porém, Bolsonaro recuou e disse que foi aconselhado a não divulgar o material.”

Sabe como é, alguém deve ter lembrado ao presidente que ninguém é obrigado a produzir provas contra si próprio, né?

“A AGU (Advocacia-Geral da União) recorreu da decisão do ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), de obrigar o governo a entregar a gravação da reunião em que o presidente Jair Bolsonaro teria ameaçado demitir o então ministro da Justiça, Sergio Moro, caso não trocasse o diretor-geral da Polícia Federal. No recurso de uma página, a AGU pede que Celso de Mello reconsidere a decisão com o único argumento de que a reunião pode ter sido “tratados assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado, inclusive de Relações Exteriores, entre outros”.” [Folha]

UMA PÁGINA, porra!

“Será uma grande surpresa se o ministro Celso de Mello acolher o pedido da Advocacia-Geral da União para que ele reconsidere a ordem de entrega do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. O decano concedeu 72 horas – faltam 44 delas – para que o Planalto forneça a gravação “intacta” do encontro. Caso a ordem não seja cumprida, ou o vídeo tenha sido destruído, como se noticiou, um fato menor no inquérito deve acabar por provocar um terremoto: o Planalto pode ser alvo de uma busca e apreensão e os responsáveis pelo material, presos preventivamente. O assunto é sério. Vortex está a par do caso por meio de fontes confiáveis, com conhecimento direto do tema. Essas opções mais duras estavam em discussão no final da noite.” [Vortex]

E olha o precedente jurídico, viado!

“A pessoas próximas, o ex-ministro Sergio Moro cita o caso United States vs Nixon como um precedente para a decisão que Celso de Mello precisará tomar. Em 1974, em meio à investigação do Watergate, a Suprema Corte americana ordenou, por unanimidade, que a administração Nixon entregasse a um procurador especial as gravações do gabinete do presidente. (No decorrer do caso, descobriu-se que Nixon gravava todas as suas conversas no gabinete oval.) Os ministros da Suprema Corte entenderam que o “privilégio executivo” do presidente – que resguarda o sigilo de suas comunicações internas – não é absoluto. O teor das fitas era devastador. Mostravam que Nixon estava por trás do arrombamento da sede do Partido Democrata, em 1972. Também expunham crimes em série cometidos pelo presidente americano. Nixon renunciou logo depois.”

E que belíssima condução do Celso, hein, repara:

“Se o presidente Jair Bolsonaro for ouvido nesta investigação iniciada a partir das declarações do ex-ministro Sergio Moro, a oitiva dele será presencial e não por escrito como ocorreu com o ex-presidente Michel Temer. É a conclusão de especialistas a partir do que está escrito na decisão do ministro Celso de Mello. Presidentes dos poderes podem optar por responder às perguntas por escrito, mas o problema é que Celso de Mello avisou que isso só se aplica à autoridade que for testemunha ou vítima no inquérito. Não será o caso de Jair Bolsonaro.” [O Globo]

“Celso de Mello, na avaliação do Planalto, fez um movimento errado ao citar a possibilidade de coercitiva para os ministros militares arrolados no inquérito aberto a partir das acusações de Sérgio Moro. A reação do Planalto, mesmo em privado, foi considerada exagerada por um colega de Mello consultado pela Coluna. O decano atuou segundo o previsto em lei.” [Estadão]

Onde já se viu aplicar a porra da lei, né?

“A equipe de generais que auxilia Bolsonaro avalia que, embora os termos usados pelo ministro da Corte sejam jurídicos, a redação do texto foi “desrespeitosa” e “desnecessária” na referência a eles. Interlocutores do Planalto ouvidos pelo Estado reiteraram que Celso de Mello não levou em conta a trajetória de três militares do mais alto posto do Exército, considerados pessoas “acima de quaisquer suspeitas”.” [Estadão]

Os generais inventaram a figura jurídica do cidadão “acima de qualquer suspeita

“O clima é de desconforto no Palácio e nas Forças Armadas. Oficiais da ativa e da reserva de fora do governo fizeram coro e disseram que se sentiram atingidos e tratados como “bandidos”.”

Imagina, eles só fazem parte dum governo dum pilantra que louva torturador e homenageia assassinos como o Curió.

“Na Presidência, a decisão de Celso de Mello foi discutida em reunião, na manhã de ontem, quarta-feira, no Palácio. Chegou-se a pensar em uma reação às expressões usadas por Mello, mas a turma do “deixa disso” entrou em campo, tentando amenizar a situação. O entendimento no Planalto foi de que não se tratava de um caso do Ministério da Defesa e dos comandos militares, mas de “ministros da Presidência”.”

Que saudade da justiça militar, né, generais?! Chupem que é de uva, seus trouxas do caralho! #paz

“A parte do texto que chamou a atenção de um procurador, da cúpula do MP, é a que estabelece a “aplicabilidade somente às testemunhas da prerrogativa fundada no artigo 221 do Código de Processo Penal”. Pelo artigo, parágrafo primeiro, presidente e vice-presidente e presidentes do Senado, Câmara e STF quando forem ouvidos em um inquérito podem fazê-lo por escrito. O problema é que o ministro Celso de Mello disse que apenas se a autoridade em questão estiver na condição de testemunha.”

“A dúvida que fica é se o PGR vai mesmo requerer essa diligência. Em 2017, o ministro Luís Roberto Barroso, durante o inquérito dos Portos, respondeu ao pedido da Procuradoria-Geral da República de ouvir o ex-presidente Temer afirmando que “mesmo figurando o senhor presidente como investigado, seja-lhe facultado indicar data e local onde queira ser ouvido pela autoridade policial, bem como informar se prefere encaminhar por escrito sua manifestação, assegurado ainda seu direito constitucional de permanecer em silêncio”. A interpretação de Barroso à época é a de que não havia previsão legal sobre a oitiva de presidente da República em um inquérito em que é investigado. O CPP fala apenas de o presidente ser ouvido como testemunha. A questão que se coloca agora é que o ministro Celso de Mello escreveu e grifou a afirmação de que só para testemunha é que cabem as prerrogativas do artigo 221.”

“A decisão do ministro Celso tem outro ponto importante que é a de dar mais poderes à Polícia Federal. A PF poderá tomar a iniciativa de investigar, mesmo sem pedido específico da PGR. “Acentuo que a Polícia Federal, independentemente das diligências investigatórias requeridas pela douta Procuradoria-Geral da República, poderá por autoridade própria proceder a outras atividades de caráter investigatório, tais como aquelas sugeridas pelo senhor Sergio Fernando Moro no depoimento que prestou.” E ele sugeriu, por exemplo, a requisição à Abin dos protocolos de encaminhamento dos relatórios de inteligência feitos com base nas informações da Polícia Federal. Era para mostrar que relatórios de inteligência o presidente sempre teve da PF. O que não tinha era acesso a investigações. E isso ele não poderia mesmo ter.”

Que baile!

Hora de concordar com o Merval, é puxado, eu sei, mas tenha força, “você é meu guerreirinho“:

“O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro deu uma pista importante em seu depoimento à Policia Federal no inquérito que investiga a possível tentativa de interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal. Disse que será possível verificar na Polícia Federal e na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que todas as informações “legais” foram passadas à presidência da República, não se justificando a reclamação do presidente. Não é uma simples disputa entre chefe e subordinado sobre o cumprimento de funções, mas a pista para se confirmar que Bolsonaro não estava satisfeito com os limites legais que o impediam de ter acesso a outras informações da Polícia Federal, ato que passaria a ser ilegal. Além dos indícios de provas que serão ou não investigados pelos promotores, há o vídeo citado por Moro da reunião ministerial onde Bolsonaro o teria ameaçado de demissão por não dar informações sobre a PF, e o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) explicado que aquele tipo de informação não poderia ser fornecida.” [O Globo]

Sim, mil vezes sim!

“Neste caso, ficaria caracterizada a tentativa do presidente de interferir indevidamente na PF. Por absurdo, confirmada a hipótese de o vídeo ter sido apagado, ficará claro que há alguma coisa a esconder, o que configuraria obstrução da Justiça, um crime óbvio. Foi assim que terminou a presidência do então presidente Richard Nixon, no caso Watergate nos Estados Unidos, quando parte de uma gravação de conversa em seu gabinete foi deletada pela secretária do então presidente americano, alegadamente por acidente. Alegação que se tornou ridícula.”

