Dia 210: 57 detentos mortos e “pergunta para as vítimas dos que morreram lá o que eles acham” | 30/07/19

1. O mais vil dos vis presidentes

“Em 2011, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro já havia dito que os militares não eram culpados pela morte de Fernando Santa Cruz. Em uma palestra na Universidade Federal Fluminense (UFF), o então parlamentar disse Santa Cruz deve “ter morrido bêbado em algum acidente de carnaval”.” [O Globo]

Imagine aí a mãe do Fernando, que morreu recentemente com 105 anos, ouvindo isso sobre o seu filho.

“Sua mãe, Elzita Santa Cruz, peregrinou por mais de quatro décadas em busca da verdade. Ela não mudou de endereço nem de número de telefone, à espera de notícias que nunca chegaram. Morreu no mês passado, aos 105 anos, sem conhecer o paradeiro do filho.” [O Globo]

8 anos depois Bolsonaro resolveu mudar de versão

“Enquanto cortava o cabelo em transmissão ao vivo pela internet, Bolsonaro afirmou que não foram os militares que mataram pai do presidente da OAB. Apesar de dois documentos oficiais atestarem o contrário, Bolsonaro disse que Fernando Santa Cruz, integrante do grupo Ação Popular (AP) e desaparecido durante a ditadura militar, teria sido assassinado em um “justiçamento da esquerda” (eliminação de pessoas consideradas traidoras).”  [Folha]

Como se não bastasse um documento publicado semana passada pelo ministério de Direitos Humanos liberando atestado de óbito do pai do Santa Cruz e indicando que foi morto pela repressão, ainda tem documento OFICIAL da Aeronáutica de 1978 desmentindo o presidente mais escroto e repulsivo que um roteirista com requintes de crueldade poderia criar:

“Um documento secreto da Aeronáutica desmente a versão de Jair Bolsonaro para o desaparecimento de Fernando Santa Cruz, morto em 1974 pela ditadura militar. Nesta segunda-feira, o presidente disse que o estudante, pai do presidente da OAB Felipe Santa Cruz, teria sido assassinado por outros militantes de esquerda. — Não foram os militares que mataram ele não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece — disse. Segundo a versão de Bolsonaro, Santa Cruz teria sido morto por outros militantes da Ação Popular, uma das organizações que combatiam a ditadura.

No entanto, o relatório secreto RPB 655, do Comando Costeiro da Aeronáutica, atesta que o estudante foi preso pelo regime em 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro. O documento, anexado ao relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), comprova que Santa Cruz estava sob custódia do Estado quando foi assassinado. Em depoimento à CNV, o ex-delegado Cláudio Guerra disse que o corpo teria sido incinerado na Usina Cambahyba, em Campos. A família de Santa Cruz nunca recebeu informações oficiais sobre o paradeiro de Fernando. Em 1995, o nome dele foi incluído na Lei dos Desaparecidos Políticos, sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.”  [O Globo]

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Sim, segundo documento OFICIAL  da Aeronáutica o pai do presidente da OAB foi preso no mesmo dia do desaparecimento, veja que coincidência. E pensar que a avó da presidente da OAB morreu aos 105 anos e sonhava em enterrar seu filho, INCINERADO na porra duma usina. Mas isso de nada vale para Bolsonaro:

“- E você acredita em Comissão da Verdade. Qual foi a composição da comissão da verdade? Foram sete pessoas indicadas por quem? Pela Dilma? – perguntou após se encontrar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Bolsonaro foi novamente interpelado com a informação de que existe um atestado de óbito que indica que Santa Cruz foi morto por forças do Estado.

– Você acredita em Comissão da Verdade? Você acredita no PT? Por que não começou com Celso Daniel?  – disse o presidente, referindo-se ao prefeito de Santo André, assassinado em 2002.

A Comissão da Verdade, entretanto, foi instituída em 2011 para averiguar graves violações de direitos humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.

– Nós queremos desvendar crimes. A questão de 64 não existem documentos de matou, não matou, isso aí é balela – respondeu, sendo questionado se tem documentos que mostrem que  o pai do presidente da OAB foi morto pela esquerda.

– Você quer documento para isso, meu Deus do céu. Documento é quando você casa, você se divorcia. Eles têm documentos dizendo o contrário? – disse.”

O presidente da OAB, obviamente, interpelou Bolsonaro no STF. Já que o presidente se ofereceu para explicar o sumiço do seu pai, que dê a resposta. E o PSOL também foi à Suprema Corte:

“O PSOL da Câmara dos Deputados entrou com uma representação na Procuradoria-Geral da República ( PGR ), nesta segunda-feira, contra o presidente Jair Bolsonaro por conta das declarações dele sobre o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz . Na representação, o partido alega que Bolsonaro fez “apologia de crime ou criminoso” e violou “a probidade administrativa”. O PSOL afirma que as declarações de Bolsonaro são uma “desumanidade” e configuram uma violação ao Estado Democrático de Direito, em especial e a dignidade da pessoa humana. “Compete ao Estado Brasileiro não apenas a obrigação de reparar os danos sofridos pelas vítimas da ditadura militar, mas também o dever de não infligir a elas novos sofrimentos. E, neste sentido, foi exatamente isso o que a declaração de Bolsonaro acarretou: da maneira mais vil, atingiu os familiares de vítimas da ditadura militar brasileira”, diz a representação do PSOL.”  [Folha]

Mais um crime para a vasta coleção de crimes presidenciais. E nem entramos no oitavo mês dessa sandice sádica. E que orgulho do PSOL, sempre na linha de frente contra os escrotos.