Interferência, obstrução de justiça, destruição de provas, é você, Nixon?!

Eu vejo boa parte dos vídeos do presidente – que desgraça! – e Bolsonaro cansa de limpar nariz e lábios com a mão e a manga do paletó.

“Na PGR e mesmo no Supremo, a sugestão de Marco Aurélio Mello para que decisões sobre atos de competência de outros Poderes (nomeações do Executivo, por exemplo) sejam tomadas apenas pelo plenário da Corte foi vista como improvável de ser acatada. O próprio ministro Marco Aurélio Mello, por sua vez, já decidiu liminarmente dar seguimento ao impeachment de Michel Temer e pediu o afastamento de Renan Calheiros (MDB-AL) da presidência do Senado.” [Estadão]

Com a devida vênia, ministro, não fode, porra!

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2. A marcha presidencial

Caralho, que troço constrangedor. De última hora Bolsonaro marcou reunião com Toffoli e foi a pé ao STF, ao lado de empresários. Sabe como é, pandemia, vamosdá um pulinho a pé no STF, tem nada melhor pra fazer mesmo, né?

“O presidente Jair Bolsonaro levou 15 empresários e dirigentes de associações para conversar nesta quinta (7) com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli. Eles representam diversos setores, como o têxtil, de produção de cimento, energia, cimento, farmacêutico, de máquinas, calçados e energia. Na reunião, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a economia estava começando a colapsar. De acordo com relatos, Bolsonaro voltou a criticar governadores e prefeitos pelo exagero na adoção de medidas restritivas de isolamento social. Foi uma visita surpresa, marcada de última hora, e que ocorre depois do ensaio de uma crise institucional entre o presidente e a corte. Bolsonaro foi caminhando até o STF, seguido pelos empresários e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes e cercado por seguranças e pela imprensa. Além de Bolsonaro, estavam presentes diversos ministros, como Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Paulo Guedes (Economia) e o senador Flávio Bolsonaro.” [Folha]

Os generais se adiantaram e já foram depor, é?! É impressionante como ninguém do governo tem trabalho na mesa…

“Bolsonaro reuniu-se nesta manhã com representantes de diversos setores da economia. Estiveram no encontro presidentes de associações de fabricantes de veículos, indústria química, farmacêutica, construção, calçados, entre outros. — 45% do PIB brasileiro vieram nos contar que economia brasileira está conseguindo preservar sinais vitais. Eles (ministros) vão simplesmente ouvir — disse Guedes. — Visita de cortesia ao Supremo para eles terem as mesmas informações que nós recebemos. Ao ser questionado se a visita tinha o objetivo de “pressionar” o STF, Bolsonaro pediu ao repórter que parasse de “falar besteira”. Também foram ao Supremo os ministros André Mendonça (Justiça), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).”

Senti falta do “cala boca” no melhor estilo general Newton Cruz em 83.

“Jair Bolsonaro promoveu nesta quinta-feira, de supetão e fora da agenda, uma marcha pela Praça dos Três Poderes cujo objetivo político, institucional e simbólico foi aumentar a pressão sobre o Supremo Tribunal Federal no momento em que o Judiciário reconheceu autonomia de Estados e municípios para regularem a quarentena e investigam as sucessivas investidas do presidente sobre as instituições e a independência dos Poderes. O discurso de Bolsonaro, de Guedes e dos empresários foi duro, de clara pressão sobre o Supremo. Numa postura imperial e semblante fechado, o presidente nem sequer olhava para a cara do presidente do STF. Um empresário fez menção à possibilidade de “morte de CNPJs” num momento em que o número de pessoas mortas no Brasil já está acima das 8,5 mil.” [Estadão]

Imagina, Bolsonaro pressionando o STF?! O presidente que participou dum punhado de manifestações pedindo o fechamento da Suprema Corte!? O pai do senador que falou em fechar a suprema corte com um cabo e um soldado?! Não pode ser, deve estar havendo algum engano.

Essa preocupação com o falecimento de CNPJs se deu quando alcançamos quase 9 mil mortes e o Brasil se torna o novo epicentro da epidemia. Agora relembre o que Boslonaro falou em 29 de abril:

É tudo tão absurdo que em pleno STF Bolsonaro ameaçou lançar um monte de decretos inconstitucionais:

“Bolsonaro ameaçou editar uma série de decretos ampliando os setores fundamentais da economia que poderiam funcionar mesmo que as regras de distanciamento sejam apertadas, com a decretação de lockdown em vários Estados e municípios, que já começam a adotar essas medidas. Bolsonaro falou na necessidade de voltar à “atividade normal”. “Não tem essa história de que primeiro vida e depois a economia”, chegou a dizer. Em seguida, afirmou que, “depois da UTI vem o cemitério” para as empresas. Evocou o testemunho de empresários que falaram da queda de vendas de veículos e outras atividades econômicas.”

“Integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliaram ao blog que o presidente Jair Bolsonaro fez um movimento improvisado nesta quinta-feira (7) para tentar dividir com o STF o ônus dos efeitos da pandemia do coronavírus e constranger o tribunal. Na avaliação desses integrantes, porém, Bolsonaro teve os planos frustrados. Isso porque o presidente do STF, Dias Toffoli, disse ser preciso respeitar a ciência na tomada de decisões. Toffoli também defendeu a criação de um comitê para discutir medidas, de maneira conjunta, entre União, estados e municípios.” [G1]

E lá vou eu elogiar o Toffoli, que fase. Resposta no tom correto, embora tenha saído aí que ele elogiou os esforços do governo no combate à pandemia mas não encontrei essas aspas nem fodendo.

Ah, e os dementes transmitira reunião ao vivo dentro do STF sem avisar ao… STF!

“A percepção no STF é que Bolsonaro, ao levar o grupo de empresários e ministros, quis criar uma saia-justa para o STF. Inclusive, causou mal-estar entre integrantes da Corte o fato de a equipe de Bolsonaro ter transmitido ao vivo o encontro sem informar a Toffolli. Sobre o fato de a agenda não ter sido marcada previamente, o assunto foi minimizado, uma vez que o presidente Bolsonaro costuma adotar estilo mais informal. A avaliação interna é que o STF deve estar sempre disponível a receber o presidente da República.”

De quebra os empresários não sabiam que iriam a pé ao STF e se borraram de medo de contrariar o Bolsonaro quando “convidados”:

“Alguns empresários que acompanharam o presidente há pouco numa inesperada ida ao STF, para advogar contra o isolamento social, reclamaram da decisão de Bolsonaro de atravessar a rua e, com eles, ir até Dias Toffoli para defender o fim do isolamento social.  Durante a reunião com empresários da Coalizão Indústria, liderada por Marco Pollo, do AçoBrasil, um assessor de Bolsonaro telefonou para o STF e Dias Toffoli topou recebê-los. De sopetão, Bolsonaro anunciou a ida e ninguém se sentiu à vontade de dizer, mesmo os que não consideraram a maneira adequada.” [Época]

E o empresariado brasileiro, Costinha?

costinha

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3. De Bolsonaro para Guedes

Com amor e carinho:

“O presidente já disse que é o ministro Paulo Guedes quem manda na economia. Mas na prática Jair Bolsonaro negou essa frase. A equipe econômica queria o congelamento de salário dos servidores. Na quarta-feira, no entanto, o líder do governo deixou de fora da regra diversas categorias do funcionalismo, especialmente da área de segurança. Fez isso a pedido do presidente.” [O Globo]

Palavras do Major Vitor Hugo, líder do governo no Congresso.

“Desse plenário eu liguei para o presidente eme certifiquei que era a mlhor solução. E o preesidente, 22h de ontem disse “Victor Hugo,”, faça da melhor maneira… Foi uma determinação do presidente da República, cumprida pelo líder do governo. Eu sou líder do governo, não de qualquer ministério.” [Folha]

“A área econômica sugeriu que o Congresso incluísse na proposta também os servidores federais, e não só o funcionalismo municipal e estadual. O próprio presidente bombardeou a proposta. Quando a sugestão chegou à Câmara, o primeiro telefonema que o relator recebeu foi de um ministro militar. Ele pedia que as Forças Armadas ficassem de fora dessa regra. Outro ministro militar também pediu que não houvesse congelamento para os policiais. Jair Bolsonaro sempre foi corporativista durante sua carreira parlamentar. Defendia os interesses dos militares e dos policiais. Como presidente, continuou assim. Ele já havia privilegiado essas categorias na reforma da Previdência. A defesa corporativista de Bolsonaro bate de frente com as posições da equipe econômica. Não é verdade que o ministro manda na economia. O presidente venceu mais essa disputa com Guedes, que tem acumulado derrotas.”