“As falas recentes do presidente Jair Bolsonaro (PSL), como a da manhã de hoje sobre a morte de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), podem ser enquadradas na lei de crimes de responsabilidade, dizem especialistas em diferentes áreas de direito ouvidos pelo UOL. O julgamento de um eventual pedido de impeachment a partir da lei, no entanto, é fundamentalmente político. De acordo com os advogados ouvidos, esta é mais uma das declarações que poderiam enquadrar o presidente na Lei nº 1.079, que trata de crimes de responsabilidade. De acordo com o Artigo 9º, é “crime de responsabilidade contra a probidade na administração proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”. Na avaliação dos especialistas, juridicamente, o principal problema da última fala de Bolsonaro é que ela não está sozinha. A repetição deste tipo de situação, explicam os entrevistados, pode enquadrar o presidente na lei. “É como se levasse um cartão vermelho pelo conjunto da obra”, explica Brito. “Essa quebra de decoro da presidência é como um abismo: precisa de um longo trajeto para chegar até lá, mas ele está caminhando para cada vez mais próximo”, explica Rollo.”   [UOL]

E olha onde o Bolsonaro foi se meter:

“Familiares de Fernando Santa Cruz —pai de Felipe cujo corpo jamais foi encontrado— vão pedir à Comissão Interamericana de Direitos Humanos que se manifeste sobre a fala de Bolsonaro. Ocultação de cadáver é crime permanente. Logo, dizem, se o presidente sabe de algo, deve falar.”

Ainda na live, Bolsonaro parece se esforçar pra pedir desculpas ao presidente da OAB mas se mostra absolutamente incapaz:

“Não quero polemizar com ninguém. Não quero mexer com o sentimento do senhor Santa Cruz porque eu não tenho nada de pessoal no tocante a ele. Eu acho que ele está equivocado em acreditar em uma versão apenas do fato, mas ele tem todo o direito de me criticar, etc. etc. Mas essa é a versão minha do contato que tive com quem participou ativamente do nosso lado naquele momento, para evitar que o Brasil se transformasse numa Cuba”

Sem ser perguntado sobre o presidente da OAB e seu pai o Bolsonaro fala uma monstruosidade daquela mas ele não queria “mexer com o sentimento do senhor Santa Cruz porque eu não tenho nada de pessoal no tocante a ele“.

É um padrão muito perverso:

“Jair Bolsonaro nunca respeitou a memória das vítimas da ditadura. O capitão se projetou na política como porta-voz dos porões. Notabilizou-se por defender a tortura, insultar os mortos, mentir sobre fatos históricos. Quando a Câmara homenageou Rubens Paiva, o então deputado cuspiu no busto diante da família. Quando a Justiça Federal ordenou a busca por restos mortais no Araguaia, ele disse que “quem procura osso é cachorro”. Na votação do impeachment, Bolsonaro exaltou um torturador em rede nacional. Na campanha presidencial, ironizou o assassinato de Vladimir Herzog. “Suicídio acontece”, debochou. O jornalista foi morto numa cela do DOI-Codi, e os militares alteraram a cena do crime para simular um enforcamento.”  

Até o Dória bateu no Bolsonaro:

“É inaceitável que um presidente da República se manifeste da forma que se manifestou em relação ao pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Foi uma declaração infeliz. Não posso silenciar diante desse fato. Eu sou filho de um deputado federal cassado pelo golpe de 1964 e vivi o exílio com meu pai, que perdeu quase tudo na vida em 10 anos de exílio pela ditadura militar”  [Folha]

Bem, Dória foi muito mais duro que qualquer ministro do STF, e isso mostra a desgraça em que nos encontramos. Mas por que diabos o filho de um exilado político nem corou em se aliar ao Bolsonaro, lembra do #BolsoDória? É assustador como as pessoas se rebaixam em busca de poder. E a desculpa dele é dum cretinismo olímpico:

“Questionado sobre o apoio dele à eleição de Jair Bolsonaro no ano passado, o governador alegou que o presidente só se manifestou enfaticamente a favor da ditadura depois de eleito, apesar da exaltação que Bolsonaro fez ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “

Jandira classificou Bolsonaro como “um ser desprezível“, Renan Calheiros disse que Bolsonaro “cada vez mais perde a noção do respeito, é inacreditável”. Ivan valente foi na mosca: “Bolsonaro afirmou que sabe como desapareceu na ditadura o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, e que pode revelar o caso. Ele está acobertando um crime que é sabedor e se torna cúmplice do assassinato de Fernando Santa Cruz. Quebra o decoro do cargo e deve ser impedido.”

Maia e Alcolumbre SILENCIARAM, assim como as autoridades do judiciário. Alguém viu a PGR falar alguma coisa? Do Moro eu nem pergunto, o sujeito virou refém do presidente, se ele já não peitava antes, não há de ser agora, né?

“A ofensa disparada por Jair Bolsonaro ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, chocou a elite do Congresso e do Judiciário. Líderes e dirigentes de partidos dizem que os arroubos retóricos estão em escalada e pregam uma reação do Parlamento. Além da condenação dos destemperos verbais, deputados passaram a defender que o Congresso avalie extinguir a figura das medidas provisórias e derrubar todo decreto em que o capitão exorbitar de suas funções, independentemente do conteúdo.”  [Folha]

Ontem eu escrevi que “se havia algum risco no chão a apontar um caminho sem volta, Bolsonaro não só passou por cima como sambou em cima da linha” e o Ranier Bragon vai na mesma linha:

“No ano 49 antes de Cristo, Júlio César violou as leis romanas e cruzou o rio Rubicão com o seu exército, dando início à guerra e à expressão que se consagrou como sinônimo de decisão que não tem volta. Mais de 2.000 anos depois, o Brasil atravessou o seu Rubicão particular ao eleger presidente uma pessoa com o preparo, as propostas, o passado, o nível intelectual, a moral e o humanismo de Jair Bolsonaro. O regime democrático que permitiu tal decisão dará uma extraordinária demonstração de solidez e perpetuidade se suas instituições republicanas não só resistirem, mas derem respostas firmes e destemidas ao que estamos presenciando. Ou caminhará para o pântano do atraso e do obscurantismo. Não há volta. Bolsonaro testa os limites. A cada nova entrevista, novo ato, tateia até onde pode avançar a cruzada medievalista —e não importa se ela é involuntária ou calculada para animar fanáticos e criar cortinas de fumaça. Não serão os aduladores que darão resposta aos despautérios do presidente. Espera-se isso das instituições e dos que, dentro ou fora delas, se contrapõem à marcha da insensatez. A qualidade dessa ação definirá qual país emergirá lá na frente.”  [Folha]

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2. Por trás da loucura presidencial