E Bolsonaro recuou, viado!

“O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 7, que vai vetar o trecho do projeto de ajuda aos estados que abre possibilidade de reajuste salarial para categorias de servidores públicos, mesmo em meio à pandemia de coronavírus. “Eu sigo a cartilha de Paulo Guedes na economia. Se ele acha que deve vetar, assim será feito”, disse o presidente.” [Estadão]

Entendeu? Ele orientou o líder do governo a aprovar e na sequência avisou que vai vetar!

E por falar no desespero do Guedes…

“O auxílio emergencial para trabalhadores informais já beneficiou 50 milhões de pessoas, mas esse número deve crescer para pelo menos 80 milhões e pode chegar a 112 milhões, mais da metade da população brasileira, caso a crise gerada pelo coronavírus gere mais perda de renda. A IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão do Senado, realizou uma série de simulações com base nos dados das estatais Caixa e Dataprev até 1º de maio. Mantido o número de pessoas já beneficiadas com o primeiro pagamento, a despesa em três meses ficaria em R$ 96,5 bilhões. Se o governo mantiver o percentual de aprovação das pessoas cadastradas (nem todas foram analisadas e algumas tiveram o benefício negado), serão 63 milhões de brasileiros e uma despesa de R$ 120,4 bilhões. Esse é praticamente o valor que o Tesouro Nacional já reservou para fazer os pagamentos (R$ 123 bilhões). Na avaliação do analista da IFI Alessandro Casalecchi, responsável pelo estudo, o cenário mais provável é aquele que considera a inclusão de mais 17 milhões a esse número, totalizando 38% da população e uma despesa de R$ 154,4 bilhões, cerca de cinco anos de gastos do Bolsa Família. Nesse caso, o governo terá de arranjar mais R$ 30 bilhões. No cenário mais extremo, seriam pagos R$ 218 bilhões a 112 milhões de brasileiros, 53% da população.

Há três grupos de beneficiários que receberão R$ 600 ou R$ 1.200 do chamado “coronavoucher”. O primeiro é formado por trabalhadores informais que se cadastraram via aplicativo da Caixa. São 20 milhões já recebendo e que devem se tornar 40 milhões no principal cenário da IFI. O cálculo considera que será mantido o percentual de aprovação de 66% dos cadastrados. Até o momento, 46 milhões de pessoas se inscreveram, mas 10,8 milhões tiveram o benefício negado, 13,7 milhões terão de completar o cadastro e 1 milhão ainda espera processamento dos dados. O segundo é formado por cidadãos que já recebiam o Bolsa Família (com valor médio de R$ 191,86) e agora vão receber um valor maior. A expectativa é que o número de beneficiados suba de 19 milhões para 20 milhões, pois a maior parte do cadastro já foi analisada nesse caso. O terceiro é composto por inscritos no Cadastro Único do governo, mas que não recebiam Bolsa Família. São 10,8 milhões já recebendo o “coronavoucher”, mas que devem chegar a pelo menos 20 milhões, segundo a IFI.

Atualmente, os elegíveis representam apenas 34% do total do grupo. Com um eventual agravamento das condições econômicas, segundo a instituição, parte dos demais 66% (21,3 milhões de pessoas) poderia se tornar elegível, à medida que sua renda cai ou seu emprego é perdido. “É muito difícil saber a quantidade total das pessoas que vão perder emprego e renda. O pessoal do grupo 3 já está em uma certa situação de vulnerabilidade e pode acabar perdendo renda com a deterioração da economia e alimentar o contingente final de elegíveis”, afirma Casalecchi. “O aumento do desemprego elevará o número de elegíveis.” Os cálculos consideram apenas as regras vigentes. Recentemente o Senado aprovou projeto que aumenta as categorias contempladas pelo auxílio emergencial (como motoristas de aplicativos, taxistas, caminhoneiros, músicos, pescadores artesanais, catadores de materiais recicláveis, mães adolescentes e pais solteiros), entre outras mudanças, com despesa adicional estimada em R$ 13 bilhões pelo Ministério da Economia. Também foram estimados os valores para três meses. Caso a quarentena dure mais tempo, o governo terá de gastar mais. Há uma dúvida jurídica em relação à possibilidade de pagamento das três parcelas para pessoas que só se tornarem elegíveis em maio e junho. A IFI considerou que todos receberão três pagamentos” [Folha]

E esse governo é muito vil:

“Os últimos meses têm sido difíceis para o boliviano Raul Aruquipa, 33, que mora há cinco anos em São Paulo. Costureiro desempregado, ele recebe o Bolsa Família e diz que teve o pedido de seu auxílio emergencial negado em quatro agências da Caixa Econômica Federal. Aruquipa diz ter uma doença neurológica, o que restringe as tarefas que pode assumir no setor da confecção e já tinha problemas financeiros antes da pandemia. Agora, sem ter como fazer bicos, afirma ter sido despejado por não ter conseguido pagar o aluguel de um apartamento na zona leste. Passou a viver de favor na casa de uma amiga em uma comunidade no bairro da Penha. “Fui a quatro agências diferentes da Caixa pedir o benefício de R$ 600, mas sempre me trataram mal e disseram que só poderia receber se tivesse carteira de trabalho, que eu perdi. Não posso tirar uma nova porque está tudo fechado por causa do coronavírus. Apresentei documentos bolivianos na Caixa, mas não aceitaram”, afirma. Segundo a DPU (Defensoria Pública da União), há vários casos com o de Aruquipa, e eles contrariam a lei. A DPU afirma que os estrangeiros têm direito ao benefício e que os bancos não podem negar o pagamento se a pessoa pessoa tiver o CPF regular e ao menos um documento com foto, ainda que emitido por outro país e fora da validade. O órgão ajuizou uma ação civil pública contra a Caixa Econômica Federal e o BC (Banco Central) na última segunda-feira (6). “Uma quantidade significativa de imigrantes está potencialmente alijada do direito por questões puramente operacionais, derivadas da insuficiente normatização” pelo banco, diz o texto.” [Folha]

Esse governo é sempre muito transparente:

“Procurada, a Caixa Econômica Federal não se manifestou até a conclusão deste texto, nem respondeu questionamentos da Folha sobre o número de imigrantes que tiveram o auxílio negado pela Caixa por falta de documentos. O Banco Central, do qual a DPU requer que exija que o pagamento seja feito a imigrantes, afirmou que não comenta ações judiciais.”

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4. Heleno & Ramagen

Olha o naipe da demência:

“O ministro-chefe do GSI, general Augusto Heleno, delegou a Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, uma série de atribuições administrativas que aumentam a autonomia da Abin. Apelidada nos corredores da agência de “transfusão de sangue”, a delegação de poderes ocorreu por meio de uma portaria publicada em 5 de fevereiro e que passou despercebida no Diário Oficial. A mudança diminui o poder do GSI sobre a Abin, que poderá implementar diretrizes e tocar a burocracia sem prévio aval do general Heleno. No Palácio, assessores comentam que o ministro “não tem sossego”, pois é demandado diariamente por Jair Bolsonaro. Na Abin, a “transfusão” foi interpretada de outro jeito. Heleno estaria lavando as mãos sobre a gestão de Ramagem, considerado próximo de Carlos Bolsonaro. Segundo o texto da portaria, o diretor da Abin poderá ratificar dispensas de licitação, autorizar celebração de novos contratos e prorrogação dos que estão em vigor, além de autorizar a concessão de diárias e passagens a servidores, militares, empregados públicos ou colaboradores eventuais da agência. “As coisas vão andar mais rápidas e com menos controles”, avalia um integrante da agência.” [Não lincamos Antagonista]

Eu vou de opção B, Heleno sabe que vai dar merda e tá tentando limpar suas digitais da cena do crime.