“O presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem mesclado uma agenda tipicamente populista, como jogos de futebol e passeios por locais públicos nos finais de semana, em meio a uma radicalização nas declarações, surpreendendo inclusive assessores próximos. Segundo pessoas próximas ao presidente, um dos fatores que o levaram a acirrar o discurso sobre diversos assuntos foram as críticas à indicação de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), como embaixador do Brasil nos EUA. Já a agenda mais populista é vista por aliados como uma estratégia pensada pela equipe de comunicação do presidente, em especial do chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten.”  [Folha]

Repare na loucura:

“Em conversas reservadas, o presidente disse a aliados que vê nos ataques a Eduardo uma ofensa pessoal e que, por isso, seria sua obrigação sair em defesa pública do filho. De acordo com assessores palacianos, Bolsonaro é bastante sensível a qualquer questão que atinja sua família anhao solto convés

e pouco escuta sua equipe sobre o tom que adotará nas declarações. Além do caso de Eduardo, irrita o presidente o andamento das investigações envolvendo seu primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Outro ponto apontado nos bastidores é o fato de Bolsonaro se sentir confortável politicamente após a aprovação do primeiro turno da reforma da Previdência pela Câmara.”

E tinha gente dizendo um absurdo torcer contra a aprovação da reforma, como se essa não fosse a vitória crucial para o autoritarismo do Bolsonaro arreganhar os dentes.

“Ao mesmo tempo em que tem feito discurso mais radical, o presidente adotou agendas populistas nas últimas semanas. Nesta segunda, fez uma transmissão ao vivo pelas redes sociais enquanto tinha seu cabelo cortado durante o expediente, no Palácio do Planalto. O presidente passou a ir a estádios para assistir a partidas de futebol. Entre junho e julho assistiu a seis partidas em quatro cidades: Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Nas ocasiões, publicou vídeos e fotos nas redes sociais com jogadores e treinadores. Também aumentou a frequência em que sai de casa para conversar com populares.

Ele tem saído do Alvorada nos fins de semana para atividades triviais de um cidadão comum como visitas a clubes, almoço em restaurantes e compras no supermercado. Em um de seus passeios, entrou em um supermercado em Brasília apenas para comprar seis xampus. A agenda mais próxima à população coincide com estratégia do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, de levá-lo a programas de auditório de grande audiência como os dos apresentadores Ratinho e Silvio Santos, ambos exibidos pelo SBT.”

O destempero do Bolsonaro uniu olavetes e milicos do governo, que proeza!

Já a radicalização nos discursos ganhou espaço na fala de Bolsonaro a partir da segunda quinzena de julho, ou seja, depois do anúncio de que ele indicaria Eduardo para a embaixada brasileira em Washington, no dia 11 de julho. Após ter admitido que beneficiaria um filho seu, em live nas redes sociais, o presidente iniciou uma sequência de destemperos públicos. Em café da manhã com correspondentes estrangeiros, em 19 de julho, atacou Miriam Leitão com dados falsos, afirmou que passar fome no Brasil “é uma grande mentira” e chamou governadores nordestinos de “paraíbas”. A sequência de radicalismos foi feita em cerca de duas horas, em uma sexta-feira pela manhã, o que causou espanto tanto à cúpula militar como ao núcleo ideológico. No mesmo dia, em uma tentativa de resguardar o pai, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) atacou a realização de encontros com jornalistas, obtendo apoio do deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP).”

E nada é capaz de sensibilizar o Bolsonaro:

“A reação negativa até mesmo do grupo mais próximo do presidente, para o qual ele deveria evitar declarações públicas por um tempo, não abalou Bolsonaro. Naquele final de semana, ele voltou a cogitar o fim da multa de 40% do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) a trabalhadores demitidos sem justa causa e a atacar o diretor do Inpe, Ricardo Galvão. Segundo relatos feitos à Folha, naquele final de semana, integrantes do núcleo militar até tentaram aconselhar o presidente a causar menos polêmica, mas ele deu de ombros e continuou a fazer declarações controversas na semana seguinte.”

Tem que ver a auto-estima dos generais, porra, vão se humilhar assim lá na casa do caralho!

“Os conselhos dos militares, principais bombeiros do governo, acabaram ficando de lado no último mês. A mudança de postura de Bolsonaro coincide com o processo de fritura pública de Carlos ao porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, que conta com o apoio velado de Wajngarten. Em março, o Palácio do Planalto até esboçou um plano para limitar os comentários do presidente, diante de declarações sobre a reforma previdenciária que causaram desconforto na equipe econômica. Na época, um ministro, em tom de desabafo, disse à Folha que, apesar dos esforços da equipe presidencial, não tem jeito: Bolsonaro é “incontrolável”.”

Ainda tem esse bom lembrete do Henrique JM:

“3 coisas que as Forças Armadas sempre negaram institucionalmente, mas Bolsonaro e Mourão confessaram no último mês que são reais (como se alguém não soubesse…):

– Operação Condor;
– Homossexualismo nas FFAA;
– Execuções de pessoas na ditadura, com os respectivos registros.

Foi para cometer esses sincericídios que quiseram tanto voltar ao governo?” [Facebook]


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3. 57 mortes e toda a psicopatia presidencial

Ontem foi uma confusão do caralho, com notícias do fim de semana e de segunda tudo junto, e eu esqueci de falar sobre a inominável catástrofe no presídio paraense. 57 mortos e o presidente, quando pergunta, tem isso a dizer:

“Pergunta para as vítimas dos que morreram lá o que eles acham, depois que eles responderem eu respondo a vocês”  [Folha]

Para Bolsonaro, morreu foi pouca gente:

“Trata-se da maior chacina do ano dentro de presídios do país e mais um episódio da crise que atinge o sistema carcerário do Brasil nos últimos três anos, com sequência de motins com alto número de assassinatos.”

Aí você pensa que talvez o ministro da Justiça tenha palavras mais equilibradas:

“De imediato, vamos disponibilizar vagas em presídios federais para isolar os responsáveis pela barbárie. Na minha opinião, deveriam ficar recolhidos para sempre em presídios federais”

Para sempre, agora tem pena perpétua no código penal brasileiro?

E a melhro cobertura obviamente vem da Ponte:

“O Comando Classe A, chamada de CCA e aliada do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Pará, promoveu a matança de 57 pessoas dentro do Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRALT), no sudoeste do estado – o número inicial era de 52 mortos. As vítimas eram do Comando Vermelho (CV), facção do Rio de Janeiro que domina as ações criminosas no estado, mas que vem sofrendo pressões em disputas de território não apenas na capital Belém, mas em outras regiões. Pelo menos 16* presos foram decapitados e suas cabeças foram chutadas pelos membros da facção rival. A cena foi gravada e disparada via Whatsapp. A Susipe (Superintendência do Sistema Penitenciário) oficializou que os líderes das facções serão transferidos para presídios federais, com dez vagas liberadas pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, em acordo com o governador do Pará, Helder Barbalho.

Integrantes do CCA fizeram dois presos rivais de reféns para entrarem no Anexo, iniciando a matança, segundo informações oficiais da superintendência. Após matar parte dos rivais, os integrantes da facção local atearam fogo na ala, matando asfixiados os demais 33 presos e chegando ao total de 52 mortos até o momento. “Foi um ato dirigido. Os presos chegaram a fazer dois agentes reféns, mas logo foram libertados, porque o objetivo era mostrar que se tratava de um acerto de contas entre as duas facções, e não um protesto ou rebelião dirigido ao sistema prisional”, afirmou Vasconcelos, detalhando que a estrutura antiga, feita em contêiner com alvenaria, fez com que o fogo se alastrasse rapidamente.”  [Ponte]

A disputa por trás:

“O que está em jogo na disputa entre facções é a rota do tráfico de drogas. O território paraense, de predominância do CV, é estratégico para a rota amazônica, que ganhou importância depois que o PCC dominou por completo a “rota caipira”, que tem como porta de entrada Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, como explica Roberto Magno Reis Netto, mestre em segurança pública pela UFPA (Universidade Federal do Pará) e doutorando em geografia aplicada à segurança na mesma instituição.

“Embora elas tenham uma miríade de atividades patrocinadas, certamente o tráfico de drogas é o cabeça. Até por causa do caráter estratégico que a rota amazônica tem nesse exato momento no contexto nacional. Quando houve o rompimento do CV e o PCC, que atualmente é quem domina em larga escala a rota caipira, a rota que vem pelo Rio Amazonas, pelos rios locais, adquiriu uma força muito grande por meio da FDN [Família do Norte, também presente no Pará e aliada ao CV] e para a nossa região mais especificamente”, explicou Netto. ”

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4. Desmarcou compromisso oficial e foi cortar o cabelo

Ontem Bolsonaro anunciou que não deixaria o chanceler francês, em um contro marcado para horas depois, falar grosso com ele, confira comigo no replay:

“Ele não vai querer falar grosso comigo, ele vai ter que entender que mudou o governo do Brasil. Aquela subserviência que tínhamos no passado de outros chefes de estado para com o primeiro mundo não existe mais.”  

Isso foi na manhã de ontem, o encontro seria horas depois: Sim, seria.

“O presidente Jair Bolsonaro cancelou a reunião que teria com o chanceler da França, Jean-Yves Le Drian , marcada para esta tarde. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo , afirmou que o encontro não se realizou por “problema de agenda” do presidente da República. A audiência estava marcada para ocorrer às 15h, com duração de 30 minutos. Às 15h50, porém, Bolsonaro estava cortando o cabelo, o que foi transmitido ao vivo por suas redes sociais. Le Drian passou a manhã com Ernesto Araújo.”  [O Globo]

Mais humilhante que ter um compromisso desmarcado porque a outra parte foi cortar o cabelo é passar a tarde com o 4chanceler. Bem, vai ver que Bolsonaro se arrependeu do seu recuo e não quer mais acordo nenhum com a UE:

“Ao lado do ministro das Relações Exteriores , Ernesto Araújo, o chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, sinalizou, nesta segunda-feira, que seu país não terá pressa em aprovar o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE), concluído há cerca de um mês. Le Drian citou três elementos que o governo francês vai observar, ao analisar o tratado: a implementação do Acordo de Paris, o respeito às normas ambientais e sanitárias e a proteção a setores agrícolas sensíveis às importações do bloco sul-americano.”  [O Globo]

Na coletiva do porta-voz um jornalista perguntou por que diabos o presidente desmarcou encontro oficial com o chanceler francês por problemas da agenda e meia hora depois tava cortando cabelo:

“Com relação à questão de cortar o cabelo, o presidente começa a trabalhar às 4h e termina à meia noite. Há que se admitir que, em algum momento neste intervalo, ele precisa encaixar um horário para cortar seu cabelo”

Bolsonaro trabalhando de 4h à 0h?! Pra cima de mim?? E sim, o corte de cabelo é mais importante que o chanceler francês! E logo depois o porta-voz muda de versão e diz que a reunião foi desmarcada porque o Ernesto já havia se encontrado com o chanceler francês, logo não precisar haver essa reunião previamente agendada. E na sequência se contradisse: “As agendas elas foram se somando, se completando, em função disso o tempo se tornou escasso“.  Só dá retardado nesse governo, impressionante.

Folgo em saber que o Exército negou a promoção ao general, um troco por ele ter aceitado entrar no governo mesmo sendo da ativa – lembrando que ele foi o primeiro general da ativa a entrar no governo, o segundo é o coordenador político que jura ser um enviado divino.

“O porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros , passará a reserva do Exército a partir desta quarta-feira, dia 31 de julho. O ato assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro Fernando Azevedo e Silva foi publicado na edição desta terça do Diário Oficial da União. General de três estrelas, Rêgo Barros concorria à promoção para a elite da Força, mas, no final de junho, ficou de fora da escolha do Alto Comando do Exército (ACE). Na ocasião foram escolhidos para se tornar general quatro estrelas o ex-secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Valério Stumpf Trindade, e Tomás Ribeiro Paiva, ex-comandante da 5ª Divisão do Exército, de Curitiba.” [O Globo]

Foi pra reserva sem a quarta estrela, grande dia!

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5. Imagine um hacker burro

“Por meio de medidas cautelares, os investigadores conseguiram confirmar que uma empresa chamada Datora de fato transportou tais chamadas para o número do Moro. As ligações transportadas foram feitas com a tecnologia Voip, que funciona via internet, e realizadas pela empresa Megavoip. Ao criar uma conta no serviço que faz essas operações, o usuário ganha um ID (número). 