Vamos para a PF:

“A escolha do delegado Tácio Muzzi para a superintendência da Polícia Federal do Rio foi bem recebida no órgão em meio a uma intensa desconfiança. Há ainda, no entanto, receios. Cinco postos de chefias em estados estão abertos e as próximas decisões serão decisivas neste primeiro momento.” [Folha]

Até o Freixo gostou do nome.

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5. Toma-lá-dá-cá virtuoso

O governo ligou o foda-se de tal forma que terceirizou ate a distribuição de cargos:

“Gigantes do chamado centrão, como PP, PL e Republicanos, estão gerenciando a distribuição de cargos do governo federal para atrair partidos menores para a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). ​O Diário Oficial da União desta quarta-feira (6) trouxe a nomeação de Fernando Marcondes de Araújo Leão como diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), com salário de R$ 16.944,90.Parlamentares e um técnico do governo disseram à reportagem que a indicação de Leão para o cargo foi levada ao governo pelo líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), um dos interessados em disputar a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara em fevereiro de 2021. Procurado, Lira, que esteve no Palácio do Planalto no fim desta manhã, não respondeu à reportagem.” [Folha]

Vai ver ele foi no palácio cantar com Heleno “se gritar pega Centrão não fica um, meu irmão“.

“Segundo relatos feitos reservadamente à Folha por quatro parlamentares de três siglas que integram o bloco do centrão, as legendas maiores têm um guarda-chuva com outras menores em busca de uma base de apoio para Bolsonaro no Congresso. Entre os cargos negociados por eles com Bolsonaro estão Banco do Nordeste, Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação), Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e secretarias do Ministério de Desenvolvimento Regional, entre outros.​ Segundo um destes parlamentares, o PP (com 40 integrantes na Câmara) e os nanicos de seu grupo somam 80 deputados. O centrão como um todo tem cerca de 200 deputados, número suficiente para barrar ameaças contra Bolsonaro, de pautas-bomba a eventuais pedidos de impeachment.”

E veja que ironia maravilhosa:

“Quando questionado sobre o assunto, Bolsonaro vinha repetindo que só poderia ser cobrado de algo que fosse publicado no Diário Oficial da União. Nesta quarta-feira (6), quando isso aconteceu, Bolsonaro não parou para falar com os jornalistas na porta do Palácio do Alvorada, como costuma fazer diariamente.”

E o pessoal do PP tá puto, folgo em saber:

“O nome Fernando Leão chegou a Arthur Lira por intermédio do deputado Sebastião Oliveira (PE), que, embora ainda esteja filiado ao PL, comanda extraoficialmente o Avante em Pernambuco.  indicação do filiado ao Avante irritou alguns deputados do PP, que veem no gesto uma tentativa de Lira de angariar apoio para sua candidatura à presidência da Câmara. Além disso, estes parlamentares reclamam do tamanho dos cargos que estão sendo negociados, já que Bolsonaro tem blindado até agora o primeiro escalão de seu governo.”

Aos bolsonaristas restou alegar demência, e isso aí eles fazem com um esmero desmedido:

“A nomeação feita por Jair Bolsonaro de Fernando Leão como diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas para se aproximar do centrão não abalou o apoio dos deputados que são seus seguidores mais fiéis, mas gerou confusão. As reações oscilaram entre o alegado desconhecimento, as críticas a fake news e a incerteza sobre os propósitos da manobra. Na terça (5), ao falar do acordo, Bolsonaro desconversou e disse que não havia nenhum nome publicado no Diário Oficial. A deputada Alê Silva (PSL-MG) disse que nunca ouviu qualquer conversa sobre o tema nos grupos bolsonaristas de WhatsApp ou em cafés da manhã com o presidente e que para a ala bolsonarista é como se o tema “não existisse”. Daniel Silveira (PSL-RJ) diz que dá o benefício da dúvida ao presidente, que, segundo ele, dificilmente erra, e reforça que confia em Bolsonaro. Ele diz que mais para a frente será possível dizer de que maneira essa nomeação se encaixa em um projeto mais amplo. E completa: “uma mentira dá a volta ao mundo enquanto a verdade coloca as calças”, sobre as críticas à nomeação.” [Folha]

calaboca

Dificilmente erra“, viado!

“Felício Laterça (PSL-RJ) argumenta no mesmo sentido e diz que agora não é possível emitir uma opinião definitiva sobre o tema. Segundo ele, somente o tempo poderá dizer se foi uma medida “salutar ou não”. “Se houver corrupção por indicação política, aí sim veremos um reflexo negativo”, afirma.”

tenor (1)

“Salutar”, porra!

“Bibo Nunes (PSL-RS) diz que o presidente não faz o “toma lá dá cá”, e isso que importa. “Ele distribui para os que estão com ele. Vai dar para o PT?””

frases

“A deputada Bia Kicis (PSL-DF) afirma que “não há corrupção no governo” e, apesar da entrega de cargos a novos aliados, quem for pego envolvido em desvios “vai rodar”. “A indicação não é um problema, o que importa é o que essa pessoa vai fazer com o cargo”. “É claro que a gente sempre combateu o centrão porque tem pessoas aí que têm problemas com a Justiça… agora, o presidente está em um momento delicadíssimo e ele precisa de apoio”, afirma Bia.”

Vai ver o ministro do Turismo não é ministro do Turismo, né? E vai ver os demais presidentes apelavam ao Centrão por prazer de ser extorquido, sabe? Sadomasoquismo…

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6. Covid-17

Esse estudo da Fiocruz é tão punk que ganhou tópico próprio.

“O relatório da Fiocruz enviado ao governo do estado e à prefeitura do Rio nesta quarta é bastante duro e assertivo na defesa de adoção de medidas mais rígidas de isolamento. Segundo a Fundação, a adoção tardia de lockdown “resultaria em uma catástrofe humana de proporções inimagináveis para um país com a dimensão do Brasil”. A nota analisa ainda que, dado a inexistência de vacina, ações de lockdown podem ser usados de forma intermitente, ou seja, acionado e depois relaxado alternadamente, por um longo período, de 18 a 24 meses.” [Extra]

Isso se tudo der certo com a vacina criada em tempo recorde, que paulada.

“A Fiocruz respondeu que o objetivo do novo relatório é “salvar vidas” e que se baseia “em análises técnico-científicas”. Uma projeção feita pelos pesquisadores mostra que, de acordo com o panorama atual, entre os dias 13 de maio e 22 de julho, o estado não teria leitos de UTI, seja da rede pública ou privada, para ofertar. Outra projeção mostra que o coronavírus deve se espalhar por praticamente todo o estado, mesmo naqueles municípios que hoje têm menos de 50 casos.”

Aí você vê esses arrombados “ah, mas tem cidades com pouquíssimos casos”, e a vontade é pegar a porra da progressão exponencial e enfiar na bunda desses escrotos.

“Fila única de leitos, integrando redes privada e pública: essa ação é defendida por diversos especialistas em saúde, já que muitos hospitais privados estão com leitos ociosos devido à suspensão de cirurgia eletiva. Para a Fiocruz, “a existência de fluxos claros e de centrais públicas, únicas e integradas de regulação do conjunto de leitos disponíveis (federais, estaduais, municipais e privados) são importantes para tornar mais ágil e racional o fluxo de pacientes no sistema, diminuindo o risco de contágio, aumentando a sobrevida dos pacientes, a eficiência, a efetividade e a equidade no uso dos recursos disponíveis.”

E tem quem ache um absurdo. Ora, que se tente negociar, algo que deveria ter sido pensado desde Fevereiro, se não rolar que o estado tome posse dos leitos, simples assim

“Saída do Lockdown: A abertura ocorreria a partir de: “dados epidemiológicos confiáveis que apontem queda da incidência por no mínimo 15 dias; disponibilidade de recursos para assistência a casos graves: capacidade ociosa de leitos de 30 a 50%; disponibilidade de testes diagnósticos para a identificação de casos de infecção (testes moleculares) e para inquéritos sorológicos (testes sorológicos) que permitam conhecer em que regiões o vírus está circulando e a proporção da população já infectada”.”