Em 4 de julho, após determinação judicial, a Megavoip recebeu a PF e forneceu os acessos aos sistemas internos, para apuração e perícia. A polícia conseguiu identificar que as chamadas feitas para o celular do ministro tinham sido feitas por um ID, registrado em nome de Anderson José da Silva. Partiram do mesmo ID, segundo a investigação, ligações destinadas para outras autoridades que tiveram contas atacadas. Após um deslize dos hackers, a PF conseguiu relacionar esse ID do suposto Anderson com um outro ID, registrado em nome de Marcelo Alexandre Thomaz.

A conta de ID ligada a Anderson foi bloqueada pela Megavoip, após pedido da empresa Datora, que informou ter recebido reclamações de chamadas suspeitas realizadas por ele.  O outro ID, vinculado a Marcelo, entrou em contato para tentar reaver o ID bloqueado, se identificando como Anderson. Dessa forma, a relação entre os IDs foi estabelecida. 

Assim, peritos identificaram que dois desses IDs realizaram 5.616 ligações em que o número de origem era igual o número de destino, relacionadas a 976 números diferentes —por esse motivo, a PF falou em um ataque a cerca de mil pessoas, entre elas autoridades. 

Ainda há uma análise em andamento sobre a atuação de um terceiro ID, também já identificado. A PF percebeu que os dados dos clientes vinculados aos IDs não eram verdadeiros e que os nomes registrados não eram os das pessoas que de fato estavam utilizando o serviço.

Para saber quem eram os reais usuários, a política teve que ir atrás dos endereços de IP, espécie de CPF dos computadores, que foram atribuídos aos computadores e smartphones que se conectaram com a empresa Megavoip no momento dos ataques. 

Três novos endereços de residências vinculados a três nomes apareceram na investigação: Danilo Marques, Marta Elias e Suelen de Oliveira.

A polícia passou a fazer um trabalho de campo para identificação dos moradores reais dos endereços. Assim, investigadores descobriram Walter Delgatti Neto como morador da casa vinculada a Danilo Marques e Gustavo Henrique como namorado de Suelen de Oliveira. Marta Elias, por sua vez, é mãe de Gustavo.”  [Folha]

E o governo se vale da inteligência do Bolsonaro pra cravar que seu celular de tiozão não foi hackeado:

“A informação de que o celular de Jair Bolsonaro foi hackeado não convenceu parte do núcleo duro do governo federal. Assessores do presidente ainda duvidam que isso tenha ocorrido, apesar da nota divulgada pelo Ministério da Justiça, comandado por Sergio Moro. Uma das razões para a descrença é que as comunicações entre Bolsonaro e essas pessoas nunca sofreram interferência nem o presidente se queixou de qualquer anormalidade.”  [Folha]

Como se o Bolsonaro conseguisse perceber um palmo a frente do nariz, inacreditável. E quem contraria o governo é o… Moro!

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6. Guedes e a incapacidade de cumprir acordos

“Diante da promessa do ministro da Economia, Paulo Guedes, de distribuir recursos aos estados após a aprovação da reforma da Previdência, o governo estuda criar travas para impedir que governadores direcionem as verbas para finalidades consideradas inadequadas. Membros do Ministério da Economia afirmaram à Folha que a pasta avalia enviar uma proposta ao Congresso neste semestre para vedar determinados tipos de gasto. O foco principal é impedir que os novos recursos, provenientes da exploração de petróleo, sejam consumidos com a folha de pagamentos de servidores públicos estaduais.”  [Folha]

Alguém acha que isso foi comunicado aos governadores?! Pois é.

“Técnicos do ministério defendem a criação das travas antes da liberação dos recursos aos estados. O argumento é que as receitas de petróleo são variáveis, sujeitas a flutuações na produção e nos valores do dólar e do barril. “

Ah vá, descobriram isso agora, foi?

“A discussão, considerada delicada pela equipe econômica, deve ser feita com a participação do Congresso, de governadores e do STF (Supremo Tribunal Federal). Para criar as exigências, é necessário aprovar alterações legais no Congresso. Ainda não há definição sobre a possibilidade de aproveitar algum projeto que já está em tramitação ou se será necessário apresentar um novo texto. A medida pode envolver alterações na Constituição, o que exigiria um número maior de votos para ser aprovada. A depender da tramitação no Legislativo, os repasses poderiam atrasar.”

A auto-estima desse governo é tocante:

“Outra proposta em avaliação na pasta e que pode ser levada ao debate no Congresso simultaneamente pretende dar mais poder aos governadores para cortar recursos de outros Poderes. Hoje, a União pode contingenciar verbas do Legislativo e do Judiciário em casos de aperto no Orçamento. A ideia é ampliar essa possibilidade para os governos regionais, que só conseguem bloquear recursos do Executivo, e não dos outros Poderes.”

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7. Porta-voz e todo seu cretinismo

Todo castigo pra general da ativa nesse governo é pouco:

Apertem o play e se deliciem, é o cúmulo do constrangimento.

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8. Roda Viva

E perigosos eram os petistas…

“O jornalista Ricardo Lessa, apresentador do programa Roda Viva, da TV Cultura, acusou a direção da emissora de fazer uma “censura velada” à entrevista com o general Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo do presidente Jair Bolsonaro. À frente do programa desde abril do ano passado, Lessa escolheu o general para protagonizar sua despedida do Roda Viva nesta 2ª feira (29.jul.2019). Ele afirma, porém, que houve uma tentativa de barrar a entrevista.

“Como eu queria fazer meu programa de despedida com o general Santos Cruz, eles tentaram me convencer a não fazer, me ligaram e, depois que eu pedi respostas em escrito de por que eu não poderia fazer, eles decidiram que poderíamos gravar”, explicou o jornalista. “Minha impressão é de que, para não dizer que foi censurado, eles botaram a entrevista para meia noite”.

O Roda Viva é transmitido todas as 2ª feiras às 22h. Na edição desta noite, porém, duas entrevistas serão transmitidas: uma no horário padrão, com o economista Bernard Appy, e a outra com Santos Cruz, à meia noite. Após exibição na TV, o programa fica disponível no canal do YouTube do Roda Viva.”  [Poder360]

A discrição mandou lembranças.