Essa entrevista com Rafael Gallinez, infectologista e especialista em vigilância epidemiológica é uma paulada –  a primeira resposta ´[e em qual estágio da pandemia nós estamos:

“Naquele em que não é preciso contrair o coronavírus para morrer em decorrência da Covid-19. O colapso dos hospitais significa a restrição do atendimento. Seja para uma pessoa com insuficiência respiratória devido à Covid-19 ou um infartado sem o vírus. A pandemia pegou o Brasil no pior momento. O coronavírus encontrou o SUS desestruturado, principalmente no estado do Rio. Sou infectologista, já vi doenças terríveis, como as epidemias de dengue, H1N1, zika e febre amarela. Na recente epidemia desta última, tivemos casos gravíssimos de hemorragias associadas, condição que deixava toda a UTI com cheiro de sangue. Mas nada é como agora. Criamos a falsa dicotomia entre manter economia viva e manter vivas as pessoas. Muita gente se recusa a entender que doentes se acumulam nos hospitais e não há profissionais e estrutura para atender a todos.” [O Globo]

Lembra do Mandetta falando em colapso do sistema de saúde?

“O problema não é só não ter um respirador e um equipamento de hemodiálise. Não há mais equipes de saúde suficientes e menos ainda médicos que saibam usar esses equipamentos. Não temos técnicos de hemodiálise suficientes. A situação no SUS é desesperadora. Mas mesmo os que podem pagar não terão facilidade no acesso ao tratamento, pois o sistema já está saturado. E os leitos estão com a mesma limitação, fruto da diminuição dos profissionais, uma vez que estamos nos infectando. Todas essas unidades que querem se expandir concorrem pelo mesmo número de profissionais com o SUS.”

Sobre a situação dos profissionais de saúde:

“É como numa guerra. Não temos medo da trincheira, mas precisamos ser tratados com dignidade. E o Brasil não tem tratado seus profissionais de saúde com dignidade. Há os que passam horas para ir e vir dos hospitais, expondo-se em pontos de ônibus. O salário de um técnico de enfermagem, tipo de profissional mais exposto ao vírus, não é digno. Precisamos de uma autoridade regional do SUS que saiba dizer com precisão de quantos profissionais, leitos e equipamentos dispomos em tempo real, de forma integrada. A sensação é de uma batalha sem general (sem controle centralizado e organizado), sem fuzis (ventiladores e outros equipamentos) e sem soldados (profissionais de saúde). Não precisamos mais de curvas de projeções de subnotificação, precisamos gerenciar os leitos necessários. Os mortos “batem à nossa porta”, enchem cemitérios, câmaras mortuárias e IMLs. A falta de comprometimento com o combate à pandemia gerou uma dicotomia entre economia e saúde. Temos as filas desordenadas na Caixa em busca do benefício muito aquém do necessário e os corpos enterrados em valas comuns em Manaus. Esse quadro mostra que o Brasil passou a praticar uma epidemiologia de corpos. Não há resposta de Estado que priorize a vida.”

E como eu quero esfregar, na base do soco, essa história naquela cara de babaca do mais vil dos presidentes:

“Numa escalada de contágio que parece não ter fim, a Covid-19 destruiu mais uma família na Baixada Fluminense. Pai e filhos tiveram as vidas interrompidas pela doença. José Gomes de Lima, de 80 anos, perdeu a batalha contra o vírus no último dia 24, no Hospital Geral de Nova Iguaçu. Seus filhos, Liliane Souza de Lima, de 51, e Leonardo Ferreira de Lima, de 44, morreram, respectivamente, no Hospital Municipal de Belford Roxo e na UPA de Mesquita, nesta segunda-feira.

Filho caçula de Seu José, o agente de saúde Leandro Ferreira de Lima, de 33 anos, tenta tirar forças da dor para amparar sua mãe e resolver a questão burocrática do sepultamento dos irmãos. O pai tinha um bar e mercearia no bairro Jardim da Viga, onde morava, e abriu o estabelecimento até um dia antes de ter os primeiros sintomas. Seis dias depois, ele morreu.

— Meu pai tinha um pequeno comércio e estava abrindo, apesar da situação. Ele ia até o Centro de Nova Iguaçu para fazer compras. Apesar da idade, era ativo. Falava que não gostava de usar máscara porque sufocava ele. Ele começou com tosse, febre e foi piorando. A falta de ar aumentou e fomos para o hospital — lembra Leandro, que levou o pai ao Hospital Geral de Nova Iguaçu no dia 24 de abril, onde ele morreu horas depois.

Três dias depois, Liliane e Leonardo começaram com os sintomas. Na quarta-feira passada, com falta de ar e cansaço, eles procuraram o polo de atendimento exclusivo para Covid, em Mesquita. Foi a última vez que estiveram juntos. Leonardo foi levado para a UPA de Mesquita e morreu às 5h30 desta segunda-feira. Liliane foi transferida para o Hospital Municipal de Belford Roxo, onde morreu às 14h30, no mesmo dia, após ser entubada.

Leandro conta que esperava que os irmãos votassem para casa, e que falava com eles pelo celular até um dia antes da morte:

— Até anteontem, eu falava com eles. Estavam com uma expectativa boa, conversando, mas o médico disse que houve uma piora. Eu acreditava que eles voltariam para casa, mas essa doença é assim. Hoje você está bem, mas amanhã pode estar muito mal.

Leandro revelou ainda que o velório do pai, apesar de ter durado pouco tempo, foi com caixão aberto, pois a causa da morte no atestado de óbito foi síndrome respiratória aguda grave. Ele e a mãe estão com sintomas leves da doença. No hospital, enquanto liberava o corpo da irmã, Leandro fez um apelo:

— Apesar de toda a crise econômica, não há bem maior do que a vida. Nossa vida é única. Se protejam, não saiam de casa, tomem cuidado com essa doença.” [Extra]

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7. Conid-17, parte 2

Da Mariliz Pereira Jorge:

“Estamos todos doentes. Não bastasse o drama que vivemos com a crise da Covid-19, temos que lidar com o rastro de destruição deixado por um germe patogênico incapacitante: o bolsovírus, como foi apelidado. Jair Bolsonaro conseguiu a façanha de contaminar a população com seu discurso inescrupuloso, seu apreço pela ignorância e seu desprezo pela humanidade. Deixou um país inteiro infectado pela raiva e pela desesperança. Estamos todos mentalmente desequilibrados. Quem não está cego e não perdeu toda a capacidade de discernimento e a decência sente os efeitos dessa infecção devastadora provocada pelo bolsovírus de uma forma também bastante severa: as pessoas estão tristes, abatidas, exaustas com o festival diário de asneiras, de grosserias e de ataques à democracia.

Somos atropelados pelo tiroteio entre o presidente e o ex-ministro da Justiça, as brigas com os governadores, os lampejos golpistas, que se tornaram corriqueiros. E, no final do dia, trombamos com o número de mortes pela Covid-19, a baixa adesão ao isolamento, o recorde de perdas entre os profissionais da saúde, os hospitais em colapso. Todas as nossas atenções deveriam estar focadas em salvar vidas, mas passamos boa parte do tempo tentando nos livrar da insanidade a que Bolsonaro submete o país. Quem ainda não está louco, condição “sine qua non” para não apoiar este governo tresloucado e incompetente, está sendo enlouquecido à medida que faz oposição a ele. Ou acabamos com o bolsovírus ou não sei o que será de nós.” [Folha]

E agora vai, hein!

“O ministro da Saúde, Nelson Teich, exonerou nesta quinta-feira 13 servidores do ministério contratados na gestão anterior, dando sequência a mudanças iniciadas nesta semana com a demissão de outros cinco nomes, em meio ao avanço da epidemia de Covid-19 pelo país. Entre os demitidos nesta quinta estão diretores de departamento e programas da Secretaria de Vigilância em Saúde, como o coordenador-geral de emergências e Saúde Pública, Rodrigo Lins Frutuoso. As exonerações foram publicadas no Diário Oficial da União, sem indicar os substitutos ainda. Parte do ministério está sendo ocupado por militares. Além do secretário-executivo, general Eduardo Pazuello, na quarta-feira outros quatro militares do Exército foram designados para ocupar cargos ligados à secretaria. Entre eles, o tenente-coronel Marcelo Blanco Duarte, que será assessor de Logística, e o tenente-coronel Paulo Guilherme Ribeiro Fernandes, coordenador-geral de Planejamento.” [UOL]

Se o Braisl “estava performando bem” no combate à pandemia, por que mudar de ministro e de equipe?! Pois é…

“Ao menos quatro estados brasileiros já têm mais de 90% dos leitos de terapia intensiva destinados ao tratamento de pacientes com Covid-19 ocupados. Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará e Roraima são os que vivem a situação mais grave, com taxas de ocupação de vagas de UTI estaduais que variavam entre 100% e 93% na segunda-feira (4) —o número muda diariamente, de acordo com a liberação de leitos por alta médica e mortes. Um dos primeiros a registrar colapso no sistema de atendimento a pacientes graves, o Amazonas continua em situação crítica, a despeito do recente apoio dado pelo governo federal. Nesta semana, o estado ganhou um reforço de 267 profissionais de saúde contratados pelo Ministério de Saúde. Funcionários do Delphina, no entanto, dizem que o principal gargalo no atendimento é a falta de respiradores.