“Eu não posso dizer que é censura porque a entrevista será exibida. Mas será exibida num horário absurdo. Eles batizaram como maratona Roda Viva como se justificasse, estão vendendo como se fosse algo nobre o que é 1 ato completamente vil e indigno”, acusou Lessa.

O jornalista disse ainda que, quando anunciou a entrevista com Santos Cruz no programa ao vivo da última 2ª feira (22.jul), chegou a ouvir gritos no ponto eletrônico. “Gritaram no meu ouvido para eu não chamar a entrevista ao vivo, dizendo que não estava autorizada”, explicou.

O jornalista afirmou que essa não foi a 1ª vez que houve interferência da direção na escolha dos entrevistados. De acordo com ele, também foram barradas entrevistas com o também ex-ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) e com Marcos Truirro (secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério de Economia).”

Dória-ria-ria!

“Lessa atribui a atitude da emissora a 1 suposto “servilismo do governador [de São Paulo, João Doria] em relação ao Bolsonaro”. De acordo com ele, o governo tem influência direta na TV Cultura. “Infelizmente, a TV Cultura não consegue ter independência em relação ao governo”, disse. A TV Cultura é uma das emissoras públicas mantidas pela Fundação Padre Anchieta –Centro Paulista de Rádio e TV Educativas, uma entidade que é custeada por dotações orçamentárias do Estado de São Paulo, doações e receita própria. O Governo de São Paulo tem, portanto, certa influência sobre o conteúdo da emissora. Mas é vetado de utilizá-la para fins político-partidários, de acordo com o Estatuto da Fundação.”

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9. Tombou o ccanário da mina

Ontem foi uma confusão do caralho, com notícias do fim de semana e de segunda tudo junto, e eu esqueci de falar sobre a inominável catástrofe no presídio paraense. 57 mortos e o presidente, quando pergunta, tem isso a dizer:

“A guerra cultural está declarada. O novo ataque à liberdade de expressão ocorreu neste final de semana na cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, que tem um importante festival de inverno dedicado ao jazz e ao blues. O clima começou a pesar na madrugada de sábado (27) para domingo, quando o público xingou o presidente Jair Bolsonaro (PSL) durante o show de Gal Gosta. A cantora, segundo relatos de espectadores, manifestou satisfação e até estimulou, em alguns momentos, os gritos contra o presidente. Em seguida, a banda BNegão e o Seletores de Frequência teve o show interrompido por policiais militares após críticas duras ao presidente. O som foi cortado por ordem dos policiais.

É o terceiro caso grave de ataque a shows de música por motivos políticos e todos perpetrados por policiais militares de Estados diferentes neste ano. Durante o show, segundo relatos compartilhados no Instagram do próprio BNegão, o cantor criticou o presidente, falando contra a violência policial e contra os ataques nas aldeias Wajãpis, no Amapá. O show então foi interrompido pela Polícia Militar, segundo alguns presentes que divulgaram o episódio nas redes sociais. “A polícia chegou truculenta expulsando todo mundo”, disse uma das pessoas que assistiu ao show e que teve o relato divulgado nos stories do BNegão e registrado pela revista Fórum. Em resposta a uma conta que disse que o festival devia explicações, BNegão disse que o festival “não tem culpa no cartório”.

No entanto, a Prefeitura de Bonito se adiantou e soltou nota de repúdio à atitude dos músicos e defendendo, implicitamente, a ação policial. O prefeito Odilson Arruda Soares (PSDB) publicou a nota de repúdio nas redes sociais e no site da prefeitura. Para ele, as críticas dos artistas e dos público a Bolsonaro foram “desrespeitosas”. “Antes de tudo, é importante destacar que o evento é promovido pelo Estado de Mato Grosso do Sul e não tem viés político, sendo um festival cultural”, postou Soares.”  [UOL]

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10. Merval se superou

“Para variar, a semana foi de polêmicas para Bolsonaro, que, entre outras coisas, comentou que o jornalista Glenn Greenwald podia “pegar uma cana aqui mesmo”.”  [Folha]

Polêmicas! Merval classificou a declaração do presidente como polêmica, porra. Mas nem é esse o maior absurdo:

“No entanto, a ligação política que surgiu com a revelação, confirmada por ela, de que Manuela Dávila, ex-candidata a vice pelo PCdoB em 2018 na chapa do petista Fernando Haddad, foi a intermediária entre o hackeador e Intercept Brasil, reforça a hipótese de que a publicação desse material tem objetivos políticos.

E há coincidências que não podem ser evitadas. O hacker Walter Delgatti Neto diz que procurou Manuela DÁvila no dia das mães, 12 de maio. No mesmo dia, Glenn Greenwald entrou em contato com ele pelo Telegram. Nove dias depois, a 21 de maio, Glenn Greenwald esteve visitando Lula na sede da Polícia Federal em Curitiba, para fazer uma entrevista com ele, que havia sido autorizada pela Justiça no início do ano. É certo, portanto, que Greenwald já tinha o material quando conversou com Lula na cadeia.  No dia 9 de junho, dezenove dias depois da entrevista, o Intercept Brasil começa a divulgar as conversas hackeadas.”

Pelo menos o mesmo Merval diz que a entrevista estava marcada MUITO antes do hacker entregar as mensagens:

“No fim do mês de abril, no dia 27, uma entrevista com Lula foi publicada pela Folha de S. Paulo e o El País e, como se fosse premonitório, o ex-presidente garantiu ter (…) “obsessão de desmascarar o Moro, de desmascarar o Dallagnol e a sua turma”.”