Entre as capitais, já são oito as com índice acima de 90%. Além de Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Fortaleza e Boa Vista, as cidades de São Luís, Belém e São Paulo também estão próximas a um colapso para o atendimento de pacientes graves. O Rio de Janeiro, que já registra filas para ocupação dos leitos há duas semanas, tinha 97% dos leitos estaduais de UTI para coronavírus ocupados nesta segunda. Restavam no estado apenas 12 das 399 vagas disponíveis. Elas estão em dois hospitais: um fica na cidade de Volta Redonda e já recebe pacientes da capital. O outro fica no Leblon, na zona sul carioca, e é o único hospital de campanha estadual inaugurado até agora —com 42 dos 100 leitos de UTI previstos. O governador Wilson Witzel (PSC) havia prometido criar dez desses hospitais temporários até o fim de abril, com 990 vagas de UTI, mas eles estão atrasados. Enquanto isso, a fila por leitos de cuidado intensivo se acumula, e pacientes aguardam por dias em unidades inadequadas. Eram 363 pessoas à espera de transferência no estado na segunda (4).” [Folha]

E sem respiradores não tem como abrir mais leitos:

“Enquanto o país enfrenta uma escalada dos casos graves de Covid-19, parte dos estados reduziu o ritmo de abertura de leitos de terapia intensiva na última semana. A falta de respiradores é o principal entrave. A Bahia, que chegou a ter uma carga de 300 respiradores confiscada nos Estados Unidos, aguarda 500 novos para ampliar a rede de atendimento. O hospital de campanha no estádio da Fonte Nova, por exemplo, deve ter as suas obras concluídas na próxima segunda (11), mas não poderá funcionar sem os equipamentos.”

Imagina que louco se o governo tivesse feito a compra lá em Fevereiro.

“Nos demais estados, a ocupação está abaixo de 50%, mas houve um rápido crescimento do número de pacientes graves comparado à semana passada. No Paraná, que nos últimos dias atingiu a marca de 1.500 casos e 99 mortes, a taxa de ocupação passou de 15% para 29% em uma semana. Em Tocantins o salto foi de 10% para 31% no mesmo período —o estado tem 10 dos 32 leitos de terapia intensiva ocupados, com a possibilidade de acréscimo de 72 vagas.”

Enquanto isso, no Amazonas:

“Por 13 votos a 2, a Assembleia Legislativa do Amazonas aprovou nesta quarta-feira (6) um projeto de lei (PL) que permite a celebração de missas e cultos durante a pandemia. A votação no dia em que o estado registrou, pela primeira vez, mais de 1.000 casos novos de Covid-19, que já passam de 9.000. “Esta lei estabelece as igrejas e templos de qualquer culto como atividade essencial em períodos de calamidade pública em todo Estado do Amazonas, sendo vedada a determinação de fechamento total de tais locais”, afirma o PL. “Percebe-se que os templos auxiliam de forma inconteste não somente na assistência espiritual mas também social, e até emocional/mental, posto que o confinamento a que as pessoas estão sendo submetidas pode até mesmo depressão e aumento de violência conjugal (sic)”, diz o texto.” [Folha]

Não tem nada a ver com o dízimo, tá?

“A votação na Assembleia ocorreu no dia em que o Amazonas teve um novo recorde de casos confirmados e de óbitos —mais 1.134 registros e 102 mortes nesta quarta-feira (6). O estado acumula 9.243 casos confirmados, com 751 mortes em decorrência da Covid-19. O autor da proposta é o deputado estadual e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus João Luiz, do Republicanos (ex-PRB), recém-saído da UTI após problemas renais e afastado por licença médica.”

Ah, e Bolsonaro vai sim ter que mostrar a porra dos exames:

“O TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) decidiu manter a determinação judicial que obriga a AGU (Advocacia-Geral da União) a divulgar os laudos de todos os exames realizados para detectar se o presidente Jair Bolsonaro foi infectado com o novo coronavírus. A decisão, nesta quarta-feira (6), foi do juiz federal do TRF-3 André Nabarrete, que aponta a obrigatoriedade da entrega dos exames, e não só de relatórios médicos, como foi feito anteriormente pelo governo. “Apenas os próprios exames laboratoriais poderão propiciar à sociedade total esclarecimento”, diz a decisão de Nabarrete. Nesta quarta, foi divulgado que outro integrante do primeiro escalão do governo federal testou positivo para a Covid-19: o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, 59.” [Folha]

E Santa Catarina infelizmente colhe a demência plantada:

“Os novos casos de coronavírus em Santa Catarina mais que triplicaram desde que foi autorizada pelo estado a volta do comércio de rua, no dia 13 de abril. Naquela data, eram 826 pacientes com Covid-19, quantidade que subiu para 2.795 na terça-feira (5). No mesmo período, as mortes aumentaram de 26 para 58. No dia 12 de abril, o estado tinha 776 infectados. No dia 19, eram 1.025, diferença de 249 casos. Após mais sete dias, em 26 de abril, o número foi para 1.337, ou seja, mais 312 pacientes. E, no dia 3 de maio, Santa Catarina registrava 2.519 pessoas com coronavírus– mais 1.182 novos casos em relação à semana anterior. Somente no dia 28 de abril, o governo registrou 519 casos novos em relação ao dia anterior, a maior variação em 24 horas até agora. O então secretário de Saúde, Helton Zeferino, avaliou que o salto foi devido à integração do painel da base de dados do estado ao e-SUS e do Sivep Gripe.” [G1]

E eu me recuso a colocar aqui as frases do Rolando Lero que colocaram no Ministério da Saúde, tá perdidinho.

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8. Regina vs Tonho da Lua

Adivinhe quem vai ganhar…

“Depois de “reatar o casamento” com Jair Bolsonaro numa reunião nesta quarta-feira (6), Regina Duarte terá que enfrentar o núcleo ideológico ligado ao presidente parase manter como secretária especial da Cultura. Nos últimos dias, aliados de Bolsonaro prepararam um dossiê contra a atriz com informações de seus atos, dentro e fora da pasta. O material já está em mãos de interlocutores do presidente. O plano é disseminar o dossiê para desgastar Regina com Bolsonaro, que ainda quer mantê-la à frente da área da Cultura.” [O Globo]

A cara de pau presidencial é espantosa:

“A reunião do presidente Jair Bolsonaro com a secretária especial de Cultura, Regina Duarte, nesta quarta-feira (6), amenizou a tensão entre ambos após ela ter sido surpreendida pelo Diário Oficial da União com a nomeação relâmpago do maestro Dante Mantovani para a presidência da Funarte. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, Bolsonaro disse à Regina que a nomeação – desfeita horas depois pelo governo – não passou de um “equívoco administrativo”.” [O Globo]

E o Maestro ainda explanou a fraqueza presidencial:

“No fim da noite de quarta, Mantovani usou o Twitter para dar a sua versão do caso: “Fui reconduzido à presidência da Funarte pelo excelente trabalho que vinha fazendo e que foi interrompido bruscamente pela Sra. Regina Duarte, que condicionou sua permanência na Secretaria da Cultura à anulação desta nova nomeação, não deixando assim outra opção ao nosso Presidente”.”

Tonho manda e desmanda por lá:

“Nomeado anteontem como o novo número dois da Funarte, Luciano Querido brilha hoje novamente no Diário Oficial. Está designado como presidente substituto do órgão — que hoje não tem oficialmente um número 1. E quem é Querido? Ex-assessor de Carlos Bolsonaro na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro por quinze anos, foi para a Funarte há dois meses como diretor de programas integrados. Quando trabalhava com Carluxo cuidava da área de mídias sociais do gabinete. Suas credenciais no setor de Cultura são desconhecidas. Todo o imbróglio que foi causado com a tentativa de o grupo olavista botar Dante Mantovani à frente da Funarte, desfeito ontem, não alterou em nada o status de Querido. Estimado por Carluxo, Querido não só permaneceu intocado, como teve confirmado o seu prestígio — ao menos junto ao batalhão olavo-bolsonarista do governo.” [O Globo]

E olha os possíveis sucessores de Regina:

“Foram levados ao presidente nomes dos atores Humberto Martins, que atualmente vive nos Estados Unidos, e de Mário Frias. Ambos têm o mesmo perfil: são membros da classe artística e defensores do discurso de Jair Bolsonaro. Frias inclusive esteve na posse de Regina em Brasília e é apontado por interlocutores como possível candidato para se integrar a gestão dela com um cargo na pasta.’

Humberto, malandro, já declinou:

“Já Humberto afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, se “sentir muito honrado em saber que foi cogitado para tão importante cargo no governo”, mas que, no momento, não teria condições de assumir a cadeira.”

E Regina conversou com o cretino da Fundação Palmares:

“No Palácio do Planalto, Regina Duarte teve a oportunidade de conversar por mais tempo com Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares. Segundo aliados, Regina desejou a Camargo “toda a sorte do mundo” e disse a interlocutores ter ficado impressionada com a “desenvoltura” e “paixão” pelo trabalho que Sérgio tem”

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9. Vietnam

Que tal comparar o Brasil com o Vietnam?

“Neste clima de medo e ansiedade, um país tem merecido a atenção e a curiosidade planetária: o Vietnã. Essa nação experimentada em tantas guerras tem conseguido vencer o coronavírus. Um país do sudeste asiático que faz fronteira com a China – pequeno em extensão, mas com uma população de quase 100 milhões de habitantes – evitou que o inimigo se espalhasse pelo seu território e restringiu o contágio a apenas 271 pessoas. E o mais incrível: não houve até agora nenhuma morte pela covid-19. Para entender como se deu esta conquista, vamos iniciar este diário com uma breve caracterização socioeconômica do país, apresentar os dados da covid-19 e divulgar uma entrevista realizada, no domingo (03/05). Depois de derrotar o país mais militarizado do mundo, o modesto Vietnã está vencendo agora a batalha contra um minúsculo vírus. Zero mortes numa população que é a metade da brasileira.

Qual o segredo vietnamita para sair vitorioso nesta nova guerra contra um inimigo quase invisível? O Vietnã, na média, é mais pobre do que o Brasil (embora socialmente menos desigual), mas com indicadores demográficos parecidos. Quanto aos investimentos no sistema de saúde, quantitativamente o Brasil está melhor, pois gasta 11,8% do PIB com saúde, possui 2,1 médicos por 1 mil habitantes e 2,2 leitos hospitalares para cada 1 mil habitantes, enquanto o Vietnã gasta 5,7% do PIB com saúde, possui 0,82 médicos por 1 mil habitantes e possui 2,6 leitos por 1 mil habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas o Vietnã prioriza a saúde primária e não a alta complexidade. Todavia, quando se trata dos números da pandemia, o contraste é da água para o vinho, pois o Brasil tinha 105,2 mil pessoas infectadas e 7,3 mil mortes, no dia 04 de maio, enquanto o Vietnã tinha apenas 271 casos e nenhuma morte. O gráfico abaixo mostra que o Vietnã manteve 16 casos durante o mês de fevereiro, chegou a 268 casos no dia 15/04 e no último mês teve apenas 3 casos adicionais. No dia 05 de maio, as estatísticas do Worldometers indicavam 232 pessoas recuperadas, 39 casos ativos e apenas 8 pessoas em situação crítica necessitando de tratamento hospitalar intensivo.

O Vietnã tem saído vitorioso na luta para conter o avanço do coronavírus. Há somente 3 pessoas infectadas para cada 1 milhão de habitantes, enquanto no Brasil o coeficiente de incidência está em 495 casos por milhão e nos EUA está em 3,65 mil casos por milhão. O Brasil aplicou pouco mais de 3 testes por pessoa infectada, enquanto o Vietnã aplicou quase mil testes para cada pessoa infectada. Nos últimos 20 dias aconteceram apenas 3 casos confirmados.” [Projeto Colabora]

É ouvida uma costa-riqunha que morou 10 anos no rasil e está há 13 anos em Ho Chi Min:

“Na última semana de janeiro todo o país estava parado para as comemorações do Ano Novo lunar (equivalente à última semana de dezembro nos países cristãos). As primeiras notícias da epidemia na China chegaram em meio às festividades. O Vietnã já teve experiências duras quando teve que lidar com a Síndrome Respiratória Aguda Grave – SARS, em 2002, e a Síndrome respiratória do Oriente Médio – MERS, em 2012, que são doenças advindas de outros tipos de coronavírus. Desta forma, o governo fechou imediatamente a fronteira com a China e não hesitou em alertar todo o país para a gravidade do que estava por vir. A primeira medida foi interromper as atividades nas escolas e universidades (que já estavam de recesso na última semana de janeiro), além de impor um rígido controle sobre os portos e aeroportos, monitorando todas as pessoas que vinham de áreas expostas à epidemia. Na medida em que ia ficando clara a gravidade da situação, o governo reforçou as medidas de quarentena fechando o comércio, fábricas e todas as atividades não essenciais. Rapidamente, o país adotou o lockdown (fechamento total) e realizou um rastreamento completo de todas as pessoas que entraram em contato com o vírus.

As pessoas suspeitas de contágio são classificadas como F(0) e são imediatamente submetidas ao exame da covid-19. Ao mesmo tempo, preenchem um questionário relatando todos os lugares que frequentou e é feito um levantamento de todas as pessoas que poderiam ter sido expostas à doença, em diferentes graus. Cada pessoa é classificada como F(1), F(2), F(3), F(4) e F(5) de acordo com a chance de ter sido contaminada. O sistema de saúde do país providencia testes para todos os F(0)s e F(1)s e promove o monitoramento de todos os indivíduos, inclusive divulgando o local onde moram todos os “F(0)s e F(1)s”, mas sem identificar o nome das pessoas. Desta forma, toda a população do país sabe onde existe um indivíduo com algum risco de contágio. O acompanhamento é sistemático e efetivo.”

E a chave tá no Confucionismo, e não me venha falar em comunismo, nem Karl Marx nem sonhava em ser nascido quando começou o Confucionismo, porra:

“Em primeiro lugar, o povo segue rigidamente as diretrizes governamentais. Quase ninguém se arrisca a contrariar as ordens e as orientações do Poder Público. E o governo não brinca em serviço. As poucas pessoas que ousaram contrariar a quarentena e divulgar “fake news” a favor da flexibilização do lockdown, ou criando pânico e disseminado número de casos falsos, foram logo identificadas e obrigadas a se retratar. Os dissidentes das orientações governamentais são expostos publicamente e sofrem a rejeição da sociedade, que na grande maioria apoia as medidas de isolamento social, pois já viveram experiências traumáticas no passado. Em segundo lugar, existe uma cultura coletivista no país e uma ética confucionista que valoriza as relações familiares, as relações sociais e o respeito à hierarquia. No Vietnã, e, em geral, nos países do leste asiático, o indivíduo não é o centro do mundo. Os adultos, culturalmente, manifestam um grande respeito pelas crianças e pelos idosos.”

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10. Acordo? Que acordo?!

Chineses jogando com Trump:

“U.S. stocks fell sharply in the final hour of trading Wednesday after President Trump seemingly reignited the trade war, telling reporters the U.S. would be evaluating whether China has complied with the “phase 1” trade deal to buy an extra $200 billion a year of U.S. goods. As the coronavirus pandemic continues to choke the U.S. and global economy, Trump is threatening to tighten the vice. S&P Global Market Intelligence, Panjiva, finds that not only is China not making purchases on pace for a $200 billion increase, it is now $21.2 billion behind — not even halfway to its target on a monthly basis. Further, data Thursday showed Chinese exports rose 3.5% year over year in April while imports fell 14.2%, bringing China’s trade surplus for the month to $45.34 billion — well above the $6.35 billion economists had predicted.