Ora, Lula SEMPRE mostrou essa obsessão, desde o primeiro dia, Merval! Porra, vai ser desonesto assim lá na casa do caralho! E ainda se vale de ironia:

“Uma pergunta que não quer calar: será que nas conversas de Dallagnol com outros procuradores, ou mesmo com Sérgio Moro, não havia um espaço para troca de informações sobre outros casos da Lava Jato que não os relacionados ao caso de Lula?  Delgatti Neto disse também que entrou nas conversas sobre a Operação Greenfield em Brasília, que apura desvios em fundos de pensão. Pelo seu relato, não encontrou nada de ilegal nas conversas,  por isso não se interessou. Que estelionatário mais preparado esse, que sabe onde há supostas irregularidades processuais, e sabe onde não há. “

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11. Para embaralhar as sinapses

Dois baitas textos, começo com Sílvio Pedrosa intitulado “o Bolsonarismo vai seguir marchando“:

“Estamos quase no oitavo mês de governo Bolsonaro. Um governo eleito com manifestações relativamente grandes contra si e sobre o qual tudo se falou e discutiu: sua agenda econômica liberal, seu conservadorismo social e cultural, suas inclinações autoritárias, sua sanha policialesca e punitiva, etc.. Desde antes das eleições há uma aposta de setores da elite política e intelectual do Brasil (que se estende da direita à esquerda) na conformação de Bolsonaro aos limites da democracia liberal. Primeiro, Bolsonaro não iria ao segundo turno. Quando foi ao segundo turno (conjuntura ideal para alguns estrategistas do lulismo, incluindo-se aí o próprio Lula), não seria eleito. Quando foi eleito, teria dificuldades para governar (Dirceu, outro gênio encarcerado pelo próprio brilhantismo, o disse).

No início de seu governo, a opinião pública que se movimenta pelas redes gargalhava, um pouco por desespero, mas sobretudo por acreditar que a liturgia do cargo lhe dobraria e que sua falta de traquejo institucional condenaria seu governo a uma brevidade inédita (em seu cinismo, os pavões da esquerda ilustrada chegou a acreditar que Renan Calheiros fosse a salvação). Salvo engano, não há mais ninguém rindo entre nós. Mas a aposta enganosa permanece e sonha-se agora com o impeachment do presidente… por ter falado o que ele sempre falou.

O fascínio que Bolsonaro desperta nos seus opositores, sobretudo entre as esquerdas e os liberais que acreditam no que dizem, é ter se descoberto representativo, ter virado de ponta cabeça o discurso das esquerdas contra elas mesmas. Pior, foi ter descoberto que era possível representar o até então irrepresentável. Assim como seus congêneres estrangeiros (Trump, Salvini, Orbán e cia.), Bolsonaro e o bolsonarismo fissuraram a represa institucional dos valores liberais democráticos e mudaram completamente o terreno onde se trava a luta política. Nesse sentido especificamente, o bolsonarismo é o herdeiro da energia social de junho de 2013. Uma energia social que após ser rejeitada pelas esquerdas e direitas tradicionais (que só pensavam em colocar o demônio de volta na garrafa para voltar aos negócios), encontrou em Bolsonaro o outsider que pedia.

Com o cadáver da Nova República em cima da mesa, cada viúva culpa aquela que está ao seu lado, mas são todas cúmplices. Essa fissura não é obra de um governo ou acontecimento, mas a resultante do fato de que todos os governos civis foram sócios dos gestores da violência social no país. Na transição para um novo arranjo social, econômico e institucional, a barragem arquitetada por senhores que nunca andaram de ônibus numa grande metrópole desmoronou e os profissionais da violência como forma de regulação se assanharam.

O bolsonarismo venceu politizando tudo, dizendo tudo e polarizando tudo (“pós-política” talvez fosse uma categoria útil para falar do governo FHC, mas alguns analistas tem essa qualidade: estão sempre décadas atrasados). O bolsonarismo é um fenômeno de mobilização não apenas da sociedade em geral, mas da própria esquerda em particular — e não se passa um dia sem que a pauta seja alguma declaração do presidente (por mais esperada que ela seja, há o horror que ele tenha a coragem e o desplante de falar o que sempre falou “como” presidente). Àqueles que se agarram ao poder performativo da linguagem para defender seu próprio fascínio, talvez fosse necessário lembrar que os documentos e diretrizes oficiais também tem lá seu poder de performance.

O sonho das elites políticas e intelectuais de isolar Bolsonaro, apostando em qualquer arquitetura institucional, frente ampla ou mobilização das instituições é um delírio. Pode funcionar por um golpe de sorte, mas será uma vitória de Pirro. O bolsonarismo tem uma vantagem significativa sobre o lulismo (aquele fenômeno cujo intelectual porta-voz anunciou que duraria décadas, um pouco antes de escrever sobre sua crise…): ele mobiliza e arrasta os vetores de um arranjo social que são passado, presente e principalmente o futuro. A guerra não é um incômodo passageiro, é o futuro da gestão social e institucional do capitalismo. Não estamos voltando ou retrocedendo. Estamos na vanguarda da nossa época.”  [Facebook]

Pra fechar, Caio Almendra:

“Existe um ditado sobre pôquer bastante sábio: sempre que você entrar em uma mesa, procure quem é o trouxa dessa mesa. Se você não encontrar, saia da mesa, o trouxa é você.

Eu queria sugerir uma outra aplicação para esse ditado: a economia libidinal. Em palavras mais simples, eu queria sugerir a paródia: sempre que você ver uma situação de perversão, questione-se quem está gozando. Se você não descobrir, cuidado, o perverso é você.

A ideia na verdade é bem simples. Pensemos o BDSM como exemplo. Por que existem sádicos e sádicas profissionais, pessoas pagas para causar dor física em masoquistas, e não masoquistas profissionais? Bem, à primeira vista a resposta poderia ser que o causar dor física é perigoso e deve ser feito com cuidado. Mas não é só isso. Pelo que se paga uma dominatrix?

Um sádico ou sádica competente é alguém que reprimiu intensamente o próprio gozo em nome do gozo do outro. Considerando que ele está com o completo domínio da situação, um sádico afobado não interessa ao masoquista e à prática de BDSM. É o retardamento do gozo do sádico que permite o gozo do masoquista. E, consequentemente, entendemos o sádico profissional: ele é pago não para causar dor mas para não gozar tempo o suficiente que a dor gere o gozo do masoquista.

E por que diabos o cara chato que escreve textão sobre política na minha timeline está falando sobre dominatrix?

Bem, a mesmíssima lógica vale para narrativas perversas. Uma história pode ser montada de tal forma que explique como o exercício do gozar pode ser perverso com o outro. São os grandes contos morais que nos contam como o gozo de um é a dor do outro.

Mas existem aquelas outras histórias sobre uma economia libidinal mais esquisita onde ninguém goza, ninguém verdadeiramente se aproveita da situação, e muita dor é infligida(e percebida como dor: não é como o masoquismo, onde a dor é percebida como gozo). São histórias onde sádicos torturam sem prazer mas não há gozo na vítima.

Nesses casos, quem está gozando nessa história não é um personagem mas o telespectador. Ninguém está gozando na mesa de pôquer, logo o gozante deve ser você.

Eu podia citar o exemplo óbvio de O Conto de Aia, onde a distopia do totalitarismo patriarcal é retratada sem um mísero homem gozando ou curtindo os poderes sociais extraordinários que eles exercem. Parece ser possível criar um mundo repleto de sadismo mas onde ninguém goze sadicamente. A opressão, assim, vira uma questão de luta pela sobrevivência e não o exercício abusivo do prazer de um sendo a dor do outro. Sem gozo dos homens, a história acaba por definir o grande vilão como a tragédia ambiental e a baixa taxa de natalidade. Ambas alternativas são aberrantemente conservadora: a última acaba enviesando a discussão sobre a reprodução para um frame esquisito onde os direitos reprodutivos ameaçam a continuidade da espécie(como afirma o fundamentalismo cristão); a primeira entende a salvação ecológica como uma fonte de opressão e não de oportunidade de construção de uma nova sociedade. Novamente, ela ressona com o pior do discurso conservador sobre o tema: “isso de ecologia é feito por gente chata que quer retirar os prazeres da sua vida”.

Mas, citar Conto de Aia é pedir para ter que responder agressões bizarras de redes sociais, então vou citar Project X. De novo.

No filme, três adolescentes criam a mais épica festa. Porém, a permanente preocupação entre a festa ser um fracasso e a festa passar dos limites jamais permite que eles gozem da festa. Os personagens que gozam da festa sequer tem nome ou falas. Até os personagens secundários com falas estão putos ou tristes. O filme, contudo, é retratado como um filme de terror: o vilão é o zelo pelo gozo.

Mas quem está gozando com todo o desespero dos três adolescentes? Bem, se você não achou o trouxa da mesa de pôquer, o trouxa é você. Além de te lembrar que o gozo de um pode ser a dor do outro, o filme te coloca na posição do perverso. E nessa posição você percebe que o sonho contemporâneo do “viver cada momento ao máximo” é uma forma de opressão.

E por que diabos o cara que escreve textão chato sobre política na minha timeline resolveu parar de falar de BDSM para elogiar um american pie obscuro?

Bem, por que hoje o Jair Bolsonaro abriu a boca para falar palavras extremamente cruéis. Eu não consigo imaginar o que seja perder o pai aos dois anos de idade e ouvir deboche do presidente da república a respeito da morte dele. O filho tinha dois anos quando o pai morreu, por que fazer isso?

A resposta fácil seria dizer que Bolsonaro é perverso, o que é uma inegável verdade. Mas uma verdade que não me basta hoje.

Eu quero discutir como alguém que vive da popularidade consegue ser perverso em público sem dificuldades. Notem, o pior da situação que vivemos é a capacidade do teatro político nos colocar na posição do perverso. É esse fascínio com ver a crueldade, a dor e perversidade que Bolsonaro utiliza para falar o que falou hoje.

E aí é que está a pior parte da história toda: com a espetacularização de tudo e com a arquitetura das redes sociais que fortalece a polêmica e o polemista, não é fácil combater a difusão da crueldade. Justo o oposto: a maioria das ações tendem a apenas fortalece-la.

Entendendo que uma parcela da população mantem essa capacidade de gozar ao ver o “grande líder” gozar da dor alheia, como fazemos para combater a crueldade? A crítica é mais uma forma de espetáculo da dor.

Não há resposta fácil.

P.S.: O Cian Barbosa escreveu uma conclusão que não consegui dar:

“Tem uma pegadinha aí. Quando a gente se dói com as declarações e parte pra apontar a aflição e sofrimento que elas enaltecem e convocam, também entramos nessa economia de gozo.

Goza o perverso sádico que concorda com ele e diz que o cara era um extremista mesmo e terrorista tem que ser trarado assim – e é pra essa galera que ele tá falabdo também -, mas gozamos nós também pela via do estranhamento, do sofrimento, da dor (quase em um sentido masoquista).

Coloca a esquerda pra suplantar sua imagem de bela alma. Impele a gente a reagir a isso, e inibe de agir por algo efetivamente contra isso.”  [Facebook]

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>>> Toda a tosquice do Boris Johnson é milimetricamente calculada, ao contrário de Trump e Bolsonaro – a parte do ônibus me deixou boquiaberto:

>>> Taí, agora eu aplaudo o inaplaudível Dória: “O governador João Doria, de SP, autorizou pessoalmente que a PM usasse um de seus helicópteros Águia para transportar o ex-governador Alberto Goldman (PSDB-SP) de São José dos Campos a São Paulo no fim de semana. Ele teve uma queda de pressão arterial.”  [Folha]

>>> Eu sou time Frota: “O senador Major Olímpio (PSL-SP) entrou com representação no comitê de ética do partido contra Alexandre Frota (PSL-SP). Ele diz que vai processar o deputado por danos morais. Motivo: uma série de tuítes publicados na semana passada. Neles, Frota diz que o senador instalou “uma milícia de ex-PMs” no PSL. Sobre a pressão de Olímpio, o deputado diz que mostrará que ele e a deputada Joice Hasselman (PSL-SP), sua aliada, não estão isolados no partido.”  [Folha]

>>> Vai vendo: “A condução das negociações com caminhoneiros tem deixado empresários inquietos. Além do tabelamento do frete, dizem, o ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura) debate pactuar margem de lucro e cota obrigatória de contratação de autônomos. Há críticas a “medidas intervencionistas” e que possam dar margem à caracterização de cartel.”  [Folha]

>>> Alô, Allan do terça Livre! “O TCU abriu um processo para investigar quais são os critérios adotados por Jair Bolsonaro para na partilha das verbas de propaganda. O procedimento foi instaurado a partir de uma reportagem em que o portal “UOL” identificou aumento de 63% nos gastos do governo com propaganda no primeiro trimestre deste ano, em comparação aos três primeiros meses de 2018. O Palácio do Planalto, porém, contesta o número e sustenta que a gestão Bolsonaro diminuiu em 60% o montante gasto no período em questão.”  [O Globo]

>>> Um retrato dos tempos atuais:

 

 

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