Most had long expected that China would be unable to meet the terms of the deal as the novel coronavirus ravaged its economy, causing the worst quarterly economic contraction on record. But it was expected the U.S. would look the other way, given the economic situation. What we’re hearing: “Trump is basically trying to distract the American public from focusing too much on the unemployment rate, employment figures and so on,” Keith Wade, chief economist at Schroders, said during a recent webcast. “If we do reignite the trade wars, and we see the ‘phase 1’ deal fail, I think it won’t just be China that loses, it will be the U.S. as well.” The nascent stock market rebound also could be threatened by revived tensions between the world’s two largest economies. “That’s probably the number one concern in the market when we talk to investors and sell-side analysts,” Zhiwei Zhang, president and chief economist of Pinpoint Asset Management, told CNBC Wednesday.” [Axios]

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>>>> Presente do @takafora:

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>>>> Do Veríssimo, em homenagem ao Aldir: “O Jaguar sabia da nossa admiração por ele e organizou uma excursão à Zona Norte. Objetivo: conhecer o Aldir Blanc. Ele nos recebeu em sua casa, na Rua Garibaldi, Tijuca. Me lembro que uma das peças da casa era ocupada por uma mesa de sinuca profissional, o que me pareceu adequado, assim como a sua barba de profeta. Aldir era um lacônico notório, e como eu não sou de falar muito, o Jaguar tinha previsto que nosso encontro seria uma troca de silêncios. Não foi, conversamos. Fomos conversando no caminho da casa ao Bar da Dona Maria, na esquina, onde nos esperavam pastéis de bacalhau inesquecíveis e o compositor Moacyr Luz , parceiro do Aldir em muitas músicas, com seu violão. A noite acabou na Casa da Mãe Joana, que eu não sei se ainda existe, com show do Walter Alfaiate e canja do Aldir no tamborim, igualmente inesquecíveis. O grande letrista, grande cronista e grande cara também era bom no tamborim!… O quase hino do Aldir e do João Bosco também falava da esperança que subsistia nos tempos negros, a “esperança equilibrista” que andava na corda bamba “de sombrinha” ameaçando cair. Quem poderia imaginar que depois de tudo o que passamos e padecemos, na certeza de que, acontecesse o que acontecesse, ditadura nunca mais, estaríamos de novo carregando uma sombrinha metafórica numa corda bamboleante, sem saber o que nos espera no próximo passo? Os generais de fatiota que hoje ocupam o governo nos asseguram que não vem golpe. Não vem porque já veio, e nem precisaram de tanques na rua. Entraram no poder pela porta principal, atendendo a convites.” [O Globo]

>>>> Que chato… “O TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) deve julgar nesta quinta (7) a conduta do juiz federal Marcelo Bretas, do Rio, por participar de eventos políticos ao lado de Bolsonaro e do prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Em fevereiro, Bretas foi com as autoridades à inauguração de uma alça na Ponte Rio-Niterói e a uma festa evangélica na praia. A aposta é que Bretas, que está hospitalizado com Covid-19, não receberá punição severa da corte.” [Folha]

>>>> Mais uma proeza do Crivella: “Após um ano e dez meses, a médica anestesista Ana Beatriz Busch deixa o comando da Secretaria municipal de Saúde (SMS) do Rio. Bia Busch, como é conhecida, informou sua decisão ao prefeito Marcelo Crivella na tarde dessa quarta-feira, como noticiou a colunista Berenice Seara, no jornal “Extra”. Na manhã desta quinta-feira, Crivella confirmou que a médica informou que estava deixando o cargo, mas que ele pediu à ela que fique até que a cidade receba os respiradores e materiais comprados na China – nos próximos dias. A saída da secretária acontece num momento turbulento para a rede de saúde no município. Segundo a Prefeitura, por conta da Covid-19, a ocupação dos leitos de UTIs na rede já chega a 95%. De acordo com a colunista Berenice Seara, um dia depois da troca de seu subsecretário de Gestão por um servidor de quem nunca ouvira falar, Beatriz pediu para sair. O pivô da demissão é Ivo Remuszka Júnior exonerado, no Diário Oficial de terça-feira, do cargo de subsecretário de Gestão da Saúde. Em seu lugar, Crivella nomeou Diego Braga da Silva, um servidor que trabalhava com o secretário Paulo Cesar Amendola — primeiro na Secretaria de Ordem Pública, e depois, na de Transportes. Após ouvir a secretária, Crivella disse que pediu um tempo. Segundo a colunista Berenice Seara, a substituição feita por Crivella, sem que Busch fosse consultada, soou como uma intervenção na pasta.” [O Globo]

>>>> Planos do MST: “Projetando quebradeira no campo, especialmente do setor sucroalcooleiro, o Movimento Sem Terra planeja uma jornada de ocupações de terras de empresas falidas logo após a pandemia. O movimento também diz estar percebendo aumento da pobreza no campo. A comparação que fazem é com os anos da gestão Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), com crise econômica, desemprego na cidade e dificuldades nas zonas rurais.” [Folha]

>>>> Vai entender uma porra dessa, pior recessão em 300 anos e nada de medidas de estímulo: “O Banco da Inglaterra adiou novas medidas de estímulo nesta quinta-feira, mas afirmou estar pronto para adotar mais medidas para conter a maior recessão econômica do país em mais de 300 anos devido ao coronavírus. No que chamou de “cenário ilustrativo”, o banco central britânico disse que vê um tombo de 14% da economia britânica em 2020, seguido de um recuo de 15% em 2021. Tal cenário exigiria um estímulo monetário e orçamentário muito significativo, afirmou. A previsão ocorre em meio a prognósticos sombrios para o PIB europeu. A economia da zona do euro vai contrair a uma taxa recorde de 7,7% neste ano por causa da pandemia de Covid-19 e a inflação irá quase desaparecer, enquanto a dívida pública e o déficit orçamentário vão disparar, projetou a Comissâo Europeia na quarta-feira. O Banco de Inglaterra manteve a sua taxa de juros referencial na mínimo histórica de 0,1% e deixou o seu objetivo de compra de títulos, na sua maioria dívida pública britânica, em 645 bilhões de libras (797 bilhões de dólares).” [Folha]

>>>> Madero, o pior hamburguer do mundo – leiam esse texto do Marcos Nogueira na íntegra!“Vamos ao segundo slogan de Durski. Aquele sobre um mundo melhor. A página do Madero despeja lero-leros sobre empreendedorismo, inovação, disrupção etc. O comportamento do empresário Junior Durski evidencia que essa conversa mole favorece apenas uma pessoa: ele mesmo. O dono do Madero tem-se superado em episódios de falta de sensibilidade desde que a pandemia da Covid-19 se abateu sobre o Brasil. Numa ocasião, disse que o Brasil não poderia parar por causa de 7 mil mortes. Pois bem: atingimos ontem tal marca e continuamos em trajetória ascendente. No último sábado, Durski publicou no Instagram uma foto em que ele, sem máscara protetiva, parece oferecer um hambúrguer à câmera. A legenda diz o seguinte: “Pra frente Brasil ( sic)! Vai dar tudo certo. Aqui em Balneário Camboriú tá tudo funcionando. Muito trabalho e Deus no coração.” De onde ele tirou que tudo vai dar certo? A julgar pela previsão de 7 mil vítimas fatais, melhor não confiar na futurologia de Durski. De nada adianta ter Deus no coração quando se tem água nos pulmões. Pobre Balneário Camboriú.” [Folha]

>>> Que maravilha esse vídeo:

2 comentários em “Dia 492 | É você, Nixon?! | 07/05/20

  1. o link desse trecho tá quebrado (alguns dias atrás também teve outros links com esse ‘as’):

    “Por 13 votos a 2, a Assembleia Legislativa do Amazonas aprovou nesta quarta-feira (6) um projeto de lei (PL) que permite a celebração de missas e cultos durante a pandemia. A votação no dia em que o estado registrou, pela primeira vez, mais de 1.000 casos novos de Covid-19, que já passam de 9.000. “Esta lei estabelece as igrejas e templos de qualquer culto como atividade essencial em períodos de calamidade pública em todo Estado do Amazonas, sendo vedada a determinação de fechamento total de tais locais”, afirma o PL. “Percebe-se que os templos auxiliam de forma inconteste não somente na assistência espiritual mas também social, e até emocional/mental, posto que o confinamento a que as pessoas estão sendo submetidas pode até mesmo depressão e aumento de violência conjugal (sic)”, diz o texto.” [Folha]

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